Quando acordo de manhã, me levanto e olho para minhas malas no chão, elas me fazem lembrar que preciso sair daqui o quanto antes. Escovo meus dentes e tomo um banho demorado, aproveitando o máximo que eu posso. Tomo meu último café aqui e não me importo de deixar a mesa bagunçada para que minha melhor vizinha arrume.
Pego minhas malas, Saio e não olho para trás, não quero lembranças daqui.
Assim que vou abrir o portão, ouço a janela abrir.-Não se esqueça de me mandar lembranças, querida. - Glória me pede. Ah como eu queria cortar cada bobs do cabelo dela com uma tesoura.
- Pode deixar Dona Glória, tente não morder a língua para não morrer envenenada. - Digo e saio pela rua.
- Haha você é hilária, vou sentir sua falta menina. - ela grita, ela obviamente não entende ironias mesmo. Penso. Eu a ignoro sem olhar para trás e continuo andando.
Ando o dia todo, estou exausta e nem sei pra onde ir. Fiquei um tempo em um parque, mas logo sai para procurar um lugar para dormir. Depois de perguntar para algumas pessoas nas ruas, acho uma pensão minúscula e alugo um quarto.
A noite, deitada na cama, não consigo dormir porque minha consciência pesou de não ter arrumado a mesa do café.
Alguns dias se passaram e eu não encontrei um emprego sequer.
Meu dinheiro está quase acabando e eu tenho que abandonar a pensão antes que eu fique totalmente sem nada.
Antes de anoitecer vou embora e fico sentada em uma praça olhando para o céu. "Sério Deus? Já não me basta isso tudo?" Digo e lágrimas começam a escorrer dos meus olhos.
Quando dou por mim, já são tarde da noite e eu não tenho onde dormir. Eu não tenho escolha. Escondo minha mala em um arbusto, mas antes pego uma manta e me deito no banco gelado cobrindo meu corpo e rosto, meu corpo estremece e eu rezo pra Deus me proteger e não deixar que nada de mal me aconteça nessa noite.
Não me sobrou dinheiro o bastante para achar algum teto, então minha única saída e passar a noite aqui e no outro dia tentarei me resolver. Adormeço, mas o medo está tão vivo em mim que no pouco tempo que consegui dormir tenho pesadelos até acordar no outro dia com alguém me empurrando.
- Levanta daí vagabundo, essa área aqui é minha, sai antes que eu te quebre. - Acordo em um sobressalto, tiro meu rosto das cobertas até ver a cara de um homem barbudo e seboso na minha frente. - Oh. É uma dama, santo Deus, me desculpe senhorita não queria incomodar. - Ele diz com uma risadinha nojenta. Deve ser algum morador de rua, a julgar pela sua aparência. Mas se bem que eu não estou muito longe de ser igual a ele no quesito de não ter onde cair morta.
Isso faz de mim uma moradora de rua também?...
- Me deixe em paz.
-Calma gracinha, só estou surpreso com uma mocinha como você dormindo por aqui. A farra de ontem foi boa né !?
Eu me levanto rapidamente levando minha manta comigo, esse homem me da medo. Dou a volta pela moita atrás do banco e puxo minha mala por lá antes de sair o mais rápido que podia dali. Mas antes que eu pudesse me distanciar, alguém segura meu braço. Eu quase lhe dou um tapa, mas quando vejo que é só uma garota eu recolho minha mão.
- Calma aí. Só quero ajudar.
-Desculpe, estou com pressa. - Me viro e continuo a andar
- Eu vi que você dormiu no banco. Se você não tiver lugar para ficar, eu posso te ajudar. - ela aumenta a voz. Não sei medir o quão desesperada por um lugar estou mas assim que ela termina a frase eu me viro automaticamente.
- Por que eu deveria confiar em você ?
-Então você não tem mesmo lugar para ir ? -
-Droga, não, não tenho.
- Olha, eu moro sozinha em um barraco, em uma invasão a uns dois quarteirões daqui. Tem um espaço sobrando, você pode ficar lá.- invasão? Barraco? Esse seria o último lugar que eu pensaria ir. Mas não tenho escolha, eu preciso de um lugar. Será que posso confiar nessa menina? A violência está tanta que nem sei. Mas ela não parece ser do estilo 'Ladra', ela tem uma pele morena radiante, seus cabelos encaracolados caem em seus ombros vazios, suas roupas são simples mas não vulgares, parece uma garotinha em corpo de adulta. Ela não me parece astuta o bastante para me sequestrar, levar minhas coisas ou algo do tipo, mas quem sou eu para julgar?
- Não sei...
- Vamos fazer assim, vou voltar aqui as 11 horas. Se você quiser vem comigo.- Penso um pouco, talvez seja minha única opção.
- Pode ser - Assim que falo isso, a menina me da as costas e sai. Sem dizer mais nada.
Saio da praça e procuro outro lugar para sentar. Não quero correr o risco de topar com aquele homem barbudo novamente.
Essa sensação de não ter um lugar garantido para descansar é horrível. Encontro um banco vazio de ponto de ônibus e me sento ali mesmo, estou pegando o lugar de passageiros, mas minha cabeça está tão cheia que nem me importo.
Não sei se devo confiar naquela menina, nem sei seu nome, mas eu também preciso de algum lugar para dormir. Não posso continuar a andar sem rumo. Depois de um hora pensando eu me decido, não tenho outra escolha.
Onze horas em ponto volto para praça em que dormi, me sento em um banco, mas não preciso esperar muito tempo pois a menina com quem falei mais cedo já estava vindo em minha direção.
- E então? Se você está aqui, quer dizer que vai comigo?
- Sim, eu vou. - Digo esperando alguma reação dela. Talvez alguma reação que me avise se ela não quer me matar quando virarmos a esquina.
- Eba!!! Sabia - Ela começa a bater palmas de alegria e me puxa do banco. - Vamos que eu ainda tenho que trabalhar hoje.- Ela diz sorridente. - Ah, meu nome é Amanda.
- Ah, o meu é Charlotte. - Digo meio sem jeito.
- É um prazer, nós vamos nos dar muito bem.
- Por que está fazendo isso ? Digo, me oferecendo moradia?
- Eu morava com uma amiga, mas ela casou mês passado e me deixou só. Eu odeio morar sozinha, estava procurando alguém, e achei você. - ela diz sorrindo.
Eu apenas concordo e continuo a seguir ela pela rua.
Gostei dela.Eu acho.
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Meia Noite e Um - Completo ✔
RomanceCharlotte está completamente perdida no Rio de Janeiro. Depois de derrubar um balde com água no chefe do seu chefe, Ela acabou perdendo o emprego e consequentemente o lugar onde morava. Mas a sua vida começa a mudar quando ela encontra Isobel...