— Você está bem?
— Não te interessa! — Um rapaz encontrava-se ajoelhado em meio a uma arena de batalha destruída. Notava-se alguns machucados aqui e acolá.
— Calma, Zamir, só quero ajudar — gritou Fuku no extremo da arena.
— Ajudar? — resmungou Zamir. — Você quer é mostrar para todos o quanto sou fraco. A plateia já escolheu um vencedor, não percebeu?
— Não pense assim — disse Fuku, aproximando-se do companheiro. — Você terá outra oportunidade de lutar comigo.
— Vou acabar com você, seu verme!
O juiz, então, começou a contagem. A torcida gritava e vibrava. A arquibancada sacudiu. O torneio voltou a pegar fogo.
— Zamir, prometa-me que vencerá. — Fuku estendeu a mão a fim de ajudar o garoto a se levantar.
— Eu não preciso prometer nada a você! E muito menos preciso da sua ajuda. Essa luta já terminou. — Em um solavanco, Zamir ficou de pé.
A torcida voltou a gritar. A luta recomeçaria. — Ele está de pé! — gritou o juiz, eufórico. — Quem está torcendo por ele? — A maior parte da plateia vaiou. O juiz aproveitou e iniciou uma breve apresentação dos lutadores. O corpo do homem era raquítico e sua aparência seria a de um ser humano, não fosse pelos pequenos chifres em sua testa e a cor vermelho-coral. Vestia uma roupa protetora similar a de um jogador de futebol americano. — Esse é Zamir Clark. Assim como Fuku, ele foi apadrinhado pelo ex-Protetor da Galáxia, Deus. Seu poder de aura é de controlar e modular as ondas sonoras. Zamir tem 22 anos na Terra, o que para nós significa que ele é um ser insignificante. Não quero menosprezá-lo, mas ele tem muito menos que uma era. Agora, vamos falar de Rhangar! — A plateia foi ao delírio quando ouviu o nome do grandioso dragão verde-escuro com roupas medievais de couro fervido. — Com quatro eras, e conhecido por ser impetuoso, o patrono do planeta WASP-1b tem o poder de aura de voar e cuspir labaredas flamejantes!
Diferentemente de Fuku, que tinha o corpo definido, Zamir era robusto, mas musculoso. Sua aparência não mudara muito desde o tempo na Terra, apenas seus músculos se desenvolveram mais. Muito mais. Vestia a mesma roupa de seu último dia na Terra: calça jeans marrom-clara, tênis e camisa preta de manga curta. Seu cabelo era longo e preto, e suas feições se assemelhavam as de algum chefe de gangue reprovado por ter um traço delicado. Fora o lançador do time de futebol americano e o mais popular em sua época de faculdade.
Zamir olhou para cima, observando Rhangar voar. Havia uma similaridade confusa entre o céu azul-esverdeado e a cor do ser alado. — Ei, sua salamandra fedida! — provocou, sem se preocupar em explicar o que era uma salamandra ao seu oponente. — Você já está cansada? Não era você que havia dito que me venceria com um golpe? — Sentiu o gosto de sangue na boca. Cuspiu. Os olhos estavam compenetrados em seu oponente. Gargalhou copiosamente. Levantou os braços, simulando estar indefeso, e imitou uma galinha cacarejando.
— Cuidado, Zamir — alertou Fuku, preocupado —, você está deixando-o nervoso, e você já viu do que ele é capaz. Não teste sua paciência.
— Cale a boca! Não pedi sua opinião, pedi?
Ao perceber o jovem garoto distraído, Rhangar partiu em disparada com um potente rasante. Fuku até tentou gritar "cuidado!", mas não houve tempo; Rhangar era muito veloz. Por sorte, Zamir também era. Bem próximo de sofrer o ataque, o garoto deu um impulso e jogou seu corpo para a direita, fazendo o dragão cortar o vazio. Antes que Zamir caísse na frígida arena, gritou. Suas cordas vocais vibraram. A barreira do som foi quebrada e uma onda sonora atropelou o patrono do planeta WASP-1b, arremessando-o longe. O barulho foi ensurdecedor. Claro que apenas para Rhangar, pois uma barreira protegia a plateia de qualquer coisa relacionada ao torneio. Tudo não durou seis segundos. Levantou poeira do local onde estava o oponente abatido. Pedaços de pedregulhos e outros rejeitos ainda esvoaçavam no ar.
Um silêncio mórbido se instalou enquanto a poeira assentava. Ouviu-se, então, um grito do juiz:
— Vitória para o apadrinhado da Terra, Zamir! — Os torcedores se calaram. Espantados, não sabiam como reagir. Alguns arriscaram palmas, outros apenas se entreolharam. Não havia nada mais a ser feito. Rhangar estava atirado no chão, desacordado, afrontando quem ousasse duvidar de sua derrota.
Fuku correu até seu companheiro e deu dois tapinhas nas costas do homem. — Você venceu! Parabéns! — sorriu e levantou o polegar em um sinal de "positivo", porém não houve correspondência. Zamir cruzou os braços e saiu de cena, deixando o terráqueo sem jeito.
— Não liga para ele, não. Você sabe que ele é orgulhoso. Sempre foi assim — disse Katherine.
— Eu sei, Katherine, mas vou continuar tentando. — Fuku levantou os braços até a cabeça e cruzou-os. Solícito, sorriu.
Katherine Lewis tinha 22 anos, cabelos negros até o ombro e olhos verdes. Trajava um vestido cinza-claro com gola polo branca. Além de cursar nutrição, era a líder de torcida do time de futebol americano da mesma faculdade de Zamir, e considerada a garota mais linda do campus. Mas nem sempre ela foi assim, tão bela. No colegial, usava um terrível aparelho fixo com bráquetes metálicos azuis nos dentes, além da espessa cabeleira que cobria seu rosto por conta de suas espinhas, que teimavam em eclodir como vulcões em erupção.
— Vocês dois — a garota fez uma cara de reprovação. — Já se esqueceram do que está em jogo? Vocês deveriam parar com essas briguinhas bobas e focar no objetivo principal. E, antes que me esqueça, eu já pedi para parar de me chamar de Katherine. Você está me irritando, e não queira descobrir como eu fico quando estou irritada.
— Mas eu estou focado. Muita coisa mudou desde aquele dia. Pare e pense. Olhe para nós. Quanto tempo já estamos aqui? Estou muito diferente de quando me viu pela primeira vez, não é Ka-the-ri-ne? — um meio sorriso de canto de boca surgiu.
— Realmente você está muito diferente! E coloque ênfase no "muito". Seu cabelo, seu rosto, seu... corpo — a garota envergonhou-se, corando.
Fuku realmente havia mudado muito desde o tempo em que se conheceram na Terra. Seus cabelos haviam crescido, um ralo cabelo preto, liso e levemente arrepiado. Para Katy, ele estava mais bonito. Talvez porque só existisse três seres humanos do sexo masculino onde ela vivia. Talvez porque os olhos de Fuku eram de uma tonalidade bem diferente, um azul muito claro, tão claro que refletia quem olhasse. Enormes bolas de gude cintilantes. Katherine estava hipnotizada por aqueles olhos. Vai saber. O fato era que ela nunca havia notado tanto ele quanto nos últimos dias. E Fuku sempre foi um ser, digamos, peculiar.
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PROTETOR DA GALÁXIA
FantasyDeus nos protegeu por muito tempo. Porém, após ser derrotado pelo temível Zaphatar, um novo torneio foi aberto nos confins da galáxia. Agora cabe a Fuku, um pacato chinês, e seus amigos deixarem suas vidas na Terra para uma jornada repleta de desafi...