Capítulo 3

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No outro dia, Katy acordou alegre e disposta. Não acreditara, mas dormira incrivelmente bem. No começo, até pensou que tudo não havia passado de um estranho sonho. Ou pesadelo, como preferir. Porém, após escovar os dentes e se trocar, encontrou, na sala, sua mãe sentada no sofá com a TV ligada.

— O que está vendo, mãe? — perguntou, indo para a copa preparar o seu café da manhã.

— Ainda estão falando do tremor de ontem.

A garota levantou as sobrancelhas. Aquilo realmente tinha acontecido. Era real. — Alguma novidade? — indagou despretensiosamente, pegando a faca e cortando dois filetes de queijo.

— Nenhuma. Disseram que estão analisando, mas não conseguem explicar como um tremor pôde ser sentido no planeta inteiro ao mesmo tempo. Filha — mudou de assunto —, tem geleia de goiaba na geladeira.

A menina sorriu. Adorava queijo com goiabada.

Alguns minutos depois, ouviu-se um grito do lado de fora da casa. Era Zamir chamando a garota para irem para a escola. Katherine levantou mais do que depressa. — Tchau, mãe — beijou-a no rosto e correu para fora de casa.

— Bom dia! — cumprimentou a garota.

— Bom — o brutamontes se limitou a dizer.

— Animado para o treino de hoje?

Caminharam por alguns metros. Zamir ia começar a falar quando foi interrompido pelo chamado da mãe de Katy.

— Filha, espere! — gritou a mãe próxima da porta.

— O que foi, mãe?

— Sua maçã. Você esqueceu.

— Ah! Obrigada — sorriu, sem jeito.

— Bom dia, senhora Lewis — cumprimentou Zamir.

— Bom dia, Zamir! E, senhora? Sou senhorita — riu de si mesma.

Na sala de aula, o assunto foi único: o terremoto

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Na sala de aula, o assunto foi único: o terremoto. As intrigas e o bullying corriqueiro, naquele dia, não existiram. Alguns teorizavam, enquanto outros já programavam uma festa com o tema "Fim do Mundo".

A classe estava inquieta. Um falatório onipresente.

— Eu acho que foi alienígena — disse Ernest em um tom mais alto que o normal, suficiente para vencer a barreira de vozes desconexas.

— Alienígena? Jura? Então é bom você ficar esperto. Dizem que aliens gostam de vacas leiteiras. — Brian não perdeu a chance, fazendo a classe rir.

Ernest se encolheu como pôde na carteira. Por sorte, foi salvo pela chegada da professora.

— Pessoal, bom dia. — A professora de história havia chegado, finalizando todo e qualquer tipo de assunto. — Como vocês estão? Estou contente que veio a maioria. Depois do que aconteceu ontem, eu pensei que muitos faltariam. — Sarah Parker, a professora de história loira e de corpo de dar inveja, mesmo se aproximando dos cinquenta anos, sorriu sem se importar com a mancha vermelha de batom no dente.

Brian, Zamir e o restante dos meninos da classe suspiraram quando a professora apagou a lousa.

— A aula de hoje será diferente. Aproveitando o que aconteceu ontem e todo esse mistério, resolvi falar sobre alguns mistérios do nosso planeta. Detalhe importante: eles ainda estão sem solução. Alguém, por exemplo, já ouviu falar da civilização olmeca?

Alguns balançaram a cabeça, negando, enquanto outros disseram que não em voz alta. Havia ainda uma pequena porção de alunos que não estava prestando atenção, por exemplo, Zamir e Brian, que estavam discutindo táticas e estratégias para o treino de futebol do dia. Além deles, alguns outros não prestavam atenção, como uma garota de cabelos cacheados e nariz de porquinho sentada na frente de Ernest. Ela estava mais preocupada com o esmalte roxo descascado do seu dedo anelar do que com o assunto da aula. Essa cor não combina com o vestido que usarei hoje à noite. Chegando em casa, já vou retirá-la e aproveitar para pintar as unhas dos meus pés, pensou ela.

— Eu imprimi esta foto — disse a professora, retirando uma folha sulfite de um dos plásticos de sua pasta preta —, e vou passá-la para vocês olharem. Essa foto é uma cabeça de pedra gigante da civilização olmeca. — A professora entregou o papel para o aluno de rabo de cavalo e trejeitos afeminados localizado na primeira carteira do lado direito. — Os olmecas são tidos como a civilização mais antiga das Américas. E, antes que perguntem, essa civilização é centenas de anos mais antiga que a dos incas, maias e astecas. Agora, vocês devem estar se perguntando: e o que significa isso? Bem, os cientistas têm conhecimento sobre quem esculpiu a cabeça, mas não sabem exatamente quem ela retrata, as razões ou mesmo como eles transportaram-na. Para vocês terem uma ideia, até agora já foram desenterradas dezessete dessas cabeças colossais feitas em imensos blocos de rochas basálticas. Uma curiosidade é que esse tipo de rocha é vulcânico, sendo de um local que fica a cerca de oitenta quilômetros de onde essa civilização se estabeleceu.

Ernest já havia lido sobre tal assunto e, mesmo conhecendo a história, estava fascinado por ela. Cutucou a colega ao lado. — Ka... Katy? Quer saber outra curiosidade?

A garota confirmou com a cabeça. Estava entretida na aula tanto quanto ele.

— Para você ter uma ideia, cada cabeça pesa cerca de vinte toneladas. E, entre esses oitenta quilômetros que a professora citou, onde se localizam essas rochas de basalto e a civilização olmeca, o terreno é agressivo. São áreas com vales e florestas densas, sendo muito mais difícil do que, por exemplo, o transporte das pedras até as pirâmides do Egito.

Katherine fez um delicado beicinho e sorriu. Ficou impressionada com a inteligência do menino.

A professora, notando a curiosidade dos alunos, aproveitou a deixa:

— Gostaram? Curioso, certo? Então agora vou contar sobre algo que ainda intriga os cientistas e pesquisadores: a misteriosa cratera de Patomskiy. — A professora retirou mais uma folha de sua pasta. — Esta é a...

— Bom dia, alunos, e ótimo dia, professora — interrompeu o diretor da escola.

— Bom dia, Rich! Quer dizer... senhor Richard — a professora inquietou-se na cadeira. Com a mão direita, ajeitou o cabelo para o lado esquerdo e, com a outra, desabotoou o primeiro botão de sua camisa, delimitando um singelo decote.

Richard Evans, alto e simpático em seu terno cinza, tinha madeixas grisalhas. Apesar da idade, o diretor Evans era fanático por academia e esportes físicos. Por conta disso, tinha um corpo robusto e bem conservado. Depois de seu segundo casamento, conheceu Sarah Parker em um seminário docente sobre metodologias de ensino participativo. Começaram a namorar logo em seguida.

O diretor sorriu sem graça e piscou para Sarah.

— Desculpe-me estar interrompendo a aula, mas queria apresentar um aluno muito especial. Ele veio da China e ficará alguns meses estudando conosco. O intuito desse intercâmbio é um maior aprendizado da nossa cultura e dos nossos costumes. Ele é fluente em nosso idioma, então creio que não haverá problemas de comunicação.

Os alunos se remexeram nas cadeiras. Curiosos, queriam saber quem era o novato. O diretor da escola, então, desapareceu por alguns segundos. Ouviu-se ele dizer baixo, mas ainda audível: — Eles são pessoas boas. Quando estiver pronto, pode entrar na sala de aula.

Alguns alunos pediram silêncio para poder ouvir melhor, outros ficaram de pé. A curiosidade aumentou ainda mais quando ouviram o som de passos se intensificando próximo à porta. De repente, um rapaz pitoresco surgiu. Calça ocre e camisa azul-clara, ambas em linho, um sapato marrom-claro sem cadarço, olhos levemente puxados. A excentricidade ficou por conta de sua cabeça careca. Os alunos riram.

— Não tenha medo — disse Richard para o garoto. O diretor olhou para a classe com desdém. — Pessoal, por favor, educação e respeito.

O garoto deu dois passos para frente. Inspirou. Olhou atento para cada aluno ali presente. — Muito prazer, eu me chamo Fuku — sorriu, desconcertado.

PROTETOR DA GALÁXIAOnde histórias criam vida. Descubra agora