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Entro na casa atrás de Toni, o caminho parece ter triplicado.

-Vou chamar Jonas para te mostrar onde é o quarto, senhorita.

-Não é necessário Toni meu querido, eu a levo. – olho para as escadas e vejo o homem que esbarrei quando estava saindo daqui na primeira vez. Ele está com um sorriso perfeito no rosto, vindo em minha direção.

-Como quiser senhor. – Toni sai da sala e nos deixa só.

-veio fazer uma visita senhorita ...? -e deixa vago para que eu complete.

-Charlotte, na verdade eu comecei a trabalhar aqui hoje.

-Começou é? Isso é perfeito! Quer dizer...-ele tossi- Muito bom. O que vai fazer?

-Vou trabalhar na lavanderia. Desculpe mas o senhor é?

-Oh que indelicadeza a minha, me chamo Adam, sou primo do Andrew. – Ele tem um sotaque diferente, na verdade eu gosto. Presumo que não seja daqui.

-É um prazer Adam. Preciso te chamar de Senhor Crewe também? Ou isso só cabe ao dono da casa? – quando vejo já tinha perguntado. Que tipo de pergunta é essa?

-Não, por favor só Adam- ele solta uma gargalhada. – Me sinto muito velho com esses senhores.

-Que bom. - eu sorrio.

-Lindo sorriso Charlotte, onde queria ir mesmo? – Devo estar vermelha igual um pimentão nesse momento.

-Tenho que ver Isobel, onde é seu quarto?

-Ah sim, é no corredor aqui nesse andar. Vem vou te levar lá, já estou um pouco atrasado, tenho que buscar meu irmão no aeroporto. – ele diz e começa a andar, eu o sigo.

-Tá bom, não quero te atrasar.

-Ele pode esperar. Falando nisso, vai ter uma festa aqui, daqui uns dias, você é minha convidada. – Festa? Não mesmo Charlotte.

-Não seria adequado, eu trabalho aqui agora, acabei de lhe dizer. - ele solta outra gargalhada.

-Tolice, a festa é em minha e do meu irmão, vamos convidar quem quisermos. E eu gostaria muito que você me acompanhasse.

-Não sei, eu...

-Por favor, se não gostar pode ir embora. Você mora aqui. Além disso já chamei Jonas e Martha também.

-Eu vou pensar... mas não prometo nada. – Acho que não seria ruim, nunca fui em uma festa, a não ser de criança, isso conta?

-Pelo menos não é um não. É aqui. – ele para em frente uma porta de madeira branca. – Vamos confirmar a data e te aviso. Estou indo tchau.

-Tchau, e obrigada.

-Não é nada. – ele diz sorrindo e some pelo corredor.

Não sei se bato ou se entro direto, será que ela está dormindo? Escuto barulhos no quarto, isso me prova que está acordada. Resolvo só entrar. Abro a porta devagar e observo o quarto, ele é enorme, como previa, há bonecas espalhadas por prateleiras em todo quarto, brinquedos e miniaturas de bailarinas enfeitam a decoração impecável do lugar. Procuro por Isobel, mas não a encontro, entro no quarto e parece que ela não está. Estranho, pensei ter ouvido barulho.

-Não quero almoçar hoje Andreia. Me deixa quietinha. – Escuto a voz dela e esboço um sorriso, sigo em direção a voz e a vejo. Ela está escondida atrás da cama, deitada e encolhida no chão, mexendo no cabelo de uma boneca. Ela parece triste, deprimida até. Seu pai realmente tinha razão.

-Por favor, fala pro papai que já almocei. Ele vai me levar a psicóloga depois e não quero ir. E também não estou com fome. – ela choraminga, eu me abaixo perto dela, ela está de costas para mim e não se vira.

-Que pena Bel, estou sentindo um cheiro tão bom de comida. Não devia perder. – Assim que digo isso ela se levanta do chão rapidamente e desajeitada, ela me encara e arregala os olhinhos.

--Charlotte! – Ela tira a distância entre nós e me dá um abraço apertado, eu retribuo com a mesma intensidade.

-Eu senti tanta a sua falta, não consegui e tive que te ver. – Brinco com ela. Ela não diz nada. Consigo ouvir soluços baixinhos e sei que ela está chorando. Me distancio um pouco e olho seus olhinhos marejados de lágrimas. - Ei, por que está chorando? Não gostou da minha visita? Eu prometi que ia te ver de novo...

-Não é isso- ela grita desesperada - eu senti muita sua falta, eu amei te ver, Charlotte. Só estou feliz.

-Eu também, muita saudade. – ela parece estar mais magrinha, mas acho que é só porque nunca a vi tão abatida. –Como você está?

-Estou... bem. Eu recuperei minha memória. – ela limpa as lagrimas da bochecha com as costas das mãos. – Eu me lembro de tudo. – ela tenta sorrir.
-Sério? Isso é maravilhoso.

-Sim, eu tenho um pai. Você o viu aquele dia, lembra?

-Sim, eu o conheci. Ele parece gostar muito de você. –Dou meu melhor sorriso.

-É, e eu gosto muito dele. Ele não tem muito tempo, mas ele é legal.

-Ele precisa trabalhar Bel, os pais precisam ganhar dinheiro para comprar comida, roupas e suas bonecas. O importante é que ele é muito bom. Não é?

-Sim, ele é incrível.

-Quem é incrível querida? -Andrew aparece na porta e anda até no meio do quarto.

-Você, papai e Charlotte também. – Ela diz sorrindo.

-Fico lisonjeado. – Fico calada, não quero me meter na relação dos dois. – Porém... Andreia me disse que não quer almoçar. Então vim pessoalmente te chamar. Você não comeu nada hoje.

-Eu sei...

-E então...?

- Se Charlotte for, eu irei. – ela diz e pega minha mão na cama.

- Oh, não posso querida.

-Por que? Você já está indo embora? Mas chegou agora. Fica por favor. – Ela me implora, e olha para o pai procurando auxilio. – Pai fala pra ela.

-Não posso obriga-la querida.

-Só tenta papai. – Ela divide seu olhar entre mim e seu pai.

-não posso, mas... ela poderá aceitar seu convite futuramente, já que agora ela irá morar com a gente.

-Não acredito? É sério? – ela espera por uma confirmação minha.

-Sim, eu vou. – digo rindo. Ela me dá um abraço forte e eu não consigo mais esconder o sorriso bobo do meu rosto. Ela se levanta e abraça também seu pai.
-Obrigada.

-De nada, agora vamos. Quando voltarmos da psicóloga poderá matar a saudade o quanto quiser de Charlotte. – Andrew diz.

-Tá bom, até mais tarde Charlotte – ela pega na mão do pai e os dos saem do quarto. Quanta saudade estava dessa menininha.

Eu espero alguns minutos e saio também, voltando para meu quarto temporário.


Meia Noite e Um - Completo ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora