Capítulo 5 - Explicações

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Abro os olhos, assustada.

Minha primeira visão é de um teto alto e branco. Mexo meus dedos da mão e eles formigam. Olho de soslaio para o lado e só vejo um abajur marrom aceso em cima de uma escrivaninha. Só então percebo que minha cabeça descansa em um travesseiro e meu corpo está enrolado em um lençol de seda de cor bronze.

Estou em uma cama.

Apoio minhas mãos com força no colchão e me ergo, até que consigo ficar sentada. Tenho uma visão do quarto por isso e ele é grande.

De frente a cama, na parede, há uma enorme janela coberta por cortinas bege. Do meu lado esquerdo vejo um armário com portas de correr e do direito uma mesa com um notebook desligado. Vejo também duas portas, e constato que uma deve ser de um banheiro.

-Olá? - chamo na tentativa de descobrir se estou ou não sozinha. Depois de alguns minutos, ninguém responde então me sinto segura o suficiente para puxar meus pés e andar descalça pelo tapete branco e felpudo. Olho para meu corpo e vejo que minhas roupas estão intactas e secas.

Por quanto tempo dormi?

Procuro um relógio e não encontro. Ando em direção à janela e puxo as cortinas altas com violência. Elas revelam o que eu nunca esperaria ver.

Está nevando. Muito! O som das pequenas pedras de gelo colidindo com o vidro é assustador. Olho para o céu escuro e franzo a testa, tentando entender de onde veio toda essa neve. E se está nevando, por que não sinto frio algum? Corro os olhos no quarto e vejo um tubo de aquecedor.

Volto a observar a paisagem lá fora e me assusto ao perceber que a neve já cobre metade da calçada da rua. Mas que rua é essa? Arrepio ao tocar o vidro congelante.

Estou em outro lugar. Em outra casa.

Tento limpar o embaçado do vidro com as mãos, mas está tão gelado que não consigo mantê-las por muito tempo. O pequeno circulo que faço me permite enxergar melhor. Até mesmo a praia.

Praia?

-Praia? - digo para mim mesma e logo depois tapo os lábios, assustada. Não é tão visível assim. O mar parece estar congelando aos poucos. As ondas calmas demais faz com que pareça um rio. Se não fosse pela areia, os quiosques e as palmeiras, agitando-se com o vento, eu nunca pensaria em uma praia.

Apoio a mão na parede e fico observando perplexa até dois guardas com roupas pretas reforçadas aparecem nas ruas. Como um reflexo, fecho a cortina e corro até a porta. Penso duas, três vezes antes de abri-la. Lembro-me de tudo da noite passada e sei que eles me devem muitas explicações, mas será que estou pronta para elas?

Abro a porta movida pelo pensamento de que não vão me machucar ou já teriam aproveitado a chance quando estive inconsciente. O lado de fora parece calmo, o que me deixa alerta. Olho para trás, mas não há ninguém. O quarto em que dormi é no fim do corredor. Ajeito as roupas e ando até o primeiro degrau. Olho para baixo, mas não consigo ver nada, o corrimão atrapalha minha visão.

Resmungo ao perceber que terei que descer mais se eu quiser encontrar com algum deles.

Aperto a mão no corrimão e desço, na tentativa de fazer o mínimo de barulho possível. A cada ranger da madeira meu coração aperta dentro do peito. Quando chego ao chão do primeiro andar suspiro de alívio.

Não consigo ver ninguém ali.

-Bom dia dorminhoca.

Dou um pulo e olho para trás. Será que eu vou voltar a respirar normalmente depois dessa? Dylan está saindo de uma porta, segurando uma caneca e apertando o jornal na axila. Ele sorri com seus dentes brancos e maravilhosos.

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