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Por Alfonso


Passei o resto da manhã e o início da tarde imerso em papéis importantes que precisavam de uma olhada. Mas, invariavelmente, meus pensamentos sempre se voltavam para a nova moradora do meu andar. Apesar de fisicamente ser o completo oposto do que eu imaginara, sua postura não diferia em tanto da imagem soberba e auto-suficiente que eu fizera dela. Se não fossem os trinta anos a menos, a falta de cabelos brancos e o corpo escultural, eu teria acertado em cheio.

Me permiti sorrir enquanto batucava a caneta sobre a mesa, num tique já reconhecidamente meu, principalmente quando me punha pensativo.

Havia descoberto mais cedo, antes de sair para o trabalho, como quem não quer nada em uma conversa despretensiosa com Thomas, o porteiro da parte da manhã, que a ruiva não moraria ali. O apartamento havia sido comprado por Ana, e a pequena confusão da entrada se dera porque ela tinha um cachorro de porte grande, um golden retriever, o que não era permitido no prédio. No fim, Dulce se encarregaria de ficar com ele por um tempo, até que ela decidisse o que fazer.

Porém, algo me dizia que ela não se contentaria com menos que um livre acesso total para o cachorro. E era óbvio que, neste caso, eu iria me opor. Tanto pela oportunidade de vê-la irritada pessoalmente e algo também me dizia que aquela seria uma visão dos deuses , como por uma questão de justiça. Se animais não eram permitidos, animais não eram permitidos. Sem exceções. E, cá entre nós, qual é a real utilidade de um bicho de estimação? Te fazer sofrer quando, depois de ter se apegado o suficiente, acabar tendo de dizer adeus quando ele morrer por alguma fragilidade qualquer? Inutilidades do ser humano.

Além do mais, no que se referia ao animal de estimação em análise, ela seria minha vizinha de apartamento e eu definitivamente não gostaria de ser acordado às três da manhã com o latido de uma bola de pelos raivosa.

Fui tirado dos pensamentos pelo toque do telefone, ali ao lado.

Andy: senhor, senhorita Schmit na linha pessoal.

Praguejei mentalmente. Havia esquecido completamente de Melanie.

Alfonso: obrigado, Andy. Pode passar - o som da ligação sendo transferida foi ouvido enquanto Andy desligava o aparelho da recepção. - Ei, meu anjo - cumprimentei cuidadoso.

Melanie: Poncho, o que você fez comigo não se faz com mulher alguma, sabia? - respondeu de pronto, num muxoxo afetado. E eu não consegui conter o riso.

Alfonso: Mel, eu estava atarefado até o último fio de cabelo - menti. Me perdoe, anjo, realmente esqueci de ligar.

Melanie: tudo bem, tudo bem - acatou com um suspiro teatral. - Como você está?

Alfonso: exausto - quando eu havia me convertido em um mentiroso tão cara de pau assim? - E você?

Melanie: entediada - lamuriou-se. - Poderíamos resolver nossos problemas juntos, que tal? - ofereceu, direta. - Você janta aqui em casa, peço uma comida gostosa pra gente, depois te faço aquela massagem indiana que só eu sei fazer - pausou, propositalmente. - Sua exaustão vai para o espaço num minuto, levando consigo meu tédio completo e irremediável.

Eu não podia negar que aquela era uma proposta realmente muito tentadora. Melanie era o que se podia chamar de colírio para os olhos. Morena e com as curvas milimetricamente no lugar, tinha os olhos verdes mais intensos que eu já havia visto. Juntamente com a massagem que ela sabia fazer, era uma verdadeira perdição para qualquer homem. Porém, já o fora mais para mim. Principalmente quando ainda não jogava indiretas sobre querer aprofundar se é que você me entende a relação. Ela era linda, carismática, boa de cama, mas queria dar o outro passo. Queria me amarrar. E, definitivamente, aquilo me broxava totalmente. Eu ainda não estava pronto para pôr a mordaça e partir a passos próprios para a forca.

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora