Capítulo 13

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Fuku não soube dizer por quanto tempo ficou apagado; poderia ter sido apenas um segundo ou horas. A dor que sentira desaparecera por completo. Tentou se levantar, mas ainda estava tonto. Katy o ajudou.

— Você está bem? — ela perguntou.

— Estou. — Ele esfregou os olhos. — Eu bati a cabeça? Ela está dolorida. O que houve?

A garota não sabia o que responder. Não tinha palavras para aquilo. Levantou-se devagar e apontou para o céu.

— O que é aquilo?

Diante da pergunta de Fuku, Ernest retirou seu smartphone do bolso para acompanhar as notícias, visto que rapidamente o céu se enchera de helicópteros.

"É inacreditável! Surreal. Olhem o tamanho dele. Não! Definitivamente ele não é humano", um repórter exclamava de dentro do helicóptero para milhares de telespectadores que o assistiam ao vivo.

Outro helicóptero se aproximou.

"Vocês estão vendo o que eu estou vendo? Estão voando. Voando! São... duas pessoas?", estranhou quando disse "pessoas" no final da frase. "Um deles... eu não consigo ver seu rosto, pois ele está coberto com um manto e um capuz. Já o outro, ele... ele está sendo enforcado?", o repórter gritava, excitado, fora do contexto e padrão da emissora. "Esperem! Agora ele está... O que está acontecendo? Ele está olhando para mim. Não pode ser humano. Ele é imenso. Desculpem, não sei se consigo passar toda a tensão da situação, mas ele deve ter pelo menos três metros de altura", ofegou. "Pessoal, vocês estão vendo tudo isso? É inacreditável", respirou fundo. "Esperem, agora...", o repórter levou a mão à boca, chocado. "Ele está apontando para mim. Vamos nos aproximar mais um pouco. O quê? Será? Sim! Ele sinalizou para eu entregar o microfone para ele. Parece que ele quer se comunicar conosco." Mal terminou de falar, seu microfone começou a vibrar intensamente. O repórter não conseguiu segurá-lo por muito tempo e o soltou. O objeto voou diretamente para a mão do misterioso ser. Todos prenderam a respiração.

Uma respiração densa ecoou pelo instrumento. Não era possível ver o rosto ou corpo daquilo que parecia ser um homem. Sua mão, duas vezes maior que o microfone, continha uma espécie de luva metálica escamosa com garras similares as de um gavião. Então começou a falar. Um som inaudível inicialmente. Depois, a voz foi se modulando e, como mágica, todos passaram a ouvi-lo. E entendê-lo.

— Terráqueos — uma voz assustadoramente chiada e grossa falou —, eis seu defensor. Seu... patrono. Por centenas de milhares de anos, Deus foi o protetor desta galáxia, mas seu reinado terminou. — O tom de voz aumentou. — Este planeta, que ele tanto ama e defende, assim como todos desta galáxia, ficará desprotegido. O torneio terá início e, quando eu for oficializado Protetor da Galáxia, a Terra deixará de existir — gargalhou alto, soltando o indivíduo que estava sendo enforcado e desaparecendo em seguida.

A criatura emitiu um ruído tenebroso que poderia ser uma gargalhada ou algo pior. Tão logo terminou seu discurso, sumiu dos céus em um singelo piscar de olhos humanos. O microfone caiu pesadamente no chão, e outra coisa mais junto com ele; o enforcado.

O céu voltou a clarear enquanto o sol emanava seu último requinte de calor e conforto. As câmeras tentaram de toda forma gravar aquele momento, porém o misterioso ser desapareceu dos olhos de quem o assistia pela TV.

 As câmeras tentaram de toda forma gravar aquele momento, porém o misterioso ser desapareceu dos olhos de quem o assistia pela TV

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Ernest gritava sem parar. Desconexo. Alucinado. Admirado. Por muitos anos, imaginara e sonhara com coisas além da compreensão, como aquela. Fuku também não sabia o dizer.

Katy até tentou controlar a situação. — Pessoal, acalmem-se. Aquilo foi embora. E seja lá o que for o outro, caiu a algumas quadras daqui. A polícia saberá o que fazer — disse.

— Foi perto da casa do meu tio. — Fuku deu as costas para a sacada. — Eu vou lá.

— Eu vou com você — emendou Ernest sem pestanejar.

Mesmo com medo, Katy confirmou com a cabeça.

— Se ela for, eu vou também. Não deixarei que ela corra perigo. — Zamir surgira como um fantasma.

— Eu sei me defender, Zamir.

— Claro que sabe. Mas não vou arriscar. Se você for, eu vou. Fim de papo.

Os três amigos se entreolharam, como não vendo saída a não ser levá-lo junto. Por fim, viraram-se para o elevador, o que Zamir entendeu como concordância. Somente naquele momento se deram conta de que estavam sozinhos no terraço; todos tinham ido embora durante a confusão.

Os quatro correram. Atravessaram a esquina. Andaram mais alguns poucos quarteirões até chegarem na rua desejada. Aquela rua sempre foi tranquila e deserta, motivo pelo qual Ge Shui escolheu o bairro. Fuku apontou então para uma residência de paredes avermelhadas. — É aqui que eu moro.

O grupo foi logo adentrando o recinto. As luzes estavam apagadas. O careca os guiou para que não tropeçassem nas quinquilharias do dono da casa.

— Será que ele saiu? Está muito calmo aqui — disse Ernest em voz baixa.

— Meu tio não costuma sair. Ainda mais nesta hora.

— Então ele deve estar dormindo.

— Pode ser, mas ele costuma dormir no sofá depois de muito saquê. E por que está falando baixo?

— Não sei também. Talvez seja o momento ou talvez... — uma mão tocou seu ombro, fazendo-o gritar descontroladamente. Fuku riu ao perceber que se tratava de seu tio.

— Quer me matar do coração? — Ernest abaixou-se, colocando as mãos sobre os joelhos, ofegante.

— Tio, esses são Katy, Ernest e Zamir. Pessoal, esse é meu tio Ge.

O senhor de estrutura curvada se desculpou pelo ocorrido. Não queria assustar ninguém. Mas Fuku notou que seu tio estava estranho, aflito. Gesticulava mais do que o normal. Alisou suas madeixas nos extremos da cabeça. Foi até a janela e olhou para um lado e para o outro no aguardo de alguma movimentação. Esfregou uma mão na outra. Estalou os dedos. Parecia uma coruja na hora de caçar.

— Tio, o que está acontecendo com o senhor?

Silêncio.

— Tio?

— Desculpe. Eu... eu... — começou a balançar um dos pés freneticamente. — Não sei como começar... como explicar.

— Comece pelo início — sorriu Fuku.

— Ele... ele... — respirou fundo. — Ele está aqui.

— Quem está aqui? — quis saber Katy.

— O homem que caiu do céu.

PROTETOR DA GALÁXIAOnde histórias criam vida. Descubra agora