Capítulo 7

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Trovejava em Dengfeng, na China. No alto de uma montanha, Feng Shui admirava, após uma profunda meditação, o multicolorido crepúsculo.

— Esplêndido! — gritou ao vento. Sorriu e se levantou. Fechou os olhos e ergueu a cabeça completamente raspada. Ficou parado naquela posição por alguns minutos, absorvendo tudo de bom que o universo pudesse lhe oferecer naquele momento. Vestia um manto branco de mangas longas e folgadas.

À medida que a noite caía, o mestre Shui, no alto de sua boa forma, retornava ao Templo Shaolin depois de um exaustivo treino. Após atravessar um corredor de árvores truncadas, alguns pequenos pingos de chuva introduziram a tempestade que estava por vir. Feng não se importou, estava em paz.

A chuva se intensificou um tempo depois. Raios e relâmpagos rasgaram e iluminaram o céu, dando espaço para potentes trovões. O mestre dos mestres caminhava lentamente, admirando a paisagem e apreciando toda a fúria da natureza.

Próximo da grande muralha de pedra do mosteiro, Feng ouviu um barulho conhecido, agudo, repetitivo. Suspeitava do que era, mas não queria acreditar. Correu em uma velocidade descomunal. Perto de um tronco de árvore recém-derrubado, encontrava-se um bebê em prantos. Feng Shui ficou desnorteado. Aproximou-se do pequeno e o envolveu entre seu peito desnudo e o manto branco. Via-se nitidamente que a criança estava desnutrida, envolta em um surrado pano, mal tendo forças para sobreviver.

Acariciou a bochecha da criança. Olhou para os lados à procura de alguém. Quem em sã consciência abandonaria um ser tão puro?, pensou Feng. Cobriu como pôde a criança. Apertou-a forte contra o peito e partiu em disparada ao seu mosteiro.

O grandioso portão de madeira foi aberto. Ao entrar, foi logo para o banheiro de seu quarto. Abriu o registro e deixou a água cair na banheira. Colocou a mão e sentiu que a água ainda estava muito quente. Feng deitou a criança sobre sua cama. Seu quarto não era luxuoso. Não precisava disso. A pouca mobília que continha no pequeno espaço era de madeira bem rústica.

O mestre Shui retirou o pano que encobria a criança e passou a mão em sua cabecinha. O pequeno estava gelado e não chorava. — Olá, pequenino. Como veio parar aqui?

O bebê fitou serenamente os olhos de Feng, então deu um leve sorrisinho, fazendo com que o mestre dos mestres se derretesse todo. Pegou o bebê no colo e o levou até a banheira. A água já estava morna. O bebê estava tão desnutrido que as costelas se destacavam. — Meu amiguinho, você deve estar faminto. Após o banho, você terá uma refeição digna. Para sua sorte, coletamos leite das cabras para alimentar filhotes de animais perdidos e sozinhos, assim como você.

Após o banho, secou-o e envolveu-o em um aconchegante cobertor azul da Prússia, erguendo-o logo em seguida. — Cuidarei de você. Aprenderá nossos costumes. Treinará arduamente. Mas, primeiro, precisamos te dar um nome. Deixe-me pensar. — Analisou o pequeno por alguns instantes e, em sua nuca, notou uma possível marca de nascença no formato do número três. — Já sei como te chamarei! Essa marca me deu umaboa ideia.

A noite passou. Logo pela manhã, antes mesmo do Sol nascer, Feng percorreu os corredores do mosteiro, acordando pouco menos de duas dezenas de discípulos. Os rapazes foram logo se aprontaram e correram para o refeitório. O silêncio permaneceu durante o café da manhã, afinal a tradição era comunicar-se só após a oração matinal.

Após a prece, os discípulos se reuniram do lado externo do grande Templo. Todos enfileirados e no aguardo do mestre para o início do treino.

— Ponta dos pés! — iniciou o mestre Feng, sereno. Os discípulos corresponderam imediatamente. — Agora quero que levantem lentamente a perna direita até o pé tocar a cabeça. Usem a mão como ajuda. — Novamente os aprendizes retribuíram o pedido do mestre. — Bom! Muito bom. Por fim, quero que vocês fechem os olhos. Respirem fundo. Esvaziem a mente.

PROTETOR DA GALÁXIAOnde histórias criam vida. Descubra agora