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"E me dá uma saudade irracional de você. Uma vontade de chegar perto, de só chegar perto, te olhar sem dizer nada, talvez recitar livros, quem sabe só olhar estrelas... dizer que te considero - pode ser por mais um mês, por mais um ano, ou quem sabe por uma vida - e que hoje, só por hoje ou a partir de hoje (de ontem, de sempre e de nunca), é sincero."

Alfonso: caramba - o murmúrio dele me tirou abruptamente de todas aquelas lembranças. Desviando os olhos, tentei me desfazer daquela foto. Ele impediu, tocando minha mão. Foi um toque simples, sem nenhuma outra intenção a não ser impedir meu gesto, mas que acabou causando um calafrio em minha nuca. Corri os olhos entre os dele e sua mão. Entendendo, ele a afastou. - Eu só... posso ver?

Anahí: Poncho... - adverti, embora sem muita firmeza, mas ele não disse nada, só manteve os olhos nos meus. Contendo um suspiro, eu acabei me rendendo. - Você não deve lembrar desse dia - disse, tentando demonstrar indiferença.

Você é tudo o que eu pensei que nunca seria

E nada como eu pensei que poderia ter sido

Mas, ainda assim você vive dentro de mim

Então me diga como é isso?

Uma indiferença que eu não sentia.

Ele pegou a foto, ignorando meu comentário. Eu fiquei observando enquanto ele olhava atentamente para a nossa imagem impressa ali. Quem visse, acreditaria, sim, que não passavamos de um casal feliz de namorados, sem nenhuma tramoia ou armadilha montada. E por mais que eu soubesse que aquele não era o caso, naquele momento, só naquele momento, eu não sentia raiva. Não sentia desprezo ou qualquer um daqueles muitos sentimentos negativos que gerara em mim um enorme desejo de vingança. Eu só sentia... saudade. Uma saudade absurdamente dolorosa do que eu nunca vivi e poderia ter vivido se aquilo que um dia tivemos não tivesse passado de uma mentira.

Inesperadamente um sorriso se abriu em seus lábios. Ele passou um dedo de forma carinhosa na fotografia e me encarou.

Você é o único que eu desejo poder esquecer

O único que eu adoraria não perdoar

E mesmo que você quebre meu coração

Você é o único

Alfonso: nós fomos ao parque, você brigou comigo porque eu tinha te comprado um capacete, eu fiquei encantado com aquilo como, aliás, ficava encantado com qualquer coisa que você fazia - puxou o canto dos lábios, um trejeito engraçado. - Quando estávamos indo embora, eu vi a máquina de fotografias e consegui te convencer a ir até lá, embora você tivesse verdadeiro pavor de fotos. Tiramos um monte, mas essa... - olhou de novo para a foto, para logo depois voltar a me encarar - Essa foi a que eu mais gostei.

Eu estava completamente apática, tomada pelas sensações perturbadoras de ouvir tudo aquilo que ele dizia. Talvez tenha sido por isso que não percebi quando ele moveu as mãos e, com uma delas, começou a acariciar meu rosto de leve com o polegar.

Embora haja momentos em que eu te odeie

Porque eu não posso apagar

As vezes que você me machucou

E pôs lágrimas em meu rosto

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora