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Quando Dulce apareceu, eu continuava no mesmo lugar. Encolhida no sofá, as pernas envolvidas pelas mãos e o coração em frangalhos. Mas já não chorava. Acho que as lágrimas haviam secado.

Levantei somente quando ouvi a campainha tocar. Obriguei-me a me arrastar até a porta e abrí-la. Dulce me olhou e aquele olhar de pena fez com que minha angústia aumentasse. Voltei para o sofá. Ouvi quando ela fechou a porta e seguiu até a cozinha, sem dizer nada. Voltou de lá com dois pratos, copos e garfos, juntamente com as sacolas de plástico que tinha penduradas no braço.

Dulce: trouxe pra gente - largou tudo sobre a mesinha de centro, enquanto eu meneava a cabeça.

Anahí: não estou com fome.

Dulce: mas vai comer. Já passou da hora do almoço e aposto minha bolsa Dolce & Gabbana nova que você ainda não colocou nada nesse estomago hoje.

Infelizmente ela tinha razão. Não seria daquela vez que eu teria uma bolsa nova. Suspirei.

Dulce organizou tudo, abriu as embalagens com comida e despejo-as nos dois pratos. Eu não tinha mesmo fome, mas forcei-me a comer (ou fingir que comia) só para não discutir. Bastava de discussões para aquele dia, minha cota já tinha extrapolado. Naquele meio tempo, ela nem tocou no assunto Alfonso, provavelmente com medo que eu tivesse uma nova crise de choro, agora ali, na sua frente. Falou sobre a viagem, uma ideia nova para sugerir na reunião de pauta da próxima semana e até mesmo sobre sua nova bolsa Dolce & Gabbana. Contudo, durante toda aquela conversa superficial, eu esperava o momento em que ela, invariavelmente, acabaria tocando no nome dele. E era óbvio que ela o faria. Portanto, quando aconteceu, aquilo nem me surpreendeu.

Dulce: e então, quer conversar sobre... - jogou as palavras, enquanto deixava o prato quase vazio sobre a mesa de centro. - Você sabe.

Anahí: pensei que você não fosse perguntar - [i]mentira[/i].

Dulce: foi tão ruim assim? - fez uma careta.

Anahí: não - respondi. - Foi pior.

Ela pareceu sem jeito, e aquilo quase me fez sorrir. Durante todo aquele tempo de amizade, nunca a havia visto sem graça de tocar num assunto comigo, toda cheia de dedos e cuidados. Tá certo que ela também nunca havia me visto daquele jeito, realmente sofrendo por alguém, mas não importava.

Dulce: quer me contar...?

Eu suspirei.

Anahí: nós dormimos juntos ontem, depois do jogo - ela entreabriu os lábios, surpresa, levando uma mão a eles. E eu poderia apostar mil bolsas novas que se eu não estivesse tão mal, ela já teria provavelmente soltado alguma piadinha maliciosa besta sobre aquilo. - Hoje cedo eu deixei-o dormindo e fui tomar banho. Quando voltei, ele estava com minha passagem em mãos e já tinha descoberto tudo.

Dulce: caramba - murmurou. - Ele mexeu nas suas coisas e achou a passagem?

Anahí: eu não sei como aconteceu, só sei que ele estava com ela, e me atacou, querendo saber o que aquilo significava.

Dulce: que burro - revirou os olhos. - O que poderia significar?

Anahí: pois é - desisti de tentar fingir que comia e larguei o prato ao lado do dela. - E aí nós discutimos, ele se alterou, eu não consegui me controlar também e... enfim.

Dulce: mas o que ele disse? - perguntou, curiosa. - Digo, ele disse algo sobre o passado? Sobre o porquê de ter feito aquilo?

Anahí: não - recostei-me no sofá e voltei a enlaçar os joelhos. - Eu não deixei. Está mais do que claro o porquê dele ter feito aquilo, Dulce. Eu não queria ouvir mais mentiras. Já bastava a que ele começou tentando contar.

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora