Capítulo 17

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O cadastramento de Ernest e Katy, por serem apenas visitantes, foi simples e rápido. Após saírem da câmara, foram de encontro ao amigo, que lhes deu um abraço apertado. Especialmente na garota.

— Katy, você está bem? Mais cedo, eu... — pensou. — Não houve tempo de me despedir e pensei que nunca mais a veria.

Ernest se aproximou do amigo e pôs a mão em seu ombro. — Mais cedo, não, Fuku. Passaram quase sete dias na Terra — disse, ajeitando o zíper de seu short azul-piscina. Aproveitou para dar uma esticada em sua camisa laranja que homenageava o filme O Quinto Elemento.

O careca olhou estranho para os amigos. Sete dias, pensou, assombrado. Não conseguiu nem dizer nada, pois Zamir chegou naquele momento. Curiosamente vestindo a mesma roupa da festa, com exceção da camisa, que substituíra por uma preta de manga curta.

— Aquele treco lá me colocou no Nível Médio — disse ele. — Agora preciso entrar na sala e testar minha aura para ver minha categoria.

— É, eu também deveria — confirmou Fuku.

Ernest olhou para o portão com a placa "SAÍDA". — Vocês estão preparados? — sinalizou a porta com a cabeça. — Quem topa dar uma volta?

Katy, que trajava um vestido cinza de gola branca, concordou, receosa. — Estou com medo — disse apenas. Tranquilizou-se quando Fuku dissera que não iria para o teste.

— Vocês vão me desculpar, mas eu vim por um único motivo. Fuku, você deveria saber da responsabilidade que tem em suas mãos. Não estamos aqui a passeio. Eu vou entrar naquela sala e dar o meu melhor.

— Sei das minhas responsabilidades, Zamir, mas passei a vida treinando rigorosamente. Esta é uma oportunidade única e quero passá-la com pessoas que gosto. Desculpe, mas eu não farei os tais testes. De qualquer forma, dê o seu melhor. Sempre! — sorriu o oriental.

Zamir não concordou. Orgulhoso, nada disse. Virou as costas e seguiu na mesma direção que Fuku vira Rhangar seguir pouco tempo antes.

Ernest não se controlava de excitação. — Vamos? Podemos ir? Agora?

— Vamos! — concluiu Fuku, sendo interceptado imediatamente pela lula translúcida.

— Aonde pensa que vai?

— Sair.

— Sair? — a gosma rosa inflou. — Abrirá mão de sua categorização?

— Sim!

— Pior candidato! — gritou para si, frustrada.

Fuku sentiu um leve incômodo em sua testa. Levou inconscientemente a mão sobre a parte dolorida. O que fez comigo? O organizador foi embora, deixando os três humanos parados ali.

— Até que não está feio — comentou Ernest.

— O quê?

— Sua testa — disse Katy, apontando —, tem sete linhas horizontais vermelhas nela.

Caminharam até o portão de saída, conversando sobre o momento em que Ernest e Katy revelaram suas decisões aos pais. Foi uma semana extremamente difícil para todos.

Aproximaram-se da porta metálica e saíram para aquele novo mundo.

O portão se abriu, entregando um extenso corredor circundado por feixes de luz multicoloridos

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O portão se abriu, entregando um extenso corredor circundado por feixes de luz multicoloridos. Zamir adentrou o recinto, receoso. Caminhava vagarosamente, em estado de alerta. À frente, avistou uma interseção. E mais outra. E outra. Rapidamente se perdeu. Desorientado, encostou-se em uma das paredes e esperou. Sabia que cedo ou tarde surgiria alguém. Só estava apreensivo sobre o que esse "alguém" significaria. Não demorou a ouvir um movimento. O garoto não sabia como definir, mas uma espécie de fumaça cinza passou por ele. Resolveu segui-la sem dizer nenhuma palavra.

Acalmou-se quando chegou em um lugar que se assemelhava a uma sala de espera de consultório médico, com algumas dúzias de cadeiras ao seu dispor. Desejava sentar, mas estava indeciso demais entre ficar próximo de algo semelhante a uma árvore da espécie sabina, com seus troncos desconexos e secos, ou de algo indistinto, mas definitivamente negro. Dentre tantas criaturas, uma chamou-lhe mais a atenção: um ser que fora retirado diretamente da imaginação de Dante Alighieri e que se assemelhava a um demônio rechonchudo de braços largos e compridos, que tocavam o chão. . Resolveu encostar na parede e aguardar próximo da porta de correr da sala de onde se ouvia uma voz robótica.

Tal voz chamava um por vez para entrar na sala. A porta se abria e Zamir, em vão, tentava observar seu interior, mas só era capaz de ver uma densa camada de névoa, que preenchia todo o ambiente. Ouvia-se gritos, barulhos, sentia-se tremores e, por fim, calmaria. Então a porta se abria novamente e as criaturas eram liberadas com estranhas linhas horizontais em suas testas. O garoto queria perguntar, mas estava receoso. Por fim, ouviu seu nome.

Ao atravessar a névoa, a sala se revelou comum e familiar. Achou apenas curioso que a sala fosse idêntica à quadra de esportes de sua faculdade.

— Zamir, da Terra — a voz robótica ecoou pelo recinto —, como padrão, tenho que explicar o funcionamento da categorização de nível, mesmo que não seja sua primeira vez no torneio — pausou. — Para seu maior conforto, este ambiente está projetado para se parecer com seu local de treino habitual. Nosso objetivo é que demonstre toda sua aura e entregue o máximo dela. Dessa forma, poderemos categorizá-lo corretamente. São sete categorias: Categorias Um, Dois e Três para Nível Alto; Categorias Quatro e Cinco para Nível Médio; e, para Nível Baixo, Categorias Seis e Sete — a voz silenciou por mais alguns instantes. — Quando estiver pronto, pode começar.

— O que eu tenho que fazer? — questionou Zamir.

— Acertar os alvos. Foi preparado um treino específico para o seu tipo de aura. Tente acertar o máximo que conseguir dentro do limite de tempo da aura.

Zamir ficou em silêncio e aguardou. Por fim, a voz robótica disse: — Comece!

Um alvo circular bem similar aos que costumava usar em brincadeiras de dardos nos bares que frequentava na Terra surgiu bem próximo da onde seria a cesta de basquete. Zamir inflou o peito o máximo que conseguiu. As tatuagens logo surgiram em seus braços, e então gritou. Um grito seco, curto e fatal. A onda sonora explodiu o alvo em segundos. Não houve tempo de respirar ou buscar mais ar, outro alvo surgiu. E mais outro. E outro. Zamir corria. Suas cordas vocais vibravam, seus pulmões inflavam, ele gritava. E repetia o processo. Não houve tempo para Deus explicar a Fuku, mas os portadores da aura tinham um ganho a mais em força e agilidade. Aqueles testes eram para isso; testar o máximo de sua capacidade. Não que o máximo significasse tudo o que podiam fazer, pois a criatividade contava muito. Por exemplo, em determinado momento, uma parede holográfica maciça surgiu inesperadamente, interceptando o acerto do alvo. Zamir pensou rápido e improvisou. Respirou fundo, a fim de dilatar ao máximo seu tórax, e correu em direção àquela "parede". Próximo dela, pegou impulso em um caixote que lá se encontrava e gritou. Seu objetivo não foi derrubar o muro holográfico, também não foi o alvo, pelo menos não por enquanto. Com uma série de rajadas de alta frequência no chão, o garoto conseguiu o impulso necessário para flutuar até acima da parede holográfica e acertar o alvo.

Ao término dos testes, Zamir havia acertado alguns bons alvos e errado outros, principalmente quando estes eram pequenos e distantes. Porém, quando os seis segundos de poder se exauriram, o garoto teve que mostrar sua força física em variados bonecos de tamanhos e formas diferentes. Seus golpes foram potentes e, em certos momentos, eficazes, mas previsíveis em sua maioria. Apesar de não ter se saído tão bem nesse quesito, garantiu quatro linhas horizontais na testa. Mesmo sabendo que precisava treinar muito se quisesse vencer o torneio, estava feliz; afinal, ganhou a maior Categoria dentro de seu nível.

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