Capítulo 2

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Duas semanas haviam se passado. Zamir e Katherine voltavam para casa depois de um exaustivo treino no centro poliesportivo da escola Ashland, em Ohio, onde estudavam. As aulas de educação física aconteciam todas as terças e quintas, sempre após as 14h. Katy aproveitava essas aulas para treinar coreografias, enquanto Zamir treinava arduamente com seu time de futebol.

— Você precisa parar de pegar no pé dele, Zamir.

— Mas eu preciso fazer isso. O pessoal não pode duvidar da minha liderança.

— Precisa? Você está sendo obrigado? Você já foi melhor que isso.

— Nossa! "Você já foi melhor que isso" — repetiu ele. — Quer ferir meu coração?

— Viu só? Você tem que parar de fingir que não se importa com as coisas. Poxa! Te conheço desde pequeno. Sempre fomos amigos. Nunca gostei desse seu jeito.

— Mas você precisa entender que eu mudei. E não foram só meus quarenta centímetros de braço. Gosto da posição em que estou. Você mais do que ninguém sabe que sempre fui muito magro e, quando não era caçoado, apanhava. — Zamir levantou um dos braços em noventa graus, expondo seus bíceps. — Eu já mencionei meus quarenta centímetros de braço? — gargalhou. — Ponho para dormir qualquer um que me desafiar.

— Viu só? É essa atitude que eu não gosto. — Viraram a esquina. Mais alguns quarteirões, estariam em casa. — Promete que vai respeitá-lo?

— Não vou te prometer nada.

— Ele não fez nada para você. Sei que no fundo, lá bem no fundo, tem uma pessoa boa aí — sorriu.

Zamir lhe deu uma rápida olhada. Ela encontrava-se com um leve sorrisinho metálico com a língua de fora. O brutamontes foi vencido pela simpatia e graciosidade da menina.

— Ok.

— Jura? Jura mesmo? Não acredito — ela pulou de felicidade. — Ernest vai ficar muito feliz em saber que não vai mais sofrer bullying de vocês. As palavras, às vezes, ferem muito do que um soco — piscou para o companheiro de caminhada.

— Quem é esse Ernest? — questionou Zamir, levantando as sobrancelhas com ar de dúvida.

— É aquele que senta ao meu lado.

— O balofo? — perguntou, surpreso.

— Ele se chama Ernest.

Zamir gargalhou.

— Sinto muito, Katy, mas esquece. Pensei que fosse aquele garoto magricela com orelha de abano. O balofo é meu maior trunfo. E esse nome? Ernest. Parece nome de um velho babão. Muito obrigado por isso. Já vou pensar em mais alguns apelidos para ele.

— Você nunca vai mudar mesmo. E eu aqui pensando que havia encontrado a luz no fim do túnel.

Zamir sorriu no instante em que um estrondo aconteceu. O barulho ensurdecedor se assemelhava a um raio, que viera a cair a algumas quadras dali. Mas não havia sinal de chuva. O céu estava limpo há dias.

Novamente o barulho. Desta vez, próximo deles e muito mais agudo. Imediatamente, ambos imaginaram um gigante arranhando uma enorme lousa. Zamir e Katherine olharam para todos os lados, assustados.

As ruas e casas estavam desertas. Via-se, bem distante, uma senhora levando duas sacolas de compras pela calçada. Logo o chão começou a estremecer e as árvores balançaram descontroladamente. Katy gritou. Zamir tentou ampará-la, dizendo que tudo ficaria bem, mas ele não sabia o que essa palavra significava naquele momento.

Gritos também podiam ser ouvidos dentro das casas ao redor. E, assim como tudo começou, em uma fração de segundo, cessou. As árvores pararam de chicotear. Algumas poucas foram arrancadas. O chão não mais estremecia. Um pequeno rastro foi deixado na rua. Ao fundo, uma criança chorava. Katherine então saiu do transe em que, sem permissão, havia entrado.

PROTETOR DA GALÁXIAOnde histórias criam vida. Descubra agora