Capítulo Trinta e Oito - O Plano

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(Quarta-feira, 19 de Abril)

- Ouça Kate: a senhorita só poderá ir se Noah lhe acompanhar. - A voz de Manfred ecoava nas paredes do escritório da casa. Eu estava encolhida em um canto, fissurada em colocar no viva-voz enquanto preocupava-me em esconder dele toda a verdade que estava entalada na minha garganta.

Abro a boca para falar qualquer coisa em minha defesa, mas alguém dá duas batidinhas na porta e pede licença. Fico aliviada ao saber que é Brian. Ele se aproxima e sem que eu perceba, ele se senta bem próximo de mim e puxa as pernas para si.

- Ok papai. Eu verei com Noah se ele irá para Angra. - Digo revirando os olhos, e demonstrando o cansaço que me preencheu ao escutar as velhas palavras dele. Desligo o celular.

- Parece que as coisas entre vocês não mudaram... - Diz. Silêncio total, estou mais concentrada em escutar os pássaros cantarolando do lado de fora da janela. - Por que não contou a eles sobre o que Noah fez? - Bufo. Sei que o interrogatório do meu querido irmão, não é com má intenção, aliás: contei a ele tudo o que aconteceu no último ano a menos de 3:00 hrs.

- Porque você os conhece. Sabe como eles reagiriam. A possibilidade de me mandarem para longe de São Paulo chega a ser grande!

- Mas Kate: quem cometeu a porra do erro foi ele, não você! Seja lá qual for o castigo que eles poderão lhe dar, pode ou não compensar... E infelizmente você só poderá saber disso se arriscar. - Assinto, mas me mantenho calada. Antes mesmo de falar qualquer coisa, uma risada descontraída acaba por cortar o clima pesado. - Você pode não acreditar, mas Ethan está completamento paranóico e louco por você. E sabe o que é ainda mais difícil de acreditar?! - Levanto os olhos, curiosa. - O fato raro dele querer um relacionamento duradouro com uma garota.

A primeira reação que tive, foi levantar a sobrancelha e dar um sorriso um pouco desajeitado mas sincero, depois eu fui obrigada a fechar a cara.

Só o fato de Ethan ter, pela primeira vez, vontade de assumir algo sério com alguém, já me preocupa e muito. Primeiro: eu sei como avacalhar com todo um histórico de boa namorada, e acho que demonstrei claramente isso com o meu término com Noah. Segundo: e se tudo o que me mantinha insegura e infeliz voltasse? E se o que eu sinto por Ethan não seja forte o suficiente para suportar um relacionamento cheio de normas e regras? O que é ainda pior é o terceiro motivo: se meus pais não aprovarem Ethan, o que será da gente?

Tento erguer a cabeça e fingir que não cogito a forte possibilidade de Eth e eu ficarmos juntos. É terrível negar algo que para os outros está claro demais, você se sente fraca. E a palavra 'fraca' sempre teve muito significado para mim, mas até pouco tempo, eu fazia pouco caso dela.

***

Procurar Noah não estava nos meus planos, mas talvez seja a única solução.

Toco o maldito interfone de sua casa, o porteiro vem na minha direção e diz que 'a senhora Williams' pediu para que eu fosse até a sala de estar do segundo andar. Merda.

Subo as escadas e avisto Louise, a mãe do meu ex-namorado. A madame se encontra sentada no sofá aconchegante, com uma taça de vinho. Reviro os olhos antes que ela vire para trás e dê um sorriso um tanto quanto forçado.

- Kateeeee! Que visita maravilhosa!!! - Abre os braços ao levantar. Vou até o seu encontro e dou dois beijinhos. - Fazia um bom tempo que a minha futura nora não vinha nos visitar.

Sorrio forçado. De alguma forma é bom saber que Noah, assim como eu, não contou nada a seus pais. Isso mostra que eu não sou a única medrosa nessa história.

Conversei um pouco mais com a senhora Williams e pude perceber o quão sozinha ela anda estando, já que nunca havia me recebido de maneira tão 'dócil', digamos.

Acabei por subir ao quarto de Noah, depois de ser devidamente comunicada. Ele me recebe com um abraço. Eu não me recuso a abraça-lo, já que cheguei a uma bela conclusão: nós dois sabíamos que aquilo não ia durar, mas a iniciativa de Noah foi essencial para que nós dois possamos enxergar claramente o que não era verdade.

- Ei! - Fala durante o abraço. - Me desculpa por ter dito coisas horríveis à respeito de você e por ter - Ele faz uma pausa e se afasta do abraço para poder fazer as aspas com os dedos - "teoricamente" traído você. E ter perdido a cabeça outro dia e dito que você era oferecida....

- Ãhhh... Eu nem sei o que dizer. - Eu não sei mesmo. Não posso dizer que está tudo bem, porque ele me traiu e isso não é coisa que se perdoe com tanta facilidade, por mais que aquilo tivesse sido necessário.

- Não precisa dizer nada! Sei que o que eu fiz foi errado.

- Pode até ter sido errado, mas pelo menos me fez cair na real. - Ele me olha confuso. - Não era certo ficarmos juntos. Nunca foi.

Ele puxa o ar com dificuldade, mas concorda.

- Posso te pedir uma coisa? - Eu assinto. - Você e eu podemos ser amigos?!

Olho surpresa. A pouquíssimos meses atrás, estávamos convivendo um com o outro, como se tudo o que mais importasse no mundo fosse a nossa relação, mas agora eu vejo, que eu estava enganada. Dou um sorriso meigo, ele adivinha a minha resposta e antes mesmo de eu responder a sua pergunta, ele me dá um beijo carinhoso no meio da testa.

- Você já sabe a resposta.

***

Não demorou muito para que a nossa conversa chegasse no ponto que eu queria:

- Sabe, quando sua mãe me cumprimentou percebi que você... - Enquanto falo, ele fecha a cara e seu sorriso vai desaparecendo aos poucos.

- Não contei para eles ainda. - Diz e engole em seco, olhando fixamente para o chão.

- Eu também não. - Tento reanima-lo com a minha compreensão, felizmente ele volta a me encarar. - E eu quero falar com você sobre isso!

- Manda bala!

- Seus pais não devem saber de Cecília não é?! - Ele concorda. - Estive pensando, em continuar mentindo descaradamente. - Ele pisca os olhos algumas vezes.

- Cadê a verdadeira Kate!? O que você fez com ela? - Pergunta debochando da minha 'solução'. - Eu não posso acreditar que você - Aponta para mim. - está sugerindo que nós continuemos enganando eles!

- Você tem duas escolhas: arruinar as nossas vidas, ou, simplesmente mudar os planos... E aí?! - Ele pensa por um tempo mas logo me dá a resposta definitiva:

- Eu vou mudar os nosso planos! - Dou um sorriso. - Mas me diga: como está pensado em fazer isso?!

- Nós vamos ter que fingir. Fingir para os nossos pais que ainda estamos juntos. - Seus músculos ficam tensos. - Mas relaxa! Fingiremos apenas na frente deles. Assim eu e você teremos liberdade para fazer o que quisermos.

- Tá aí! - Ele ergue a sobrancelha e aprova. - Gostei. Quando iremos botá-lo em prática? - Sorrio maliciosamente.

- Hoje mesmo...

No final daquela mesma tarde, me despedi dele com um abraço e segui com o plano na hora de fazer o mesmo com a sua mãe.

Não foi a melhor ideia que eu já tive, mas... não tive outra escolha. E pelo visto nem ele!

()()()
Oiii!
Desculpem o horário. Espero que gostem dos capítulos finais... 😢
Deixem as estrelinhas ⭐️

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