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Eu não acreditei quando pus os pés dentro daquele apartamento outra vez, sendo convidado, e mais, convidado com aquelas intenções que nós sabemos bem quais são, por Anahí. Ela era uma caixinha de surpresas e, embora na maioria das vezes aquilo me exasperasse, eu não podia negar que daquela vez não havia nada de exasperante na forma como eu me sentia. Muito pelo contrário. Ela agia de tal forma desde que saímos daquela boate que, se eu esquecesse nossos últimos encontros, em nenhum momento acharia que era a mesma pessoa.

Ela parecia querer provar alguma coisa. O que, eu sinceramente ainda não tinha descoberto.

Mas, ok, sejamos justos. Talvez ela tivesse simplesmente decidido fazer o que tinha vontade. E nós também sabíamos bem o que era isso.

Anahí: em que está pensando? - olhem, uma conversa amigável. Estranho.

Virei para ela a tempo de vê-la despir o casaco e jogá-lo sobre o sofá. Fui brindado com um pequeno sorriso, um sorriso quase sem jeito, e aquilo era ainda mais estranho.

Alfonso: em nada de importante - dei de ombros e me aproximei, parando bem à sua frente. - Só que não esperava pisar outra vez aqui. Não assim, dessa forma, nesse momento.

Ela apertou um pouco os olhos e eu abaixei um pouco, nivelando nossos rostos.

Anahí: nós temos que fazer valer a pena, não é? - levantou uma sobrancelha, questionadora, e não desviou os olhos até que eu sorrisse em resposta.

Alfonso: vem aqui - disse mais por dizer que qualquer outra coisa, já que, ao mesmo tempo em que eu falava, minhas mãos iam para sua cintura e a puxavam para perto. Nossos corpos se colaram, e ela arqueou-o contra mim. - Que valha a pena.

O sorriso que precedeu o beijo já não era sem jeito. Era expectante e ansioso, um sorriso daqueles que não deveriam desaparecer nunca. Mas, naquele caso, era ele ou o beijo.

E eu queria mais o beijo.

Enquanto nossas línguas se buscavam, minhas mãos corriam pelo corpo pequeno e curvilíneo, mas não com delicadeza. Já estava mais do que comprovado que brandura e delicadeza não era a nossa praia. Por mais que a intenção inicial pudesse ser aquela, no fim sempre acabávamos em pequenas guerras de mãos, braços e pernas, buscando sempre por mais. Mais contato, mais intensidade, mais prazer. Era assim que nos agradava e, sim, eu falava também por ela. Nos agradava aquele jeito, meio intenso, meio louco. E seus gemidos eram a prova que eu precisava para saber que ela se sentia do mesmo jeito.

À passos trôpegos, andei para frente, levando-a comigo e fazendo-a parar contra a parede. Encurralei-a ali, voltando a grudar nossos corpos, daquela vez mais forte, mais voraz. Ela arfou, enfiando as mãos sobre minha camisa e arranhando minhas costas. Minha boca havia corrido por seu rosto e deslizado até seu pescoço, deixando uma trilha úmida e vermelha, marcando toda a pele que, mais cedo, eu havia pensado, e me negado, a beijar.

Eu não sabia que maldito poder era aquele que ela exercia sobre mim. Aquele que me fazia esquecer completamente de seus jogos e frescuras, suas evasivas e artimanhas. Eu me sentia como um garotinho idiota, preso aos hormônios, e que não sabia se segurar diante de algo que só cheirava a uma coisa: confusão.

Anahí cheirava à confusão. A confusão mais simples e elementar, aquela que me fazia esquecer o orgulho sempre que ela piscava os olhos ou sorria. E, inferno, eu não queria esquecer o orgulho. Não outra vez. Eu não queria estar com ela, sabendo que no dia seguinte ela agiria como se aquilo fosse um erro. Como se eu fosse um erro. E, definitivamente, eu não precisava de mais uma atitude de desprezo de sua parte atingindo meu ego. Ele sempre se curava, é claro, mas daquela vez eu não sabia se queria machucá-lo. Não em troca de uma noite. Por mais animal que ela estivesse prometendo ser.

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora