Capítulo 39

331 41 27
                                    

Senhor, precisamos fazer a votação do cenário, e o evento final está marcado para amanhã. — Percebendo que não teria resposta, o juiz fez sinal para os assistentes. — Deixem sem cenário. Apenas a arena basta. É a última luta mesmo, podem deixar que a destruam.

— Categoria Sete, como você fez isso? Que aura é essa? Como foi que... — Zaphatar calou-se ao perceber que Fuku não prestava atenção. — Estou falando com você, Categoria Sete.

Fuku estava em choque. Nada fazia sentido. Suas mãos mancharam a calça de sangue ao se levantar. Seu rosto parecia uma toalha branca salpicada de molho de tomate. — Eu desisto — disse, para surpresa geral.

— Você o quê? — Zaphatar se enfureceu. — Você jamais desistirá. Você lutará comigo, quer queira, quer não.

— Não foi para isso que eu vim aqui! Eu não sou um assassino!

O Protetor da Galáxia interino sorriu maliciosamente. — Acho que você precisa de um pequeno incentivo. — Esticou o braço em direção ao banco dos motivadores do terráqueo, lançando uma bola de energia roxa.

A esfera atravessou a arena em alta velocidade, mas, antes que pudesse atingir todos que ali estavam, Fuku surgiu planando, tão rápido que seus pés nem tocaram o solo, e a chutou com toda força, fazendo-a explodir no extremo da redoma. Com elegância, aterrissou de costas para o inimigo.

— Viu só como matar um participante tem suas vantagens? Foi graças a ele que você conseguiu essa aura — provocou Zaphatar.

— Vocês estão bem? — Fuku perguntou para Katy e Ernest.

— Você precisa vencê-lo. Não foi sua culpa o que aconteceu com Zamir e Tao. Você não é assim. E não se esqueça: foque nos cubos nas costas de Zaphatar. Sem eles, ele não é nada — disse Katy categórica.

Fuku confirmou com a cabeça confiante. — Agradeço a preocupação. Ainda há muito para eu entender. Não sei o que tenho, mas há algo dentro de mim. Eu queria desistir. Queria que tudo terminasse, para que voltássemos ao nosso mundo — respirou fundo e olhou para as ataduras em seu braço, ainda umedecidas pelo sangue de Tao. — Vencerei este torneio por todos nós! — sorriu sem vontade, cumprimentando os amigos com um soco no ar de punho fechado.

— Fuku, arrase, e acabe com ele. — Ernest piscou para ele e entregou-lhe o ipod.

O garoto estalou o pescoço, posicionou os fones e selecionou uma das músicas que mais gostava, The Final Countdown, da banda Europe. Olhou para Zaphatar, respirou fundo e ergueu seu joelho esquerdo até o umbigo. Os braços encolheram para próximo de seu queixo. Aguardou graciosamente o adversário na pose do macaco.

Zaphatar gargalhou ao vê-lo daquele jeito. Irritado pela demora em iniciarem a luta, o Protetor da Galáxia interino partiu para cima de seu adversário. Fuku o aguardava pacientemente. Ele havia ficado fora de si na luta contra Tao e precisava manter-se no controle. Não perderia sua essência. Faria o possível para usar suas técnicas somente para defesa, conforme seu código filosófico número um. Zaphatar aproximou-se de Fuku em alta velocidade, lançando um potente soco giratório de cima para baixo, mas o garoto não fez aquela pose por acaso; afinal o estilo do macaco baseava-se na força das pernas. Então, antes que pudesse receber o golpe, o garoto deu um salto para trás, fazendo Zaphatar acertar o chão. Poeira e detritos foram levantados. Os motivadores do terráqueo se abrigaram de qualquer jeito debaixo do teto da estrutura que lembrava um ponto de ônibus da Terra.

O juiz rapidamente acionou uma barreira de proteção para eles. — Não saiam daí — disse.

Zaphatar não perdeu tempo e atacou novamente. Fuku mais uma vez se esquivou. E de novo. A cada golpe, mais e mais destroços eram erguidos, deixando o terreno disforme. A plateia delirava, enquanto o locutor estava mais aflito do que nunca. Mal conseguia narrar, tamanha a pressão da luta. Gaguejava entre uma frase e outra.

Após dezenas de tentativas fracassadas, Zaphatar finalmente encontrou um ponto vulnerável no oponente. Todavia, Fuku previra aquele golpe. Lançou-se em um belo mortal para trás, caindo na pose da águia. O chinês esticou os braços para o alto e flexionou os joelhos para baixo.

No instante em que Zaphatar se aproximou para tentar mais uma investida, Fuku agarrou com as duas mãos o braço do adversário e o derrubou de costas no chão. Nada se ouviu da arquibancada. Os torcedores estavam atentos.

Zaphatar se levantou, ainda mais enfurecido. Salivava de suas centenas de cartilagens ásperas pontiagudas. — Você pensa que me vencerá, Nível Baixo, Categoria Sete? Não! Você é fraco! — Suas tatuagens afloraram no mesmo instante.

Fuku sentiu o corpo ser puxado por alguma força até Zaphatar. Seus pés deixaram de sentir o chão. Não tinha mais controle sobre o próprio corpo. Zaphatar o agarrou pelo pescoço. — O torneio termina agora — sentenciou, apertando com toda força o pescoço do garoto. Parou somente quando ouviu o estalo do osso quebrando. O kapteyriano finalmente soltou Fuku, que caiu pesadamente no frio chão da arena. Apenas algumas poucas palmas se manifestaram.

Os olhos vermelhos de Zaphatar se estreitaram e fecharam. Seu rosto demonstrava felicidade. Então cuspiu no corpo inerte. — Fracote! — finalizou, chutando-o para longe da arena. — Você não vai anunciar o vencedor? — disse, olhando para o juiz.

— Ma-ma-mas se-senhor... — gaguejou o locutor, apontando para Fuku. — Ele está vivo.

— O quê? — o Protetor da Galáxia interino se virou para olhar.

— Olá! — disse Fuku, sorrindo e abanando a mão em cumprimento.

— Era para você estar morto. Eu... — pausou. — Você usou sua aura, desgraçado.

— Não só a minha.

— Como assim?

Em movimentos rápidos e poderosos, Fuku usou o estilo leopardo para atacar o lado esquerdo do adversário. Golpeou seus pontos vitais, os punhos agindo como pequenos machados. Mas tudo não passava de uma distração e, em um momento oportuno, Fuku agarrou e retirou um dos cubos das costas do adversário.

Zaphatar sentiu sua energia desaparecer. Uma de suas pernas bambeou, fazendo-o cair de joelhos. A plateia ficou chocada. O terráqueo utilizou a coxa do adversário para tomar impulso, chutando-o para longe. O kapteyriano quicou duas fortes vezes, deixando crateras no chão.

A arquibancada aplaudiu fervorosamente. Zaphatar apoiou os joelhos e as palmas das mãos no piso claro da arena. Rugiu. Sua mandíbula doía. Então sentiu um gosto estranho. Um gosto que há muito não sentia. Cuspiu o líquido amarelado. Sangue. Não era possível. Precisava fazê-lo sofrer. Sorriu ao olhar para o grupo de motivadores do adversário.

— Por Senhor-de-tudo-e-de-todos! Vocês viram o que acabou de acontecer? Que luta magnífica. Palmas para os nossos campeões! Fuku acertou Zaphatar em cheio! Estamos vendo um Nível Baixo derrotar um Nível Alto? É isso mesmo? Vocês da arquibancada, e todos que estão nos assistindo, hoje é um dia para ser lembrado. Anotem o que estou dizendo: algo incrível está acontecendo aqui. Mas... esperem. Ele está se levantando. O combate ainda não acabou! Pelo contrário, está só começando — pausou para umedecer a boca. — Será que Zaphatar vencerá? Ou Fuku será o vencedor? Para quem está a torcida de vocês?

Surpreendentemente, a arquibancada gritou em peso: Fuku! Fuku! Fuku!

PROTETOR DA GALÁXIAOnde histórias criam vida. Descubra agora