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Uma semana depois...

Uma semana depois eu estava colérica! Tipo, muito irritada mesmo. Era domingo e eu tinha decidido - na verdade a palavra correta seria necessitado - sair cedo para comprar algumas coisas que faltavam em casa. O tempo estava frio e, enfiada em um moletom quentinho, eu esperava as duas pessoas à minha frente na fila do caixa passarem com seus monstruosos carrinhos abarrotados de compras. Parecia que iam suprir um verdadeiro exército de esfomeados por um mês! Deixando o carrinho com minhas poucas compras atrás delas, parei ao lado da gôndola de revistas e passei os olhos pelas que mais me atraiam sempre. Vocês sabem, Vogue, People, InStyle, bem, e todas as outras daquele tipo. Mulheres extremamente magras e elegantes me saudaram da capa e aquilo me deprimiu. Veja bem, elas eram magras e elegantes. Enquanto eu... bem, me desviei daquelas revistas ao mesmo tempo em que desviava meus pensamentos da direção obscuramente perigosa que tomavam. Com isso, acabei esbarrando na capa da Star, que tinha uma foto enorme da Oprah como matéria principal. Menos mal. Mesmo gorda, eu ainda estava melhor que a Oprah. Sorrindo exultante com aquela constatação, corri os olhos pelas demais manchetes da capa. E aí minha atenção logo se prendeu na margem inferior onde, pasmem, eu me vi. Sim, uma foto minha, encabeçando uma pequena nota que dizia: ''Aquilo por que tanto esperávamos aconteceu: descobrimos quem é o misterioso pai do filho que Ana Nicholls ainda tenta nos esconder''. Meu sorriso morreu instantaneamente. E sabem aquela irritação que mencionei no inicio? Ela começou a aparecer - e a aumentar vertiginosamente - quando eu abri a revista e li a tal matéria. E vi fotos minhas e de Poncho no Central Park semana passada. E olhei a forma como eles tinham descrito o momento em que ele impedira que Peg me derrubasse de forma completamente deturpada, para não dizer mentirosa!

A fila andou e a garota que estava atrás de mim me cutucou. Com um aceno de cabeça agradeci e empurrei meu carrinho, a revista em punho e os nervos em erupção. Cada novo trecho que lia me enfurecia mais um tantinho. A matéria era completamente jocosa e, assim como a primeira nota comentando minha possível gravidez alguns meses atrás, eles ironizavam toda aquela imagem feminista que criaram de mim ao logo daqueles anos na frente do GMNY. As informações eram tendenciosas, e numa das notinhas de centro de página, lia-se: ''Pelo visto a entrevista de Herrera ao GMNY rendeu frutos. Ana fisgou mesmo o bonitão!''

Contendo um impropério, fechei a revista e a joguei dentro do carrinho de compras. Aquilo estava se tornando insustentável. Olhei em volta, paranoica, achando que as pessoas olhavam para mim. Entretanto, além de uma menininha beirando os dois anos que me fitava distraída do colo da mãe, ninguém parecia sequer ter notado minha existência. Suspirei, apertando os olhos. Aquilo precisava terminar. Logo.

Por Alfonso

Eu ainda estava sonolento quando a campainha tocou naquela manhã. Passava pouco das dez, e eu havia me permitido dormir até um pouco mais tarde naquele domingo, já que aquele tempinho frio não inspirava de forma alguma grandes feitos dominicais. Tinha acabado de sentar à mesa e cumprimentar Maite quando o barulho fez com que trocássemos um olhar preguiçoso: quem atenderia a porta?

Maite: a casa é sua.

Alfonso: só nesses momentos, não é? - ela deu de ombros, sorrindo. - Tudo bem, tudo bem - disse com um suspiro, levantando. - Eu abro.

Segui até a sala, olhando em volta à procura de meus chinelos. Achando-os jogados perto do sofá, calcei, enquanto a campainha tocava outra vez, impaciente.

Alfonso: calma! Já vai, já vai!

Quando abri a porta, Anahí entrou como um furacão. Aturdido, mal tive tempo de dizer olá antes que ela passasse por mim, os pés batendo pesadamente no chão.

Alfonso: ei, bom dia - saudei depois de fechar a porta e me virar para ela, que parecia realmente pouco calma. - O que aconteceu?

Anahí: você viu isso? - estendeu a revista que segurava para mim, balançado a cabeça negativamente. - Eu odeio toda essa parte sensacionalista da imprensa - grunhiu. - Eu realmente odeio toda essa parte sensacionalista da imprensa!

Pegando a revista, deparei logo de cara com uma foto minha e de Anahí do fim de semana passado, no Central Park. Eu a envolvia pela cintura, no que não havia passado de uma tentativa de protegê-la de Peg, mas que, para quem olhasse daquele ângulo, do ângulo do fotografo da revista, provavelmente devia significar muita coisa mais. Em seguida, corri os olhos para o título da matéria: ''Finalmente revelada a identidade do pai do filho que Ana Nicholls espera''. Não precisei ler o resto para entender o motivo de toda aquela agitação de Annie. Suspendendo os olhos, suspirei.

Alfonso: fica calma. Você sabia que isso uma hora ia ter que acontecer.

Anahí: uma hora ia ter que acontecer? Uma hora ia ter que acontecer, Alfonso?!

Alfonso: não ia? - franzi o cenho, sentindo que toda a fúria que ela tinha pela revista começava a ser desviada para mim. - Ou você acha mesmo que conseguiria esconder essa gravidez pelos próximos cinco meses?

Maite: quem era, Ponch... - parou ao se deparar com Anahí ali. - Ei, Annie - cumprimentou com um sorriso que se desfez aos poucos ao não encontrar resposta. - Tudo bem?

Estendi a revista para ela.

Maite: caramba. Eles descobriram.

Alfonso: pois é. Você sempre sagaz.

Ela mostrou a língua, mas meus olhos estavam mais interessados em Anahí e seu destempero momentâneo.

Alfonso: Annie - ela suspendeu os olhos, me encarando. - Calma - disse somente, tentando tranquilizá-la com o olhar e o tom de voz mais sereno que eu possuía.

E eu estava quase conseguindo. Até Maite interromper, brilhantemente.

Maite: e agora? Ferrou! O que vocês vão fazer?

Anahí balançou a cabeça, voltando a andar de um lado para o outro, parecendo raivosa.

Alfonso: obrigado, Maite - debochei, com um suspiro. - Muito obrigado.

Com uma pequena careta, ela pediu desculpas.

Maite: por que vocês não jogam logo tudo no ventilador? - perguntou, daquele jeito despojado que lhe era de praxe. - Quer dizer, uma hora eles teriam que saber mesmo. Quanto mais vocês esconderem, mais eles vão vir atrás, mais vão criar caso, perturbar - deu de ombros.

Eu concordava completamente com ela, mas aquela ainda era uma decisão de Anahí. Ela era a mais envolvida na história, a mais afetada e a mais comentada. Bem ou mal, eu não era da mídia, não tinha uma carreira nesse meio nem pretendia ter. Estava nela pelo prêmio da People, mas sairia dela tão fácil quanto havia entrado, voltando a, no máximo, figurar algumas colunas sociais de vez em quando. Anahí não. Aquele era o seu negócio, aquela era a sua vida. Apesar de ser tão responsável quanto ela por aquela criança, eu sabia que a decisão final sobre como tornar aquilo público cabia única e exclusivamente a ela.

Anahí: eu não sei se estou pronta para lidar com isso - murmurou, a raiva parecendo dar lugar a confusão. Ela não me encarou nem à Maite ao dizer aquilo, deixando clara toda a insegurança que devia estar sentindo.

Com um olhar, tentei pedir, sem palavras, que Maite nos deixasse sozinhos. Ela entendeu e se retirou. Eu me aproximei de Anahí.

Alfonso: independente do que você resolva fazer, saiba que eu vou estar ao seu lado.

Ela levantou os olhos. Após me encarar em um silêncio apático por alguns segundos, balançou de leve a cabeça, concordando.

Alfonso: você não acha que Maite tem razão? Quanto mais você tentar esconder, mais eles vão procurar. Não é melhor dizer logo tudo?

Anahí: tudo o quê? - perguntou, a amargura enchendo sua voz. - Que eu sou uma farsa? Que prego uma coisa, mas faço outra completamente diferente? Que estou grávida e que, olha que maravilha, o pai do meu filho é uma antiga paixão da adolescência, o cara que mais me fez sofrer na vida. Um tanto patético, até mesmo para mim não acha?

Aquilo me acertou em cheio. Aquelas palavras me atingiram como um tapa bem dado no rosto. Encarando-a, eu perdi momentaneamente a capacidade de revidar.

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora