Capítulo 11 - Capturada

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Acordo com o som de um caminhão buzinando bem alto. Comprimo os olhos e me levanto da cama. Sinto uma dor apertada no braço e tento ver o ferimento. Parece que está tudo em ordem.

Espio pela janela. Deve ser no mínimo umas nove da manhã. O céu não está exatamente nublado. Para falar a verdade, parece um tanto claro.

Muito melhor do que aquela escuridão apocalíptica.

O caminhão para de buzinar e olho em volta. A cama onde Jane dormira parece nem ter sido usada. Os lençóis estão estendidos, o travesseiro está afofado e sinto um cheiro de perfume caro jogado pelo ar. Mas o que chama mesmo minha atenção é um bilhete em cima da mesinha, junto com a chave do quarto. Ando até lá e o pego. A letra cursiva de Jane traça por todos os lados.

Querida, acordei há um tempo. Fui tomar café e quando voltar é bom você já estar de pé.

-J

Dobro o bilhete sorrindo e o enfio dentro de um dos bolsos da calça. Solto um longo suspiro e ando descalça até o banheiro, sentindo cócegas nas costas do pé ao passar pelo tapete felpudo. Antes que eu pudesse olhar minha aparência desgastada no espelho percebo algo estranho no canto da parede do quarto. Dou um passo para trás e encaro uma mala. A minha mala.

-Mas o que... - gemo por entre os lábios e me aproximo, vendo que em cima dela há outro bilhete, com as mesmas letras cursivas.

Pode me agradecer por isso depois.

Abro a boca completamente surpresa. Sem perder tempo me agacho e puxo o zíper. Todos meus pertences estão arrumados da mesma maneira que deixei.

Como Jane conseguiu buscá-la?

Puxo uma blusa de manga comprida verde clara e aperto contra o peito. Pego também meu jeans velho e um All Star cinza, que está enfiado no canto. Corro animada para o banheiro e tiro rapidamente minhas roupas sujas, fedendo e cheias de poeira. Jogo-as de qualquer jeito no azulejo quando o que realmente quero é enfiá-las dentro do vaso sanitário e dar descarga.

Olho-me no espelho e sorrio. Escovo os dentes, jogo uma água no rosto e belisco minhas bochechas para dar um tom corado a minha pele pálida. Penteio os cabelos com um pente em cima da pia, que deve pertencer a Jane.

O outro lado da parede faz um barulho.

Penso por um momento o que James disse ontem: "Você estava chorando, eu ouvi." E me pergunto se ele sabe que eu os ouvi também, enquanto conversavam.

Olho para a parede mais uma vez e deixo o banheiro. Pego as chaves e abro a porta do quarto, sem nem me preocupar se Jane questionaria meu paradeiro quando retornasse e não me encontrasse.

O dia está um pouco notável. A neve anterior sumiu parcialmente. O cheiro de grama molhada que senti noite passada ainda exala por toda parte e o vento não está deixando meus lábios roxos como antes.

Rodo a chave pela fechadura e desço as escadas.

-Bom dia. - A mulher da noite anterior parece mais adorável pela manhã.

-Bom dia. Você sabe se aquela moça...

-Por ali. - Indica com o polegar uma porta de madeira no final do corredor sem tirar os olhos das contas de água em suas mãos. Agradeço com um aceno, mas ela não volta a me olhar quando ando na direção indicada.

A porta dá para um grande restaurante, que Jane mencionara noite passada. Não o notei quando chegamos ao hotel. Eu devia estar mesmo cansada. Há cadeiras verdes escuras nos cantos, perto das grandes janelas de vidro. O chão que devia reluzir... não reluz. As luminárias são baixas e vermelhas e detrás de um grande balcão branco sinto cheiro de bacon.

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