Capítulo 11

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E quatro anos se passaram. Os tremores haviam cessado e, com o tempo, caído no esquecimento.

— Como está minha pose? Já posso me considerar um mestre ninja? — Ernest tentava de toda forma se equilibrar em um único pé no alto de um prédio vazio recém-comprado por ele.

Ernest Smith continuava acima do peso, apenas seu cabelo estava mais curto. E, quando não exposto contra a luz solar, notavam-se pequenos fiapos na ponta de seu queixo. Mas a vida do anafado mexicano tomou proporções inimagináveis com o desenvolvimento de um impressionante aplicativo para celular. Caiu no gosto popular e, claro, fez com que a maioria das multinacionais entrasse em contato e oferecesse valores com tantos dígitos que faziam sua cabeça rodar.

— Use o dinheiro com sabedoria — disse Fuku em uma das ocasiões.

— O dinheiro é nosso — respondeu Ernest.

Fuku realmente ajudou Ernest como pôde desde o início do desenvolvimento do aplicativo para celular. Sua ajuda foi mais espiritual e motivacional do que necessariamente operacional. Porém, mesmo após a exaustiva insistência de Ernest para que ele fosse seu sócio, Fuku recusou. Nunca foi apegado a bens materiais. Para ele, não fazia diferença.

Fuku continuava careca, mas crescera consideravelmente e desenvolvera um corpo bem mais definido. A mudança mais significativa, contudo, deu-se em sua personalidade. Estava mais brincalhão agora.

— Você está parecendo uma pintura abstrata. Seus membros superiores estão desalinhados e seu pé de apoio não está rígido. E nem vou falar de sua barriga. — Fuku deu um sorriso zombeteiro. — Se eu fizer isto — disse, girando e chutando o pé que servia de apoio e sustentação do outro —, você cai facilmente.

— Não é justo! Não mesmo.

— Venha que eu te ajudo a levantar, meu amigo.

— Engraçadinho, você, "pastel de flango".

Fuku sorriu. — Você trouxe o rádio para que mesmo?

— Eu tenho um prédio só para mim. Até eu transformá-lo em uma empresa e dar emprego para muita gente desta cidade, vou usá-lo como eu bem entender.

— E o que isso quer dizer?

— Que precisamos comemorar! Acabei de assinar um contrato milionário. Sou famoso agora e terei dinheiro para toda minha geração futura. Vou dar uma festa de inauguração.

— Interessante, "sr. Todo Poderoso". Já esqueceu de tudo aquilo que te ensinei?

— Claro que não, mestre! Você disse para eu usar o dinheiro como eu bem entender — piscou. — Estou usando!

— Dinheiro não é tudo. E tem fim. Cuidado.

Ernest gargalhou, fazendo um sinal de positivo com as mãos. — Chega de papo furado porque hoje viemos para treinar. E o rádio, "sr. Engraçadinho", é para entrarmos no clima do treinamento — disse, apertando o botão de play.

A música começou calma e melódica.

— O pendrive tem algumas músicas antigas e... — Ernest parou para apreciar a canção. — Armagedon é uma música incrível. Você precisa ouvir mais músicas do Aerosmith, principalmente Dream On. Eu me arrepio toda vez que ouço a voz aguda que Steven Tyler dá nessa canção. É... enfim, só um segundo que já vou mudar.

A próxima música também tinha as mesmas características da música anterior, só que começava com um piano.

— Não sei o que está acontecendo com o meu rádio hoje. Mas você tem que admitir que a música Making Love Out Of Nothing At All do Air Supply é boa. — Cantava entre uma frase e outra. Quando se deu conta dos olhares estranhos de Fuku, apertou rapidamente o botão e trocou a música.

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