Capítulo 6 - Atordoada

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Estou sentada no sofá, de frente a televisão, vendo as imagens de um tornado F4 que devastou uma cidade no Texas. Tudo ao redor é destroço de casas, caminhões que foram arremessados e fios de tensão derrubados. As pessoas que aparecem na frente das câmeras choram pelas suas perdas.

Tudo que tenho feito desde que terminamos a conversa é isso: assistir o que está sendo causado no mundo. O controle está caído em minha mão imóvel e eu apenas aperto o botão com o dedo para pular de um noticiário a outro. Estou paralisada, em choque.

Minha mente funciona depressa, captando tudo que posso em questões de segundos. Tento resgatar lembranças que possam ter ligação com meu avô, mas não descubro nada que importe. Sinto o peso de ser uma Guardiã tencionando meus ombros. Sinto o ar quente, por causa da lareira acesa, me oprimindo. Sinto minha respiração entrando e saindo devagar.

–Volto rápido. – escuto Jane sussurrar em alguma parte do cômodo. – Tome conta dela James e tente ser gentil.

–O que há de errado com ela? – ele pergunta, também em sussurro.

–Coitada! Está em choque. Acho que vai demorar algumas horas para passar. – suspira quando diz.

–Mais do que já se passaram? –James eleva o tom.

Eles acham mesmo que não estou escutando?

–Shh James. Seja compreensível. É muito para uma pessoa só. Em menos de um dia ela descobriu que é capaz de controlar o ar. Acha que é pouco? Quando foi com você, ficou chorando por três horas então cale a boca. – Jane o repreende.

–Sei que estou sendo insensível, mas mantenho minha opinião.

–Dê a ela algum tempo. Faça-a comer alguma coisa e a lhe ensine, como planejamos.

–Você e seu tempo. – diz ele com sarcasmo.

–Não vamos demorar. Prometo.

Levanto do sofá.

–Você vai sair? – pergunto enquanto observo Jane, surpresa pelo meu pronunciamento, vestir luvas pretas em suas delicadas mãos. Ela me encara por meio segundo e depois pega um cachecol cinza. James deixa a sala.

–Eu e Dylan precisamos sair e procurar por antigos faróis. Preciso fazer o que chamamos de reconhecimento. – Ela tenta sorrir. Olho o relógio e vejo que já passa das quatro da tarde. O frio dentro da casa vai ficando cada vez mais intenso, já que a energia acabou tem uma hora. Eles me contaram que o governo de Miami pediu que todos estocassem comida, pois sair nas ruas com toda aquela neve espessa é praticamente uma luta. A Hora de Recolher aqui é menor do que em Nova York. Jane me disse que eles só foram proibidos de sair de madrugada, que é quando a tempestade de neve é mais feroz.

–Por que tenho que ficar aqui? E com James ainda! Parece que a qualquer momento vai me afogar para se livrar de mim. – digo e Jane deixa uma risada escapar.

–Eu não posso te levar por dois motivos: o primeiro é que a Organização está de olho em nós. Se precisar acontecer um confronto você vai ser pega na certa. – engulo em seco. – O segundo é que está muito frio lá fora. Como você não está acostumada ia sentir-se mal e seria um peso morto para nós, sem ofensa.

–E-Eu não sinto tanto frio assim. – minto em minha defesa, cruzando os braços. Mesmo sabendo que Jane está certa, não consigo evitar me sentir um pouco ofendida. Afinal, que tipo de pessoa gosta de se sentir inútil?

–Kate, faz três minutos que você não para de bater o queixo. Desde que se levantou e se afastou da lareira! – ela responde sem olhar para mim. Percebo que é verdade. Meu maxilar parece ter entrado em convulsão. Rapidamente tapo a boca com a mão, envergonhada.

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