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Ainda não caiu a fixa de que estou com Andrew Crewe jantando em um restaurante em Copacabana. Estava em processo de aceitação sobre a minha raiva por ele e aqui estou eu aceitando uma oferta de emprego em sua casa.

Mas o único motivo é Isobel, sei que ele nunca teria vindo até mim, se ela não estivesse realmente precisando. Estou preocupada agora, quer dizer, já estava antes mas agora.... Se trabalhando lá é o único jeito de vê-la, vou jogar meu orgulho de lado por um tempo.

Termino meu jantar com muita dificuldade devido aos inúmeros talheres na mesa. Não sei qual usar, então uso somente o garfo e a faca que me parecem os mais normais da mesa. Andrew termina logo após.

-Então vamos.- ele se levanta da mesa. - Como foi o jantar?

-Foi muito bom- digo andando com ele até a porta de entrada. –Não vai pagar a conta?

-Pra que? O restaurante é meu.- Ele fala sério, mas vejo um sorriso no canto da sua boca.

Exibido pra caramba esse cara. Meu céu.

-Ah, sim. – digo baixo, sinto que as pessoas estão olhando para mim, sei que sabem pelas minhas roupas e até meu jeito de andar que não pertenço ao nível social delas. Talvez estejam olhando para nós dois. Não isso não. É óbvio que elas sabem que uma pessoa tão importante como Andrew não sairia com alguém 'inferior 'como eu.

Para que estou pensando nisso também?

Depois de minutos eternos dentro do carro, chegamos a minha pensão, ele estaciona o carro na porta e desliga o carro.

-Amanhã cedo estará lá. –ele afirma.

-Sim, mas...Tem um problema...

-Pelo amor de Deus, Charlotte, o que mais tenho que fazer? Você vai apenas trabalhar, não está indo para guerra. O que está te perturbando é dormir lá? Pois saiba que você dormirá com o restante dos meus empregados. Dá para parar de reclamar agora? –Ele se vira pra mim e puxa o cabelo, seus olhos focam em mim e assim posso ver o desespero neles.

-Eu só ia pedir para escrever o endereço. Não tenho mais. –Assim que explico ele parece se acalmar e volta a olhar para frente.

-Toni vai te buscar, amanhã as oito e meia. Fique pronta.

Não discuto com ele, apenas concordo e saio do carro, ele dá partida assim que fecho a porta. Entro na pensão e subo as escadas correndo.

-E então pra onde foi? – Amanda me pergunta assim que abro a porta. Fecho e tranco a porta e me sento ao seu lado.

-Amanda, você está desempregada? –pergunto.

-Sim, procurei emprego ontem o dia todo mas não tive sucesso. Por que?

-Sei de um pet shop que está contratando. Você vai amar.

De um modo estou transferindo minha vida das últimas semanas para ela, a pensão, o Pet Shop  mas vai ser bom para ela, assim como foi para mim. Quando meu tempo na casa dos Crewe acabar eu me viro procurando outro emprego.

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Oito e quinze. Chego na calçada cinco minutos mais cedo para tentar passar uma boa aparência. Mesmo não sendo eu a procurar o emprego. Desço os degraus mas quando chego vejo um carro parado em frente a pensão e um homem de terno encostado nele. Assim que me vê, ele vem em minha direção. Que maravilha, ele já está aqui.e esse Andrew só tem carro preto?

-Senhorita Charlotte? –ele me pergunta.

-Só Charlotte, estamos no Brasil, ok?- sorrio amigavelmente

-Sim Charlotte. – ele ri. – Posso te ajudar? – ele pergunta olhando para minha pequena mala com as poucas roupas que tenho. Na verdade o que está a enchendo são meus poucos livros que comprei ao longo dos últimos anos.

-Sim, seria muito gentil. – ele pega a mala da minha mão e espero até que ele a coloque no porta malas. Em seguida ele abre a porta de trás para mim e eu entro depois de agradecer. Me embolo um pouco com o cinto mas dessa vez não demoro tanto como ontem. Acho que estava meio nervosa.

-Como é trabalhar lá? – pergunto por curiosidade.

-Bom, eu trabalho há dez anos para senhor Crewe e não tenho nada a reclamar

-Nossa, isso é meio difícil, são muitos anos.

-Nem vi passar. - ele ri. – Mas ele não é o que parece, ele é um bom patrão. Ele só não está muito agradável essas últimas semanas.

-Entendi. – espero que ele tenha razão.

-Quando as coisas voltarem ao normal a senhorita vai gostar.

-Espero muito que sim – Porem quando tudo voltar ao normal já vou ter ido embora. Penso.

Depois de um bom tempo chegamos até a casa dos Crewe. Entramos pelos enormes portões e damos a volta pelo lago. Toni estaciona o carro na garagem e abre a porta para mim.

- A nossa entrada é pela garagem, a porta a esquerda, venha, vou lhe apresentar Marta, ela vai te mostrar o que fazer.

- Ah sim. – vou atrás dele depois de atravessar dois cômodos até chegar na cozinha onde uma mulher está limpando os armários da cozinha planejada.

-Marta? Senhor Crewe pediu para mostrar as tarefas de Charlotte. – Essa é Marta? Ela tem a minha idade. Talvez um pouco mais velha, mas imaginei que fosse alguém com mais de 40 anos.

-Sim, chegaram mais cedo.

-Sim o transito estava bom – Toni a responde. Martha não me olha nem uma vez, ela praticamente me ignora. Ela lava suas mãos na pia e as enxuga.

-Venha, a lavanderia é lá fora. Sem me olhar ela sai da casa e eu suponho que tenho que a segui-la e o faço.

Saímos pela porta da garagem por onde andei e chegamos ao lado de fora. Ela me guia ate um lugar mais isolado, fica ao lado do lago mas quase não é visível. Avisto o que deve ser a lavanderia, é uma construção no estilo da casa, tem dois andares e as paredes de vidro. Mas o que mais me impressionou foi a vista que se pode ver daqui.

-Ok, essa é a lavanderia, mas é só aqui embaixo. É bem simples. Tem a máquina de lavar e a secadora, você põe o tanto indicado de sabão e amaciante e espera até o tempo acabar, depois leva para secadoras e pronto. E não se esqueça de separar por cor. – Ela finalmente me encara. Ela é completamente seca, espero que seja só um dia ruim dela. – Mas eu já lavei as de hoje então você só começa amanhã. Estamos sem quarto de empregados por enquanto, porém Senhor Crewe me deu ordens para aloja-la no andar de cima. É só subir as escadas. Alguma dúvida?

Com essa má vontade toda, não tenho nada para pergunta-la.

-Não.

-Certo, tenho que terminar meu serviço. - ela sai e me deixa sozinha.

Olho em volta para lavanderia onde passarei a maior parte dos meus dias. É maior do que esperava. O lugar parece ter saído de um filme. Olho para as escadas e decido conhecer meu quarto. Subo vagarosamente e abro a porta do meu quarto temporário.

Quando o avisto minha boca cai. Esse é o quarto mais lindo que já vi na vida. É simples, mas é lindo. É estilo praia, a cama e o chão são emadeirados, as paredes que dão vista para o lago são todas de vidro. O resto da decoração e bem minimalista, é tudo bem claro e cheio de cortinas que voam com o vento. É perfeito. Sei que deveria reclamar por estar recebendo tratamento diferenciado, mas esse quarto parece um sonho.

-Que bom que gostou. – Toni aparece subindo as escadas.

-Ah sim é lindo.O lago e o jardim ficam lindos daqui.

-A vista é a melhor parte, mas devo interrompe-la, tem alguém que quer muito te ver.



Meia Noite e Um - Completo ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora