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Nunca fui de guardar rancor de ninguém, quando brigo com alguém, no outro dia já converso com ela como se nada tivesse acontecido. Mas nesse momento, aqui, sentada na frente de Andrew Crewe algo dentro de mim se enfurece. Ele me causou muitos prejuízos me despedindo, está certo que derrubar agua nele não foi legal, mas é algo que ele poderia ter relevado. Por causa desse acontecimento tive que ir pra rua sem rumo nenhum e por uma incrível e inacreditável coincidência, eu encontro ninguém menos que sua própria filha.

O universo só pode estar com raiva de mim. Nada contra Isobel, obviamente, mas seu pai... seu pai é mais um arrogante que pensa que é melhor que todos, do qual eu quero de todas as maneiras manter distância.

-Então como encontrou minha filha? - Ele me tira dos meus pensamentos e quando dou por mim estou o encarando indiscretamente.

-Ela estava se afogando em um rio perto de onde estava, eu a ajudei a sair da água e cuidei dela desde então, até que vi o cartaz com o endereço dela e a trouxe de volta. - digo a verdade resumida.

Por dentro eu estou apenas pedindo a qualquer divindade que não passe pela cabeça dele chamar a policia ou abrir algum processo, se ele fizer isso estou mais perdida ainda. Ele não tem cara de piedoso, não, ele tem cara de quem guarda rancor e eu não quero enfrentar alguma tentativa de vingança.

Ai meu Deus! Onde eu fui me meter... eu não acredito que fui me envolver com gente poderosa.

- Entendo... - Ele não diz mais nada apenas me observa por alguns segundos, logo em seguida ele abre uma gaveta da sua mesa e tira o que suponho ser um talão de cheques. Observo enquanto ele começa a escrever no papel e termina com uma assinatura rubricada. Ele arranca o cheque do restante e o coloca na minha frente.

-O que é isso? - pergunto mas já sei a resposta.

-A recompensa que estava escrita no anúncio.

Eu pego o cheque e arregalo meus olhos. Trinta mil reais. Trinta mil por apenas trazer Isobel até aqui. Isso não deve ser muita coisa para ele, mas pra mim isso me salvaria. Mas não me sentiria bem pegando esse dinheiro, minha consciência não me deixaria dormir pelo resto da vida. Eu não cuidei de Isobel em troca de nada, eu cuidei dela porque ela precisava de alguém, ela estava sozinha e coincidentemente eu também.

-Eu não posso ficar com o cheque. - eu declaro.

- Olha, senhorita, por favor não me venha com showzinhos agora, se o cheque está com quantia muito baixa é só falar. Você pode ter trazido Isobel até aqui, e eu agradeço por isso, mas ninguém me garante o que fez com ela durante esse tempo. Acredito muito menos que você salvou a vida dela, e essa perda de memória me deixa muito mais apreensivo com você. Então o melhor que a senhorita pode fazer é pegar o cheque e me agradecer pois não chamei a polícia.

Assim que ele termina de dizer tudo o que precisa uma raiva me sobe e não consigo aguentar mais nem um minuto nessa casa. Ele está insinuando que eu sequestrei sua filha e fui a responsável pela sua perda de memória?

Olha... talvez eu tenha ficado com ela mais tempo do que deveria, mas caramba... eu não maltratei ela não.  Por favor Deus, não deixa ele me processar.

Me levanto da cadeira pouco me ligando para o drama que estou fazendo. Já não me basta perder Isobel, ainda tenho que aturar isso? Não mesmo, não sou obrigada a nada disso.

-Não fiz isso por você. Pense como preferir. Com licença, preciso ir embora. - Me viro e deixo o sr. Crewe e seu cheque para trás. Ele não diz nada, também não quero ouvir mais. A última pessoa que eu queria ver no mundo seria ele, e aqui estou eu.

No fundo eu só espero que ele não esteja me perseguindo para bloquear minha saída.

Saio do escritório e refaço o caminho até a porta principal. Assim que desço as escadas avisto o senhor que abriu os portões quando entramos.

-Senhorita, já está indo? - ele para na minha frente e cruza os braços nas costas.

-Sim, eu estou atrasada, poderia abrir o portão por favor?

-Claro, quando chegar lá ele já vai estar aberto.

-Obrigada. - apenas agradeço e sigo até a porta.

-Senhorita? - ele me chama novamente e eu apenas me viro. - Não ligue se ele for rude com você, esses dias foram torturantes para ele. Ele só está a protegendo, agora mais do que nunca.

-Não o culpo. - Talvez ele tenha razão, se eu estou triste por não ver uma menina que convivi durante uma semana, imagina para um pai perder a filha? Mesmo eu tendo raiva dele pelo meu emprego, por tentar proteger a filha não posso julga-lo.

- Obrigado por devolve-la, você parece uma boa pessoa.

-Fico feliz que pense assim. - Dou um sorriso amigável e ele vai embora. Me viro para sair, mas no mesmo instante topo com alguém e meu corpo é jogado para trás devido ao impacto, eu quase caio mas uma mão segura meu antebraço me impedindo de cair de costas.

-Cuidado, Não vamos quebrar nada por aqui. - ele mostra um sorriso perfeito e eu me endireito. Ele está todo de terno e eu me sinto um ninguém perto dele, com minha calça jeans camiseta e sapatilhas.

- Desculpe, eu não vi que estava atrás de mim. - estou muito sem jeito.

- Sem problemas, nunca reclamaria em esbarrar em alguém tão linda como você. - ele fala enquanto coloca duas malas enormes ao seu lado. Ele deve estar chegando de viagens.

- Muito gentil. - Não sei nem o que dizer perto dele. -Preciso ir, com licença. - Ele me dá espaço e eu passo por ele saindo pela porta. Depois de caminhar eternamente em volta da lagoa, chego até o portão que como dito está aberto.

Olho para trás, para onde deixei Isobel, respiro fundo e sigo meu caminho sem ela. Preciso me reacostumar.

Meia Noite e Um - Completo ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora