-Droga! Droga! Droga! Como esse despertador não tocou? - Reclamo sozinha enquanto corro entre o quarto e o banheiro tentando ficar pronta em tempo recorde. Até que consegui, acho que já posso competir nas olimpíadas. Pego minha bolsa e saio trancando a porta e dando minha conferida rotineira no trinco. Caminho apressada, tropeçando no meu pé desesperada para não perder o ônibus.
- Cuidado menina, se você quebrar uma perna vai ter mais conta pra pagar, querida . - Glória me grita, mas eu a ignoro propositalmente.
Assim que viro a esquina da minha rua, eu entro em desespero. Acho que não consegui ser rápida o suficiente.
Meu ônibus está partindo do ponto nesse momento.
Sem pensar duas vezes, saio correndo até o alcançar, bato loucamente contra o vidro e as pessoas lá dentro percebem meu desespero e gritam para que o motorista pare.
E assim ele faz, felizmente. Mais um mico para a lista de desastres da minha convivência com a sociedade, fico surpresa em como ela cresce descontroladamente.
Assim que o ônibus para, as portas se abrem e eu entro correndo. Estou ofegante, para uma menina sedentária como eu, essa corrida foi a morte. Meu rosto deve estar vermelho de vergonha, mas vou superar.
- Isso não é táxi pra você entrar quando quiser menina. - o motorista me diz mal humorado.
- Eu sei, me desculpe - Me viro, pago minha passagem e vou para parte de trás do veículo. Eu seguro no ferro acima da minha cabeça pois o ônibus está lotado e não tem como sentar. É por isso que na minha cidade ônibus é chamado de lotação. Penso ironicamente.
... ... ...
Chego no trabalho na hora certa, visto meu uniforme cinza chato, e pego minhas vassouras.
Não está um dia ruim, está um sol brilhante e radiante lá fora. Me apego a isso para imaginar que será um dia bom e tranquilo. Além disso, tenho a minha teoria de que depois das coisas ruins, acontecem coisas boas. E já aconteceram as coisas inconvenientes do dia. Isso me anima a continuar.
Como tudo já está limpo por causa de ontem e as coisas estão em seus devidos lugares, não foi nada complicado. Acabando de limpar minha parte mais cedo um pouco, vou descansar na despensa.
- Não aguento mais limpar esse piso pra essas nojentinhas . - Camila entra reclamando com Laura a seguindo logo atrás.
- Camila não reclame, se não fosse essas "nojentinhas", não teríamos nosso emprego.- Diz Laura
-Ah mesmo assim, não viu a cara que aquela menina me olhou quando passei perto dela? - Camila desamarra seu cabelo longo e se joga na cadeira ao meu lado, ela está mais do que estressada.
Queria falar alguma coisa do tipo... 'não julgue uma pessoa por aparência' ou 'não chame as pessoas por apelidos feios' porém, tristemente eu tinha que concordar com ela um pouco, ás vezes era complicado aguentar alguns detalhes de se trabalhar aqui.
-Claro que vi, só porque tem dinheiro pensa que é melhor. Sinto dizer que é o contrário.
-Charlotte, você acabou de chegar mas ainda vai se estressar horrores aqui. - Camila diz, me incluindo na conversa.
Não era necessário, estava de boa só escutando, mas não quero bancar a antissocial.
-Espero ter muita paciência para aguentar então. - Respondo e dou uma risadinha amigável.
-Vai precisar de muita, meu bem. Mas mudando de assunto vocês ouviram falar que o dono disso tudo vai vir aqui hoje? - Ela finalmente abre um sorriso ao trocar o foco da conversa.
- O tal do Andrew Crewe? Ouvi a loira empinada do caixa falando isso. Ouvi que ele vai visitar a loja para fechar contratos com gente da gringa ou alguma coisa do tipo. - Laura sempre sabe das fofocas da loja, em pouco tempo já entendi que se eu quiser alguma informação tenho que procura por ela.
- Se eu fosse rico como ele, nem punha meus pés aqui. Nesse inferno só tem falsianes das bravas - Camila responde em tom sarcástico.
- Pelo menos não vamos precisar vê-lo né gente ? - Eu falo, não quero nem topar com esse homem, deve ser outro esnobe da sociedade.
- Isso mesmo miga, não vamos beijar o chão que ele pisa, pra isso já basta as trouxas das atendentes. - Laura diz e nós três rimos do seu comentário.
- Vamos lá tomar um café. - Ela ajeita os cabelos para ficar mais apresentável e pega na mão da amiga para que ela a siga. - Você vem também Charlotte?
- Não, vou ficar por aqui mesmo, mas obrigada. - Prefiro não me sentar na rodinha da fofoca por hoje, quando me junto a elas, descubro coisas que nunca imaginaria e preferia não ter descoberto.
- Você quem sabe. - Camila diz e finalmente sai com Laura.
Dou um sorriso para elas e deito minha cabeça na mesa a minha frente. Também não estou afim de comer nada por enquanto.
Quando quase começo a cochilar, Alicia entra correndo pela porta como se tivesse acontecendo um incendeio na loja e ela veio se esconder aqui.
- Preciso de ajuda urgentemente, uma criança derramou sorvete no chão perto da entrada e está tudo grudando. Daqui a pouco teremos uma visita importante e a loja está um desastre. Venha depressa. Ande! Ande! - Ela praticamente me puxa da cadeira onde estou e me levanta.
- Só um minuto, vou pegar o balde. - digo indo pegar minhas coisas.
Quando chegamos no local até onde Alicia me levou uma mini raiva me sobe. A tão horrenda mancha de sorvete, não passava de uma mísera gotinha de calda de morango no piso. Estreito meus olhos com frustração e me abaixo para limpar. Realmente preciso de muita paciência.
Limpo o chão esfregando o máximo que eu posso para que Alicia não tenha motivos pra reclamar. Tento não pensar no drama que Alicia fez por isso, acho que se pensasse, seria capaz de dizer algo que não deveria.
Pego o pano e os produtos e os jogo no balde que trouxe, Me levanto para voltar a despensa antes que seja obrigada a topar com algum cliente. Seria mais um inconveniente para meu dia.
Entretanto, assim que estou de pé sinto uma tontura chata, provavelmente porque levantei depressa. Penso.
Começo a andar mas minhas pernas estão estranhas, dou passos mais largos, mas de repente uma forte dor pontiaguda me pega de surpresa, não sei de onde veio a dor, mas quando me vejo, já estou caindo no chão e jogando toda a água com sabão do meu balde em um par de sapatos e calças pretas e caras na minha frente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meia Noite e Um - Completo ✔
RomanceCharlotte está completamente perdida no Rio de Janeiro. Depois de derrubar um balde com água no chefe do seu chefe, Ela acabou perdendo o emprego e consequentemente o lugar onde morava. Mas a sua vida começa a mudar quando ela encontra Isobel...