60

3.4K 190 7
                                    

O vento batia em meu rosto enquanto eu caminhava sem rumo após ter saído de casa me esgueirando para não ser vista. Por sorte, todos estavam ocupados demais com os preparativos da festa para notarem minha presença. Ou meu estado lastimável.

I've found out a reason for me

Eu encontrei uma razão para mim

To change who I used to be

Para mudar quem eu costumava ser

A reason to start over new

Uma razão para começar de novo

And the reason is you

E a razão é você

Meu rosto estava inchado, os olhos e nariz vermelhos pela crise de choro que eu não havia conseguido conter ao ouvir Poncho falar, ao reviver toda aquela história que fora minha vida por tanto tempo. História que me fizera mudar, que me tornara mais forte e me instigara a crescer. O passado conturbado que eu tinha vivido naquela cidade tinha feito de mim o que eu era hoje. Melhor, Alfonso tinha feito aquilo. Eu era o que era graças à ele.

Prendendo um suspiro, levei uma das mãos aos lábios. Eu ainda podia senti-lo ali, quente, me tocando. As imagens daquele beijo rodavam em minha cabeça. E suas palavras ecoavam sem cessar. Indo e vindo, como se quisessem me convencer de que eram verdadeiras. Apertei os olhos. Eu tencionava a acreditar que elas eram. E então as vozes de Maite e Ruth juntavam-se ao coro, numa tentativa sagaz de destruir toda a imagem firmemente enraizada que eu tinha dele, o Alfonso do meu passado. Quem poderia contra aquilo?

Acho que eu não mais.

-

I've found out a reason to show

Eu encontrei uma razão para mostrar

A side of me you didn't know

Um lado meu que você não conhecia

A reason for all that I do

Uma razão para tudo o que eu faço

And the reason is you

E a razão é você

Continuei andando por um bom tempo, pensando no que faria quando voltasse e tivesse que encará-lo outra vez. Eu seria capaz de perdoar? Mais, se o fizesse, eu seria capaz de esquecer? Completamente? Ou aquilo nublaria nossa história para sempre, servindo como uma arma em minhas mãos para que eu o atacasse sempre que a situação ficasse complicada?

Eu o queria – diabos, como eu queria! Mas eu seria capaz de esquecer?

Quando voltei para casa, cerca de meia hora depois, vi uma movimentação que não existia quando saí. Alguns carros estavam estacionados no amplo quintal e o burburinho só aumentava na medida em que eu ia me aproximando da varanda de entrada. Os convidados estavam chegando. Muitos convidados estavam chegando.

Assim que entrei, a voz de Ruth soou estridente em meus ouvidos. Eu a busquei com o olhar.

Ruth: olhem, aí está ela! – riu, animada, mostrando-me para as duas mulheres de meia idade paradas ao seu lado. – Eu já estava me perguntando onde você havia se metido, querida! – Aproximou-se, as duas em seu encalço. Passei a mão no rosto, tentando inutilmente melhorar meu aspecto. – Veja, estas são Donna e Maggie, irmãs de Armando.

Anahí: olá – cumprimentei-as, com um pequeno sorriso educado. – Eu tinha ido dar uma volta.

Maggie: nós estávamos ansiosas para conhecer a mãe de nosso primeiro sobrinho-neto! – sorriu de volta, apertando-me em um abraço inesperado. – Mas ela é mesmo linda, não Donna? Ruth não estava exagerando.

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora