— Estão todos preparados? É agora! — a voz do locutor e juiz do evento dominou o recinto, dando início à competição. — Que dia maravilhoso! Que manhã linda. Vamos começar — respirou fundo. — De um lado, a maravilhosa e estonteante patrona do planeta Pam. Nível Médio, Categoria Cinco, 1,8 era e poder de aura de liberar veneno pelo corpo, palmas para Bagieh! — Com sua larga silhueta rosada, Lady Bagieh reverenciou os espectadores e os adversários. A arquibancada vibrou e assobiou para seu corpo escultural e arrebatador. Lembrava uma flor de cores fortes do planeta Terra, conhecida como brinco-de-princesa.
A plateia silenciou quando o juiz fez sinal com uma das mãos. — Agora, falaremos dele — respirou fundo novamente. — Patrono do planeta Kepler-186f, poder de aura de cuspir um líquido grudento, 2,3 eras e Nível Médio, Categoria Cinco, palmas para Octopus-A!
A plateia batia palmas e ria enquanto o polvo alterava de cor e dançava desajeitadamente com seus dez tentáculos preenchidos por centenas de ventosas.
— Pois bem — continuou o locutor —, vamos verificar o cenário mais votado. — A plateia poderia votar, naquela fase do evento, em qual cenário gostariam que as lutam ocorressem, segundo as características dos planetas de origem dos participantes. — Vitória de... — fez suspense para então entregar o nome do vencedor — Bagieh!
A plateia vibrou e o cenário mudou. Dezenas de plantas preencheram o campo de batalha. O locutor lançou um simpático robozinho voador, que servia para gravar o torneio e esclarecer eventuais controvérsias. Por fim, a luta começou.
Octopus-A foi o primeiro a atacar. Correu com seus tentáculos a uma velocidade sem igual. Bagieh se posicionou em modo de defesa. Os golpes vieram de todas as direções. Ela tentou se defender, mas eram muitos. Bagieh aproveitou então a vantagem do cenário e deslizou até a copa de uma das árvores, camuflando-se entre as flores. O patrono do planeta Kepler-186f não perdeu tempo e também se camuflou, alterando as cores de seu corpo. A arena ficou em silêncio.
Octopus-B, irmão gêmeo de Octopus-A, gritava próximo da arena para seu irmão: — Cuidado com ataques de cima! Proteja-se, meu irmão.
Já a melhor amiga de Bagieh, uma espécie de planta espinhosa, procurava tranquilizá-la: — Ele não pode te ver. A vitória já é nossa!
Os olhares eram de aflição na arquibancada.
Mesmo em lugares privilegiados na plateia, Ernest e EnlaiT procuravam de alguma forma perceber o impercebível. Katy até tentou também, mas desistiu rapidamente. Não estava em seu melhor momento. A noite anterior fora estranha demais para a garota. Queria conversar com Fuku, mas ao mesmo tempo desejava distância.
Os participantes ficavam em salas de espera assistindo a tudo por um telão. Fuku cutucou Zamir. — Acho que vi algo — apontou rapidamente para o telão. — Veja o tronco amarelo daquela árvore entre os cactos. Está se movendo. — Zamir não enxergou nada. Orgulhoso, disse apenas: — Não enche meu saco, cabeça de ovo.
Octopus-A movia-se lentamente. Preciso tomar cuidado com ataques a distância, pensou antes de se esconder entre os cactos. Por infelicidade, escondeu-se próximo da grande árvore amarela. Então, como um espectro, Lady Bagieh surgiu do alto. Os braços em forma de folhas brilharam e as tatuagens em azul e preto tomaram forma, liberando uma grandiosa quantidade de fumaça venenosa de suas folhas.
Tudo poderia ter terminado ali, daquele jeito, como ela havia planejado. Porém Octopus-A foi rápido e inteligente. Flexionou seus dez tentáculos e se lançou com toda força, grudando em seguida no alto do largo tronco amarelado, deixando tudo ao redor apodrecer com o veneno expelido. Saiu ileso por muito pouco do ataque da adversária, mas não perdeu tempo. Os tentáculos se acenderam enquanto surgiam tatuagens tribais. Sua aura aflorava. Após uma rápida inspirada, cuspiu um pegajoso líquido negro em sua oponente.
A plateia urrou. O líquido pegajoso imediatamente esfriou e se transformou em uma massiva pedra por todo o corpo de Lady Bagieh. Ela tentou se mexer, mas não havia como. Estava presa.
O polvo havia treinado muito para aquele momento. — Como é estar nessa posição? — caçoou. — Pensou que ganharia de mim? — riu alto. — Você perdeu.
A patrona do planeta Pam ainda tentava se mexer, mas seus movimentos apenas faziam com que o invólucro a apertasse mais, dando início a um certo incômodo e formigamento em uma de suas partes.
Octopus-B berrava para seu irmão matá-la logo. Dizia o quanto era impetuosa e quanto o perigo aumentava enquanto ela estivesse viva. Mas Octopus-A esperou tanto por aquele momento que queria apenas... apreciá-lo.
— Fiquei muito feliz quando me disseram que o torneio voltaria, e mais feliz ainda quando descobri que você participaria. Meu planeta foi devastado por sua causa.
Lady Bagieh o encarou. Serena, limitou-se a dizer: — Eram vocês ou nós. Nossos corpos necessitam de muita água e meu planeta estava em falta. Você faria o mesmo.
O patrono do planeta Kepler-186f fechou os olhos e lembrou de tudo que seu planeta sofrera graças ao seu maior recurso natural: a água. De fato, ele teria feito o mesmo. Octopus-A mordiscou seu molenga lábio inferior. Então aproximou-se dela. — Nosso inimigo é outro. Não podemos deixar ele vencer. Mas você tem que entender que... — uma potente explosão de fumaça esverdeada tomou conta do cenário. A plateia ficou em choque.
A poeira não tardou a abaixar, revelando toda a devastação que lá sucedeu. O cenário apodreceu parcialmente devido ao excesso de veneno no ar. Porém algo ainda mais devastador pôde ser notado. No lugar onde deveriam estar os participantes, havia dois corpos completamente ressecados.
A plateia não soube como reagir.
O cenário voltou para a frígida arena de pedras lisas e claras. Apenas os corpos permaneciam estáticos. O juiz se aproximou e tocou no corpo de Octopus-A, que se esfarelou por completo. — Ops! — fez uma careta —, não foi minha intenção — umedeceu os lábios. — Vamos precisar conferir o replay — disse, apertando alguns botões em seu tablet. O simpático robozinho retangular de cores fortes e braços curtos apareceu. Uma luz azul acendeu do centro de sua cabeça, revelando as gravações. Enquanto a amiga de Lady Bagieh chorava, Octopus-B queria invadir a arena e socar o juiz por descaso com o corpo de seu irmão. Mas sabia que, se fizesse isso, quebraria uma das regras do torneio e sofreria duras penas.
O estádio se calou. A luz azul formou uma holografia da luta que acabara de acontecer. Os dois participantes conversavam. Octopus-A caminhava lenta e pacificamente em direção a Lady Bagieh. O rancor havia diminuído. Aquele torneio sangrento não o representava. Para ele, manchava o nome do evento. De repente, o centro da cabeça da patrona do planeta Pam cresceu desproporcionalmente até rachar, liberando uma espessa e venenosa fumaça esverdeada. Tudo explodiu em seguida.
A holografia terminou. O pequeno robô pousou em uma plataforma específica para o carregamento de sua bateria. Aguardaria a próxima luta.
A batalha foi finalizada sem vencedor. O juiz não teve outra saída a não ser declarar empate, fazendo com que a plateia vaiasse.
—Uau, que luta! Que reviravolta inesperada — disse o juiz em uma tentativa de vangloriara desanimada batalha. — Mas a próxima será sensacional! — aguardou a vibração dos espectadores, que não veio. — Entrem os próximos participantes.
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PROTETOR DA GALÁXIA
FantasíaDeus nos protegeu por muito tempo. Porém, após ser derrotado pelo temível Zaphatar, um novo torneio foi aberto nos confins da galáxia. Agora cabe a Fuku, um pacato chinês, e seus amigos deixarem suas vidas na Terra para uma jornada repleta de desafi...