PROTETOR DA GALÁXIA

Capítulo 38

A cena foi reprisada no telão sob aplausos de alguns. O locutor narrava com uma empolgação forçada. O cenário desapareceu e o piso voltou ao normal. Os assistentes logo entraram para a retirada do corpo e limpeza do local.

Fuku estava ajoelhado, ainda em estado de choque. Não queria olhar para o lado, pois sabia que Katy estava em prantos. Fechou os olhos e respirou fundo.

O locutor se encaminhou para o centro da arena.

— Os participantes da Terra sempre nos brindaram com essa carga emocional. É típico deles, e isso é muito lindo de se ver nas batalhas. Agora que estamos nos aproximando do fim, não restam dúvidas: os apadrinhados de Deus realmente se mostraram superiores. Alguém aqui duvidou que eles estariam na final? Eu nunca! — gaguejou. — Mas aqui estamos. Depois dessa vitória sanguinolenta, temos o participante que gosta de matar. Impetuoso e vigoroso, ele adquiriu poderosas auras, mas será que tem condições de disputar com Zaphatar? Veremos! — pausou. — Em contrapartida, temos o incrível Categoria Sete. Sim, incrível! Até agora, ninguém conseguiu explicar como um Nível Baixo está na final. Ele já demonstrou ser um participante com virtude e compaixão. Serão esses seus pontos fracos? Veremos isso e muito mais quando o sensacional duelo começar! Mas, agora, pare tudo que está fazendo e ligue antes que as linhas congestionem. As dez primeiras criaturas que ligarem terão um desconto de 50% no incrível . Esse afável robozinho, além de filmar, tirar fotos e reproduzir música, te ajuda nos afazeres domésticos. Ainda vem com controle remoto e um brinde surpresa que vocês irão adorar. Vale lembrar que entregamos em qualquer lugar da nossa galáxia. Corra e ligue agora! O tempo está se esgotando — o locutor sorriu desconcertado para o seu robozinho, que filmara tudo e transmitira para toda a galáxia.

Fuku esfregou os olhos e fungou. Os braços amoleceram e seguiram o movimento do corpo. Por quê? Por que ele teve que morrer desse jeito?, pensou, indignado. Então uma voz rouca e poderosa surgiu no íntimo de seu ser. Uma voz conhecida. Deseja um pouco do meu poder, escolhido? O garoto não titubeou e gritou para o céu:

— Sim! Eu desejo! Dê a mim todo o seu poder! — berrou em desespero.

Então tudo cessou. Aquele sentimento ruim em seu corpo desapareceu. Fitou Tao ao longe, rindo. Sua respiração e seus batimentos aceleraram, e ele ofegou. O chinês fechou os punhos, concentrando sua energia. Suas vestes se mexiam como se um vento as soprasse de baixo para cima. A movimentação se intensificou e tudo ao redor começou a se levantar no ar. Sentiu de repente uma dor anormal na lateral da cabeça, mas não cedeu. Gritava sem perceber.

— Participante Nível Baixo, Categoria Sete, o senhor poderia parar com isso? Estou tentando finalizar o discurso — o locutor tentou.

Mas Fuku não ouviu.

Seu corpo mudou vertiginosamente. As tatuagens escondidas pelas ataduras afloraram e se ramificaram, tomando-o por completo. Seu corpo se envolveu em um brilho cintilante, não sendo mais possível distinguir boca, orelhas ou nariz. Seus olhos embranqueceram como leite. Fuku ficou parecido com Arkor, porém, ao invés de chamas avermelhadas, estava coberto por um fogo azul claro. Não do tipo que queimava; um fogo que vinha de dentro, como seu ki emanado.

— Mas o que é isso? O que estamos vendo? É inacreditá... — o locutor foi interrompido pela súbita movimentação de Fuku, que partiu a toda velocidade para cima de Tao. Surgiu rapidamente na frente do inimigo e, com violência, transferiu um potente soco. Sua velocidade era colossal. A energia emanada fez com o que os assistentes presentes na limpeza da arena levitassem e estagnassem no ar. O tempo havia parado. A plateia não mais se mexia. O locutor estava congelado com o microfone roxo próximo da boca em uma expressão engraçada e os motivadores se abraçavam, lamentando a morte de Zamir. Diante do inimigo, Fuku violentamente transferiu um potente soco, mas foi tão veloz que ninguém viu o que aconteceu. Para aqueles que assistiam e acompanhavam o impasse da arquibancada, foi como se o participante se teletransportasse e acertasse o antigo amigo. Apenas com a reprise no telão foi possível notar tal feito.