Meia Noite e Um - Completo ✔

05 Ctt

Quando chegamos ao lugar dito, me assusto com a quantidade de barracos amontoados em um único espaço. É enorme.

Eu fico meio receosa, mas não comento nada. Amanda me guia até um corredor de terra e entramos em um barraco que presumo que seja onde vamos morar. É pequeno lá dentro, as paredes são tábuas rosa de construção, é escuro e abafado. Mesmo assim é maior que meu antigo quarto.

Me sento em uma cadeira de uma minúscula mesa improvisada.

- Não é puro luxo, mas é um lugar para descansar. O quarto é ali, como já deve ter visto. Aqui não é tão ruim, os vizinhos são pessoas boas, eles passam por dificuldades assim como nós,com algumas exceções são pessoas que lutam, então não tenha preconceito.

- Longe de mim - Não vou mentir pra mim, eu estou com medo, mas talvez não seja tão ruim.

- Ok, Eu vou trabalhar daqui uma hora então vou me arrumar. Sinta-se em casa.

- Ok, ahh. .. Amanda ?
-sim?

-obrigada.

-De nada, querida. - Ela sorri como se tivesse feito a melhor ação da sua vida. Adorava o sorriso dela, ele sempre estava presente e sempre parecia sincero.

Vou para o "quarto" e deixo minhas coisas no chão, deito na cama que nem era minha e sem ver começo a dormir. Óbvio resultado de noites sem dormir direito.

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3 meses depois...

Passaram três meses desde que cheguei aqui. Eu consegui achar um emprego em um bar no período noturno, não pagava bem e o local tinha péssima aparência. Mas Deus sabe que eu não tinha escolha, estava aceitando qualquer trabalho. Quer dizer, quase tudo.

Amanda sim aceitava tudo. Ela trabalha em uma pequena papelaria e as vezes ganhava dinheiro extra com homens e programas. Ela nunca assumiu, mas não precisa ser inteligente para saber disso. Ela chegava tarde, com perfume barato masculino. E eu conseguia ouvir seu choro baixo a noite. Eu sentia dó, mas não podia fazer nada. Passamos por vários apertos juntas, no inicio não confiava muito nela, mas logo percebi que não tinha motivos desconfianças. Ela era batalhadora e forte.

Mas um dia ela simplesmente sumiu.

Ela saiu a noite para 'trabalhar' toda arrumada, e não voltou mais depois disso. Eu não tinha telefone, então não tinha como ligar para ela. Esperei quatro dias a sua volta, então fui atrás dela. Fui em seu emprego, falei com vizinhos ou pessoas que ela falava as vezes, mas não havia sinal dela.

Não podia fazer mais nada. Apenas segui relutante a minha vida, rezando todas as noites para que ela estivesse bem seja onde for.

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Acordei hoje com uma preguiça imensa, meus olhos não querem abrir de modo algum. Peguei um copo de água gelada e joguei no rosto para me despertar. Não que eu tenha algo para fazer, mas eu não posso me acostumar a acordar tarde.

Sento na cama e olho para o teto sujo e baixo da 'casa'. Como eu vim parar aqui?

Abaixo o olhos e observo minha carteira na antiga cama de Amanda. Tenho que arrumar um lugar para guardar meu dinheiro. Consegui juntar quase mil reais nesses meses, economizei cada centavo possível. Isso líquida pequena parte da minha conta. Mas já é grande ajuda.

Me levanto e pego o dinheiro guardando-o na minha bolsa. Hoje vou no centro da cidade e resolvo isso. Deito na minha cama e começo a ler um livro sobre a Escócia e viagens no tempo. A leitura me prende e eu me perco nela.

Esse Jamie e tão gato, essa Clare tem uma sorte... penso. Os protagonistas do meu livro estão casando agora e eu estou suspirando por eles quando de repente gritos me tiram da minha história e eu me levanto da cama no mesmo instante.

-Fogo!!! Fogo!! Saiam todos. - Alguém grita para alertar os moradores. Eu corro para porta e olho para uma fumaça preta a umas quatro 'casas' de distância da minha. Começo a entrar em desespero.

Várias pessoas passam correndo pela minha porta gritando e chorando. Eu estou paralisada.

- Corre menina, vai morrer aí!- Alguém grita para mim e me alertando. Eu pisco algumas vezes e sem pensar corro para meu quarto e pego minha bolsa e começo a encher minha malinha com algumas roupas que vejo pela frente. Pego meu livro e saio correndo pela porta o mais rápido que consigo.

Consigo sentir o cheiro de fumaça, meus olhos doem e minha garganta está se tampando. Corro entre as pessoas aflitas como eu desviando dos buracos no chão. Com muito custo consegui chegar até a rua de baixo.

Estou sem ar.

Me sento no chão e me vem uma forte dor no lado da cabeça. A mesma dor que sinti quando derramei o balde de sabão. A dor é pontiaguda e me deito do chão imundo até que ela alivie.

Me sento e olho para as pessoas ao meu redor, todas estão desesperadas. Provavelmente todas elas, assim como eu, não tem onde ir.

Olho para os barracos e meu coração aperta. Não me sentia parte daqui. Não estava ha muito tempo morando com essas pessoas, mas ver o fogo acabando com os únicos pertences delas me pesa a alma.

Uma hora depois carros da polícia e ambulâncias chegam até o local. Parece que algumas pessoas morreram no acidente.

Minha mente não parece acreditar e no fundo tudo parece só um pesadelo. Não... pessoas não perderam a vida aqui... não pessoas que eu via todos os dias...

Me levanto do chão e pego minhas coisas. Consegui resgatar a maioria dos meus pertences e felizmente peguei o básico que preciso. Olho uma última vez para meus ex vizinhos entristecidos na rua e sigo para longe.