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-Como está ficando, Charlotte? – Isobel levanta o desenho que está fazendo para que eu veja.

Levanto meus olhos para ver o desenho dela e fico surpresa.

-Meu Deus, Bel, está prefeito. – Eram três pessoas, um casal e uma menina. Sabia muito bem quem era. Porém o que mais me surpreendeu foram os traços do desenho, ela tem pouco mais de seis anos e desenha como se tivesse quinze. Nem colando eu conseguiria desenhar daquele jeito.

-Obrigada. É você, eu e papai. Ontem.

-Eu percebi, está parecida com você, como aprendeu a desenhar?

-Não sei, eu só desenho. – Ela dá de ombros e continuar a colorir.

Seu pai saiu para cuidar de negócios desde cedo e ficou fora o dia todo, estamos sozinhas na casa desde então. Já tentamos fazer um bolo, que ficou até bom (modéstia parte), mas fizemos uma bagunça imensa na cozinha. Depois de limparmos tudo sentamos na sala ao lado da lareira e estamos assim desde que começou a entardecer.

Volto a ler meu livro, que por sinal está muito bom, O inferno de Gabriel, o primeiro livro que comprei com meu salário do novo emprego.

Depois de mais dois capítulos, Isobel senta ao meu lado no sofá e me entrega o desenho.

-Para você.

- Serio? Muito obrigada. Vou guardar com carinho.

Ela sorri timidamente.

-Charlotte?

-Eu.

-Aquele moço ontem disse que éramos uma família. Nós somos? – ela encosta sua cabeça no meu ombro enquanto eu fecho o livro para encara-la.

-Não somos, meu bem. Eu sou amiga da sua família.

-Ah, queria que fosse. –Ela diz claramente decepcionada.

-Amigos são especiais também, não acha?

-Claro que sim, eu gosto muito de você.

-Eu sei. – sorrio para ela. – Eu também.

-Às vezes eu peço pro papai do céu me dar uma mamãe, você podia ser minha mãe? -

Perco a respiração quando ela diz isso, sua mãe? Meu Deus, ela é tão carente. Eu mãe? Eu não tenho maturidade para cuidar de uma criança assim... eu nem sabia cuidar de mim mesma. Além disso, pra que eu fosse mãe dela, teria que me casar com seu pai. Impossível.

-Infelizmente não, querida. Mas um dia seu pai vai se casar e você vai ter uma mamãe muito boa.

-Mas você poderia casar com ele então, você disse que gosta dele.

-Não é assim, Bel, eu gosto dele, mas como pessoa.- Serio? Como Pessoa? Rio da minha resposta.

-Mas... -Ela começa, mas é cortada.

-Isobel, deixe Charlotte em paz. Vá para seu quarto. – Andrew aparece no corredor me assustando. Isobel olha para o pai e vejo que seus olhinhos estão marejados de lágrimas. Ela levanta do sofá antes que eu possa consola-la e sai correndo para o quarto.

-Isobel, espera... – Ela não se vira, apenas continua a correr. -Ela não estava me perturbando, Andrew. – Explicou para ele que tira o paletó e se senta ao meu lado no sofá.

-Não é bom para ela ficar fantasiando esse tipo de coisa, ela tem que aceitar as coisas como são. –Ele fala com a voz seca e cortante.

-Eu sei, mas ela só sente falta de alguém como mãe, não que você seja um mau pai, claro que muito pelo contrário, mas tem que entender o lado dela.

Meia Noite e Um - Completo ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora