Capítulo 28

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O dia era de comemoração. Primeiro, porque marcava o início das lutas em grupo. Segundo, porque todos já deveriam ter 22 anos pelas contas de Katy. Sairiam para comemorar em uma espécie de barzinho. O recinto mais se assemelhava a uma taberna medieval compactada em um gigantesco contêiner. O local estava lotado de variadas criaturas. Dentre as dezenas de pequenas mesas redondas de madeira espalhadas pelo lugar, o grupo escolheu a que ficava mais afastada da entrada, porém mais próxima do grandioso balcão onde as bebidas e comidas eram servidas. Não sabia se era por causa da customização do ambiente ou se realmente havia algum motivo para tal semelhança, mas aquele lugar parecia ter saído do filme Senhor dos Anéis.

Devido à comemoração especial, EnlaiT comprou vestes de gala para todos. Para os meninos, uma espécie de terno estruturado preto com algumas tiras cinzas metalizadas. Para Katy, um vestido longo cinza metalizado com muitas linhas, triângulos e quadrados pretos, e um generoso decote em V.

— Que delícia de terráquea — disse um ser gosmento similar a uma mosca varejeira próximo a eles. — Eu te protejo desses imbecis. Venha com o papai.

— Você acha que sou indefesa apenas por ser mulher?

— Vocês são do sexo frágil. A parte dura fica para nós, machos.

O rosto de Katy se contraiu. — Sexo frágil? Sexo frágil? — repetiu, indignada.

— Venha aqui, gatinha — disse a criatura, aproximando sua boca em formato de funil nela. Katherine deu um soco em cheio no rosto do sujeito. — Toma essa! Sexo frágil, uma ova! — virou as costas, deixando todos boquiabertos.

Já acomodados, Ernest ajeitou seus óculos e olhou para Katy com um sorrisinho de canto de boca. — EnlaiT, posso lhe fazer uma pergunta? — como não houve resposta, continuou: — Por que você anda pelado?

— Pelado, NI? O que é isso?

Estranhando a resposta do marciano, Ernest insistiu na pergunta e explicou que, como ele não usava nada por cima da pele, significava que ele estava pelado.

— Nunca nos obrigaram a usar nenhum tipo de proteção no corpo. Não precisamos nos esconder atrás de panos, NI. Somos o que somos. E somos felizes, NI.

Eles ficaram impressionados com a resposta. De fato, muitos dentro daquele salão não trajavam nada. Outros, contudo, encontravam-se pomposos até demais.

— Já volto. Vou trazer uma surpresinha para vocês, NI. — EnlaiT deu as costas rumo ao balcão de bebidas.

Não demorou para o marciano surgir com cinco conchas preenchidas com um líquido fluorescente. — Isso vai deixá-los mais felizes, NI.

— Felizes como? — questionou Ernest.

— No meu planeta, tomamos isso sempre que saímos para comemorar algo, NI.

— Parece gostoso. — Zamir foi o primeiro a pegar uma das conchas. Depois de olhar para Katy e fazer um singelo movimento com a cabeça, fechou os olhos e sorveu o líquido brilhoso. Quando a bebida refrescante passou pela língua e adentrou sua garganta, arregalou os olhos. — Uau! — bebeu mais um pouco e sorriu. — Isso aqui lembra vodka com limão, açúcar e gelo — disse, dando mais uma golada.

— Agora a festa ficou ainda melhor. — Ernest gargalhou e tomou um generoso gole. A bebida era mais forte do que havia imaginado. — Forte! Muito forte! — disse, olhando para Fuku. Então apontou a concha com o líquido brilhoso para o amigo. — Cuidado com os NPC's em seu grupo.

O chinês estranhou, então Ernest explicou do jeito mais nerd possível. — NPC's são personagens não manipuláveis que, de alguma forma, se envolvem no enredo de um jogo. Eles exercem um papel específico, cuja finalidade é a simples interatividade com o jogador — piscou, confiante em sua explicação. — Mas, para mim, são os que morrem primeiro e ninguém se importa. Portanto, tome cuidado para eles não te atrapalharem. E, principalmente, não se torne um NPC.

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