Capítulo 14 - Pôquer

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Consigo ver as luzes amareladas dos corredores do hotel passarem diante dos meus olhos. Eles estão pesados então sinto dificuldade de mantê-los abertos. A última coisa que me lembro é de entrar no carro de Dylan muito zonza, depois de mais uma sessão de risadas desnorteantes e brincadeiras entre ele e seus amigos ligeiramente bêbados. Agora não sei exatamente se estou dormindo ou se estou acordada.

Sinto meu corpo sacolejar de um lado para o outro enquanto minha bochecha roça em uma jaqueta de couro. Escuto a conversa de dois homens.

-É uma boa ideia, tenho que admitir. - murmura um deles, como se não quisesse me acordar. Não consigo reconhecer a voz, parece que meus ouvidos estão selados por um estupor. Assim como no bar minha cabeça gira. E agora vários tons de cores pairam no ar. Do azul ao roxo.

Aperto os olhos.

-Sim, mas me preocupa um pouco. Vamos ver como ela vai se sair. - diz o outro mais calmo. Tento resmungar alguma coisa, mas meus lábios só produzem um estranho e baixinho grunhido. O sacolejo para e me sinto enjoada. Meu corpo é pendido no ar e deixado em um colchão macio e confortável. Sinto frio e, como se alguém lesse meus pensamentos, uma coberta vêm de encontro a meu corpo. Meu braço ferido estremece com o atrito.

-Deixe-a dormir. Amanhã resolvemos tudo com calma.

Tento abrir os olhos e vejo de relance duas sombras deixando o quarto.

Adormeço em questão de segundos e acordo como se a noite tivesse passado em um piscar de olhos. O despertador grita no meu ouvido, uma música estranha em espanhol. Faço uma careta e aperto todos os botões possíveis, sem olhar direito. Por fim ele desliga sozinho.

Olho em volta, toco os cabelos com as mãos e tento me recordar se eu coloquei um despertador para tocar as nove horas da manhã. A luz do dia lá fora machuca meus olhos. Levanto em um pulo a fim de tomar um banho e me livrar da sensação de parecer que fui atropelada por quinhentos mamutes.

Saio do vapor quente enxugando a cabeça com a toalha e percebendo que a ferida no meu braço está melhor, começara a cicatrizar. Mas a dor substituí a dor pela falta que sinto de Jane. Se pudéssemos ter uma noticia ou pudéssemos fazer qualquer coisa talvez eu não me sentisse tão inútil como venho sentindo.

Afasto os pensamentos quando duas batidas soam pelo quarto. Corro até lá, quase escorregando na madeira, devido aos meus pés molhados, e a abro com um sorriso. Dylan usa óculos escuros diferente dos últimos em que vi no seu rosto. Como sempre, ele acordou de bom humor e apresenta um belo sorriso no rosto.

-Bom dia Olhos Cinza! Vamos tomar café? James já está lá em baixo. - diz. Concordo com pressa já que meu estomago parece um poço vazio e tento me lembrar onde escutei esse apelido antes. Jogo a toalha em cima da cama e pego minha bolsa.

Tranco o quarto e começo a andar do lado dele pelos corredores do hotel.

-Vejo que o despertador funcionou muito bem. - diz ele, olhando-me fixamente.

-Ah, então foi você. Ainda bem que colocou ou eu dormiria até a hora do almoço. - digo um tanto constrangida por soar espontaneamente sincera.

-Eu que o diga. Está se sentindo melhor? Se lembra de alguma coisa?

-Bem, meu corpo todo dói então deve ter algo a ver com o fato de eu ter bebido noite passada. Eu nunca tinha feito isso na minha vida. - exclamo e levanto as sobrancelhas. Ele ri.

-Não foi uma bebida alcoólica qualquer. Eles têm essa terrível mania de misturar Absinto com cerveja. Você já ouviu falar? A bebida da "Fada Verde"? É claro que o teor não é tão alto, mas forte o bastante para te deixar com alucinações. Como... ver a mesa girando. - Dylan me cutuca com o cotovelo e o elevador se abre. Tento relacionar alguma lembrança, mas nada me vêm a mente.

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