Capítulo 23

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O patrono do planeta Ceres entrou lentamente na arena. Bem lentamente. A lesma roxa com bigode e feições de ave era uma velha conhecida de Fuku. O careca lembrou imediatamente o quanto foi chacoteado por ela na fase dos treinos. No outro extremo, entrara pomposamente Starlord, do planeta GJ 504b, conhecido por produzir grandes festas em seu planeta. Ele parecia uma estrela do mar, só que com asas. Ele seguiu a lentidão do adversário, numa mistura de dança com muitos rebolados e gracejos. A torcida obviamente reclamou da demora.

— Vamos! Acelere, acelere — dizia o juiz, inquieto, entre um gesto e outro para os participantes. — Temos um torneio para continuar.

Enquanto Katy bufava e EnlaiT incrivelmente dormia em meio a tantas vaias da plateia, Ernest contou os segundos em sua cabeça. Foram exatos 23 minutos e 17 segundos para os participantes chegarem no centro da arena.

— Finalmente! — O locutor levantou de seu banco de espera com a missão de entreter aqueles milhares de seres que pagaram para assistir uma boa luta. — A demora será compensada — disse, sem acreditar em suas palavras. — Quero uma salva de palmas para Starlord e Chucrute — gritou, animado.

Inquieta e exigente, a plateia continuou a vaiar pela demora. Aumentou o tom quando notaram as seis linhas nas testas dos participantes. — Fracos! Fracos! Fracos!

— Acalmem-se. A luta não começou. Ouçam-me! Vocês serão surpreendidos — sorriu o locutor. — Pode não parecer, mas eles são muito fortes.

A plateia permaneceu inquieta.

— Vamos apresentar esses fantásticos participantes. De um lado, 2,6 eras e um poder de aura que o faz brilhar no escuro, além de transformar sua mucosa em ácido, com seu espetacular bigode, o patrono do planeta Ceres, Chucrute!

— Fraco! Fraco! Fraco! — a plateia repetiu em coro à medida que o molusco reverenciava seu adversário.

— Agora falaremos dele — apontou para o ser rebolativo. — Conhecido por suas fantásticas festas, sua espetacular e brilhante couraça e, claro, sua participação no Dança dos Famosos do programa... — o locutor fitou por alguns segundos seu aparelho similar a um tablet. — Quem escreveu isso aqui? — perguntou baixo, apertando um pequeno aparelho em seu ouvido. O patrono pediu que fosse dito dessa forma, uma voz respondeu no aparelho. O locutor por fim respirou fundo e voltou a falar. — Desculpem-me! Houve uma falha técnica, mas já resolvemos. Pois bem, o patrono do planeta GJ 504b tem 1,9 era e poder de aura de voar. Uma salva de palmas para Starlord.

A arquibancada se entreolhava. Alguns riam, enquanto outros batiam palmas para motivar uma boa luta. O cenário finalmente ficou escuro e sujo, como um lixão, então o juiz deu início à batalha.

Starlord fitou seu adversário com desdém. — Você provará os meus espinhos — disse, a voz esganiçada.

— Isso se você conseguir me pegar. Venha! Tente. Eu te desafio.

— Eu posso te vencer quando eu quiser.

— Eu também posso te vencer — retrucou a lesma roxa.

— Eu mais.

— Eu mais ainda.

Os zunidos deram início. A inquietude da plateia foi unânime. O juiz, estressado, aproximou-se dos participantes. — Vocês precisam lutar. Fisicamente. AGORA! — gritou, fazendo-os sair da inércia.

Chucrute e Starlord avançaram como quem está numa fila de banco. Ernest voltou a contar. Foram 4 minutos e 47 segundos até ficarem próximos o bastante para lutar. Os cinco braços de Starlord brilharam com a sua aura. Voou para cima de seu oponente. Mesmo indefeso, Chucrute sabia qual seria o ataque do adversário. Mentalmente contou até seis, à espera do fim da aura.

Starlord sobrevoou até ficar paralelo ao adversário e então, de costas, lançou-se no inimigo. Esperava que os pontiagudos espinhos de seu dorso dilacerassem o concorrente por completo, mas sua aura acabou antes que chegasse perto. Seus espinhos tocaram sem impacto algo macio e flácido.

Chucrute não pareceu sentir dor; na verdade, estava rindo. Algumas remexidas para lá e para cá, e se livrou dos espinhos.

Starlord, entretanto, parecia uma tartaruga com o casco virado para baixo e as patas para o ar. A plateia ria da situação. Ele estava na posição mais desfavorável possível. Seu ponto fraco.

— Como é a vista desse ângulo? — provocou a lesma, penteando seu bigode.

As tatuagens nos minúsculos bracinhos de Chucrute brilharam e seu corpo rapidamente inflou. E mais. Cada vez mais. Como se houvesse alguma coisa dentro de suas entranhas precisando urgentemente sair. Notava-se algo subindo em direção à boca. Então regurgitou um fétido líquido alaranjado em cima do oponente.

A plateia se calou. O que foi pior, pois foi possível ouvir os gritos de dor do indefeso participante enquanto fritava e derretia. Sua vida estava se exaurindo, e o robozinho se aproximava o máximo que podia a fim de obter o melhor ângulo para aqueles que assistiam pelos telões.

Por fim, Starlord parou de se mexer. A fumaça que saía de seu corpo desapareceu, assim como sua vida. Em seu lugar, ficou apenas o esqueleto em formato de estrela.

— Uma salva de palmas para Chucrute. Que batalha! Que... batalha — o juiz se aproximou do centro da arena fingindo entusiasmo.

A torcida vibrou. Queriam que o alto preço do ingresso fizesse jus e compensasse o valor pago.

O juiz do evento se aproximou da lesma roxa.

— Que luta sensacional! Você havia planejado aquele contra-ataque? Fazia parte dos seus planos ou aquele movimento surgiu no calor da batalha?

Chucrute inspirou fundo e fez uma careta com ar blasé. — O que você acha, queridinho? É óbvio que eu já havia planejado tudo. Não vim para esse torneio despreparado. Tenho muitos segredos escondidos — disse, coçando seu bigode, também esperando alguma reação da plateia, que não veio. Desesperado para se autopromover, o patrono do planeta Ceres finalizou seu discurso: — Eu vencerei este torneio!

Chucrute saiu da arena sob risadas de incredulidade. Jamais um ser de Nível Baixo venceu o torneio.

Por protocolo, aconteciam duas lutas por dia, mas ninguém havia calculado a demora da primeira luta. A noite caía, e o locutor soube o que precisaria fazer para manter os pagantes interessados. — Pessoal, acalme-se. Preciso fazer o discurso de finalização.

Mas a plateia continuou a vaiar e a exigir lutas mais empolgantes. Então o locutor levou a mão até o dispositivo em sua orelha. Balançou a cabeça em confirmação para alguém sem dizer nada.

—Seus pedidos foram atendidos! — A plateia imediatamente se calou para ouvir. Ele caminhou de um lado para o outro, fazendo suspense. — Direi qual será um dos participantes das lutas de amanhã — sorriu. — A luta que ocorrerá no período da manhã será entre dois participantes de níveis diferentes, e um deles vocês já conhecem bem. "O ser mais fraco do torneio". O único Categoria Sete.Façam suas apostas! — finalizou, deixando a plateia alvoroçada.

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