Capítulo 25

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Sou o próximo, pensou Zamir em seu canto.

Fuku apertou levemente o ombro do companheiro numa tentativa de tranquilizá-lo. — Boa sorte.

O garoto de longas madeixas grunhiu e levantou-se rapidamente do assento. — Preciso me concentrar, e você está me atrapalhando, seu cabeça de ovo.

Zamir saiu cabisbaixo do recinto. Penteou sua cabeleira com os dedos e coçou a ponta do nariz. Sabia que a batalha aconteceria em algumas horas. Atravessou o extenso corredor e, descuidado, trombou em alguém. Infelizmente, não era possível observar o sujeito, pois ele vestia um manto preto com capuz que cobria todo seu corpo, além de luvas, coturno e uma máscara marrom que parecia um bico de ave.

— Desculpe, eu...

— Tudo bem. Nos vemos na arena — respondeu o aparente homem enquanto arrumava seu capuz. Por um breve momento, Zamir viu uma careca similar a de Fuku.

Haveria mais um humano entre eles ou seria mais uma espécie muito parecida com a humana? Não saberia a resposta e nem queria naquele momento. Foi ao encontro da única pessoa que confiava. Encontrou-a conversando com Ernest sobre os personagens mais fortes dos jogos de videogame. Ao notá-lo, Katy correu para abraçá-lo.

— Você vencerá — disse ela.

— Eu estou com medo, Katy.

Essas palavras significavam muito para eles. Zamir não costumava se abrir, e Katy sempre o cobrara por isso. Esse era um dos motivos principais de suas discussões. Mas ali estava ele, vulnerável. Katherine pegou-o pelo braço. — Vamos conversar.

Ernest tentou avisá-la que uma lista importante estava sendo formada naquele momento, mas distraiu-se com a chegada de Fuku.

— Ernest Smith para o Canal 13 — brincou, simulando com uma das mãos um microfone. — Como você se sente vencendo sua primeira luta?

— Normal.

— Preciso de mais emoção, senhor. "Normal" não é uma boa resposta.

— Eu me sinto maravilhosamente bem. Sublime. Formidável. Fantástico. Estupendo. Magnífico — respondeu Fuku sarcasticamente.

— Muito bom! E o que senhor achou de seu motivador? Além de possuir uma beleza inconfundível, o que mais tem a dizer sobre ele?

— Ele é bem esquisito.

Ambos riram. EnlaiT apareceu lambendo algo que, a julgar pela forma e aparência, deveria ter um gosto duvidoso. Abraçou Fuku por trás, o que deixou o rapaz um pouco constrangido.

— Você lutou bem, NI. Acho que ninguém imaginou que venceria.

— Eu sabia que ele venceria. O Doutor Evil pode parecer fraco, mas não é.

— Doutor...?

— Esquece, EnlaiT, você não entenderia a referência — respondeu Smith, dando alguns tapinhas no ombro do marciano. — Fuku, você está a fim de dar uma volta? O EnlaiT encontrou uma barraquinha que vende produtos da Terra. É nossa chance de... — pausou ao perceber que o amigo estava distraído. — Fuku? Fuku? Planeta Terra chamando — estranhou ao dizer esta última parte.

— Cadê ela?

— Katy saiu para conversar com Zamir.

— Conversar? — Fuku levantou as sobrancelhas.

— Eu a vi caminhando de mãos dadas com ele, NI — anunciou inocentemente EnlaiT.

— Fuku, não é o que você está pensando — acalmou Ernest. — Zamir está apreensivo demais com a luta e veio conversar com ela.

O chinês não estava mais escutando o amigo. Seus pensamentos iam e vinham. Duas palavras martelavam sua cabeça: mãos dadas.

 Duas palavras martelavam sua cabeça: mãos dadas

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Katherine e Zamir caminharam em silêncio. Ela aguardava que ele se abrisse. Ele esperava que ela tomasse a iniciativa. Já que não veio, finalmente disse:

— Katy, você me conhece como ninguém. Você sabe que, por trás deste corpo musculoso — sorriu —, sou inseguro.

— Zam, você sempre foi confiante e determinado. Por mais que eu me irritasse às vezes por causa disso, foi essa confiança e determinação que me conquistou — disse ela.

Zamir levou as mãos sobre o rosto e esfregou os olhos. Podia sentir as lágrimas despontando. — Como nós deixamos nosso relacionamento chegar a isso?

— Nós? — ela respondeu abruptamente.

— Eu... você... nós... — balbuciou o rapaz enquanto penteava seu cabelo.

— Esqueceu o que fez comigo?

— Foi apenas uma vez, e foi sem querer.

— Uma vez? — Katy se irritou.

Zamir desviou o olhar. — Eu bebi demais e...

— Você me feriu — disse secamente.

— Mas eu mudei. Você sabe disso.

— Eu sei, mas mesmo assim é difícil esquecer. Então não me venha com desculpas sobre ter bebido demais, a força que usou para me segurar, machucou meu braço. Sempre te falei que você precisa se controlar. Eu tive que esconder da minha mãe as duas vezes. — a menina se calou. A lembrança ainda a magoava.

— Não me cansarei de me desculpar. Do fundo do meu coração, perdoe-me pelo mal que lhe causei. Quero me desculpar antes que seja tarde demais.

A garota mordiscou o lábio. Não soube o que responder. Uma rápida lembrança passou por sua cabeça. O início dos bons tempos. Seu corpo imediatamente se aqueceu e a acalmou. Era feliz e amava Zamir profundamente. Por fim, veio o término, e o motivo de ter tomado aquela decisão. Preferiu desviar aquele pensamento, afinal já havia superado. — Você precisa vencer — disse, dando um caloroso abraço nele.

Caminharam calados entre algumas barraquinhas. — Está melhor? — perguntou ela.

— Bem melhor. Sua presença me faz bem. Foi por isso que te convidei para ser minha motivadora no torneio. Não imagino outra pessoa.

— Bobo — sorriu Katherine, desconcertada, dando um leve soco no ombro do amigo. Por acaso, encontrou seus amigos em uma das barracas. Fuku foi o primeiro a avistá-la, porém o ciúme bloqueou a vontade de se aproximar. Enquanto EnlaiT a abraçava entusiasticamente, Ernest terminou de comprar uma câmera digital profissional Polaroid.

— Reúnam-se, reúnam-se — gesticulava sem parar. — Quero registrar este momento — o mexicano falava em um tom mais afoito e eufórico que o comum. Ajeitou sua câmera em um ponto estratégico sobre um toco e selecionou a opção foto automática em quinze segundos. Correu para próximo do grupo.

Zamir puxou Katy para perto de si e a envolveu num abraço. Ele sorriu. Ela envergonhou-se. EnlaiT e Ernest fizeram sinais de vitória com os dedos em uma pose esquisita. Fuku não conseguiu tirar os olhos de Katy. Quando a foto foi tirada, os olhos da garota se encontraram com os dele brevemente, eternizando aquele momento.Ernest correu para visualizar a foto impressa. Abanou o pequeno papel retangular e deu leves assopradas. Por fim, a imagem apareceu. Gargalhou. Triângulo amoroso? Não sei, mas acho que já vi isso em algum lugar. Talvez em todos os filmes, livros, séries e novelas?, pensou consigo.

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