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Fiquei olhando por alguns segundos enquanto a mulher sentada a minha frente se levantava e saia. As faltas de modo estão estampadas no modo dela agir.

Ela rejeitou meu cheque por orgulho besta quando está na cara que ela precisa desse dinheiro e ainda por cima insulta meu receio sobre ela. Minha filha aparece uma semana depois de desaparecida e ela acha que vou achar completamente normal?

Já tenho experiência o bastante para saber que dinheiro atrai pessoas interesseiras. E se ela a tiver sequestrado? Pensando bem Isobel parecia muito apegada a ela lá embaixo. Mas essa tal de Charlotte poderia muito bem manipula-la.

Bom, não confio.

Que droga! Não sei mais o que pensar. Vou deixar isso para amanhã. Preciso ver minha filha agora. Meu Deus, eu preciso leva-la a um médico urgentemente. Pego meu telefone e mando uma mensagem para que Luísa, minha secretaria, resolva isso para hoje.

Minha cabeça está a mil, estou tão aliviado, só Deus sabe o inferno em que fui essa semana. Nem Meu melhor detetive foi capaz de encontrar Isobel, a sensação de não saber onde ela estava me torturava dia após dia e a noite eu nem dormia. Se ela não voltasse... não sei o que faria, eu.... Chega, pare de pensar isso, ela está aqui agora, segura, e não vou descansar para que ela continue assim. Sei que sou uma merda de pai, mas vou tentar mudar isso. Nunca mais quero passar por esse inferno.

Levanto da minha cadeira e guardo a merda do cheque dentro da gaveta. Atravesso o corredor e chego até as escadas, mas paro em seguida quando avisto Adam conversando com Charlotte na entrada, ele realmente não perde nenhuma, dou risada.

Desço as escadas mas antes que chego a sala principal Charlotte sai apressada pela porta.

-Você realmente não perde tempo, não é mesmo Adam?- digo meus pensamentos.

-Uma gracinha dessa? Mas desculpe minha intromissão mas ela não é seu estilo. Ou você mudou tanto assim nesses meses? E Estefânia? – ele me bombardeia com perguntas.

Meu estilo? E eu tenho um? Sempre sai com modelos ou outras assim, mas nunca considerei isso como um 'gosto'

-Ela não é nada minha, idiota. Eu ainda estou com Estefânia. Quer dizer... eu acho. - Ela não dá notícias a vários dias, desde o sumiço de Isobel. Eu também não a procurei, não tinha cabeça para nada além de achar minha filha.

-Não sei qual de vocês é mais imbecil. - ele ri, eu apenas ignoro seu comentário idiota. - Então quer dizer que a garota que saiu está livre?

-Sim, quer dizer acho que sim, nem conheço ela. – balanço meu ombro com indiferença.

- Que pena, o que ela veio fazer aqui então?

- Trazer Isobel, mas é uma longa história, mas vá descansar primeiro que tenho que resolver algumas coisas.

-você quem manda. – ele sobe puxando suas malas com dificuldade pela escada.

Conheço Adam desde sempre, somos primos de segundo grau mas somos como irmãos, ele mora na Inglaterra, na minha adolescência passei cerca de oito anos morando lá com sua família e antes ele morava aqui comigo.

Abandono meus pensamentos e vou para o quarto de Isobel, já devia ter ido para lá a muito mais tempo.

O quarto dela sempre ficou embaixo para que ela não precisasse subir escadas, porém creio que ela já possa trocar seu quarto para um do segundo andar. Chamarei o arquiteto amanhã para isso. Assim que chego a porta do seu quarto meu telefone vibra, é Luísa me avisando que a consulta com médico é as 3 horas de hoje. Respondo um 'ok' e entro.

Assim que vejo a cena do quarto meu coração aperta. Isobel está sentada encolhida no chão em um canto escondido com as duas mãos nos ouvidos, balançando seu corpinho para frente e para trás lentamente. Andreia entra atrás de mim e arregala seus olhos pela decima vez hoje, suponho.

-Senhor, eu tentei conversar com ela, mas ela não me obedecia, fui até a cozinha para buscar...

- Está bom, deixe-nos agora. – ordeno a ela que sai correndo fechando a porta atrás de si.

Ando em direção de Isobel lentamente a observando, o que aconteceu com ela pra ela estar abalada assim? Me agacho ao seu lado e puxo suas mãozinhas para baixo mas ela as põe de volta no lugar apertando seus olhos e balançando mais depressa.

-Isobel, querida, você não lembra de mim? – ela não responde. – Eu... eu sou seu pai. Seu papai. –ela enfim abre seus olhos e para de balançar entretanto, não tira suas mãos do ouvido, mas sei que ela me escuta.

-Estava com muita saudade sua.

Ela não parece querer a minha atenção. Por que ela me esqueceu? Já li coisas sobre perda de memória... nó não esquecemos detalhes principais como pessoas próximas... mas talvez eu nem seja uma pessoa próxima dela.

-Você é meu pai? - Quase não escuto sua pergunta.

-Sim, eu sou, essa é a sua casa, você vai se lembrar, eu prometo. Você vai voltar ao normal brincando pela casa e deixando Andreia louca atrás de você. –  Ela me escuta atentamente. Seus olhos estão focados nos meus.

- Eu quero ver a Charlotte, eu gosto dela. – ela declara e eu fecho meus olhos tentando me acalmar.

-Charlotte vai seguir a vida dela agora, assim como nós.

-Mas eu quero ver ela, eu quero ficar com ela.

-Isso não vai ser possível meu bem, mas ela pode te visitar as vezes. Ela precisa cuidar da vida dela, ela não tem muito tempo, mas a convidarei um dia. – Nem sei se farei isso, mas faço qualquer coisa pra tira-la dessa prostração.

-Me promete então? Ela não é má papai, ela é boa. –respiro fundo e concordo com ela.

- Eu prometo para você,- chegou mais perto dela e passo a mão pelas suas costas, ela se aninha em meu peito me deixando surpreso, aproveito a oportunidade para levanta-la do chão e sentar na cama com ela ainda me abraçando, eu devo estar esmagando a coitadinha, mas ela não reclama.

-Eu te amo tanto. – ela não me responde, mas não ligo, por enquanto só de ter ela nos meus braços de volta já é o bastante.

- Eu estou com medo. - Ela sussurra quase inaudível.

- Você está segura agora, Isobel. Eu juro.

- Eu tenho medo de outra coisa...

E eu sabia muito bem o que seu medo era, mas isso me deixava com mais raiva do que imaginei.

... ... ...

Depois do almoço vou para meu escritório resolver minhas coisas da empresa, faz tempo que não vou até lá pessoalmente. Amanhã preciso ir sem falta. Começo a organizar meus contratos mas paro para fazer algo que está me martelando. Pego meu telefone disco um número.

-Nathan? Isobel apareceu hoje. - sou direto

-Santo Deus, estou muito aliviado. – ele solta um suspiro que dá para ouvir pelo telefone.

-Sim, uma mulher a trouxe hoje, preciso que você descubra quem ela é realmente.

-sim, sabe o nome dela ou algo mais?

-Não sei nada sobre ela, disse que se chama Charlotte não sei se é verdade. Tenho as câmeras de segurança da casa também, vou mandar fotos dela para você agora.

-Vou dar o meu melhor, senhor.

Meia Noite e Um - Completo ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora