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Por mais que eu esteja feliz por causa das notícias recentes de que vou voltar a enxergar, poderia estar melhor se não estivesse em 'depressão pós livro'. Sabe aquela sensação quando se termina de ler algo muito bom... Uma espécie de vazio... Bem estou com graves sintomas disso.

Acabei de "ler" um 'áudiolivro' do livro 'Todo dia'  pelo aplicativo que Andrew baixou em meu telefone e digamos que a história foi boa o bastante para me deixar com vontade de chorar rios simplesmente por uma palavra: Fim.

Alguns filmes também são assim, me deixam com raiva por ter um final. Os romances inacabados com um final vago, por exemplo. Eu poderia continuar  assistindo os personagens fazendo coisas aleatórias do dia a dia. Seria como um big brother dos meus personagens favoritos. 

Já me indicaram séries para resolver esse problema, ja que são mais longas e o fim é mais distante, mas dois motivos me impediam de seguir alguma. O primeiro é a falta de tempo. Agora eu tenho de sobra mas antes eu só tinha tempo para trabalho mesmo.  O segundo motivo é que se a série é bem maior, quer dizer que o sofrimentos após ver será maior é quadruplicado.

Pode me chamar de paranóica, mas é assim que a água corre pra mim.

- Andrew, não está ficando tarde? Eu já li metade de um livro. - Mesmo ele sendo pequeno, ainda é metade de um livro. E já começo a me sentir cancada de ficar sentada por muito tempo.

Estamos no jardim atrás da casa a um bom tempo, Bel está correndo e saltitando por aí no meio das plantas, Andrew está trabalhando em silêncio no seu computador e eu estava ouvindo meu livro com fones de ouvido para não o atrapalhar.

- Provavelmente, considerando que o sol já está se pondo.  - Ele me responde ao meu lado.

- Como o esperado, Bel nem percebeu, não é? 

- Não,  ela está a mais de uma hora se pendurando no balanço.  - Andrew mandou colocar um balanço em um galho de árvore do jardim, mas sem ver já sei que ele deve ter feito algo para o balanço não ir muito longe do chão.

- E bom para ela, brincar um pouco ao ar livre.

- Isso é. - Escuto o pequeno barulho do seu computador se fechando. - Você já está cansada? Quer voltar? 

- Um pouco, mas não me importo de esperar mais um pouco se quiser. - Não quero ser a chata a estragar a alegria de Bel e Andrew quase nunca passa tempo com ela. mesmo que fazendo coisas diferentes, eles ainda estão no mesmo local.

- Temos que voltar, já está tarde também.  Vou lá começar minha operação para convencer Bel a ir embora.

- Boa sorte. - Não será fácil tira-la daqui, uma vez que ela ja se tornou parte das árvores praticamente.

- Vou precisar. - Ele se levanta e vai encontrar a filha pelo jardim.

Os dia esta tão tranquilo, fazia tempo que nao me sentia assim, leve. Fazia tempo que não me sentia 'nao sozinha', digamos assim. Se antes, quando minha mãe se foi, eu estava só, agora estou com muitas pessoas para confiar, conversar e até mesmo,  por que não? Amar...

- Você precisa de um banho urgentemente Bel. Está parecendo que você voltou depois de um ano presa em uma ilha perdida.

- Ah, papai. Mas eu gosto de fazer bolinhos para...

- Mas não faça com terra! - Ele diz aumentando a voz um pouco para demonstrar seu descontentamento a filha. - Faça com qualquer outra coisa, menos terra ou outras coisas grudentas.

- Deixe ela Andrew. Bolinhos de terra não fazem mal a ninguém. 

- Faz sim, faz mal a barriga dela, que pode ficar infestada de germes!

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