Capítulo 9 - Chamas

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–Foi quando eu descobri que era uma Guardiã. – termina de contar, com o olhar perdido no horizonte. Sua história deixa meu coração apertado.

–Eu sinto muito Jane. – digo, tentando imaginar como deve ter sido difícil para ela. Jane me olha com um sorriso tristonho e me ajuda a descer das rochas. Fiquei tão entretida que mal percebi que chegamos ao farol. Olhando-o de tão perto tenho a sensação de que vai cair em cima de nós a qualquer momento.

–Mas Jane... qual foi a causa do incêndio? – pergunto.

–Eu não sei. Me disseram que foi uma vela acesa no quarto dos meus pais que iniciou o fogo, mas, durante todos esses anos, eu ainda me pergunto se a culpa foi minha. Talvez seja por isso que eu ainda não me perdoei.

Passo meu braço pelas suas costas e aperto seu ombro contra o meu.

–Eu tenho certeza de que não foi sua culpa e que você faria qualquer coisa para salvá-los. – tento confortá-la, de uma maneira meio desajeitada. –E quem é Mason? – questiono.

–O que? – ela parece não entender.

–Quem é Mason e como ele sabia que você era uma Guardiã?

–Ah, certo. Isso é uma história para depois, tudo bem?

Concordo com a cabeça, sem entender realmente. Ela me dirige um sorriso quando Dylan e James se aproximam de nós.

–Eu espero que esteja aqui. – ela diz.

–Eu também. – responde Dylan. James me entrega uma lanterna azul. Já está escurecendo. Ligo-a e começamos a subir em silêncio.

A escada localizada dentro do farol é em formato de caracol, me deixando ligeiramente tonta. O espaço parece ter sido abandonado há muito tempo. Tem teias enormes de aranha para todos os lados. A parede está coberta por um mofo sufocante e rachaduras. Sinto que os degraus de madeira vão desabar diante de meus pés cada vez que piso e eles rangem.

Quanto mais alto chegamos, mais intensos são os ecos. Uma coisa boa é que estamos completamente protegidos do vento de fora, frio e cortante. E disso não podemos reclamar. Jane sobe na frente, elegante como sempre, e é a mais ansiosa para chegar ao topo. James está atrás dela, andando ora olhando para cima e ora olhando para os próprios pés. Eu e Dylan somos os últimos.

A ferida agora doí mais do que imaginei, mas tudo que consigo pensar no momento é do quanto preciso de um banho e de colocar algo no estomago. Na verdade, qualquer coisa que não me fizesse subir degraus vacilantes com uma ferida de bala no braço.

–Vejam! – Jane para e aponta para cima. Levanto a cabeça e vejo o topo do farol apenas mais um lance de degraus caracol. A ruiva se alegra e acelera o passo. Subimos com mais pressa.

O topo do farol é bem alto. Talvez alto demais. Não tenho medo de altura, mas olhar para baixo e ver as rachaduras me deixa com um frio nauseante na barriga. As janelas de vidro ainda estão intactas, apesar de um sebo deixar a vista do mar lá embaixo embaçada.

–O que fazemos agora? – pergunto.

–Procuramos. – Ela suspira e começamos a vasculhar. Não sei exatamente o que estou procurando.

Como se procura uma energia? Como é o formato?

As perguntas me intrigam enquanto James tenta abrir a janela com o pé-de-cabra de Dylan, sabe-se lá o porque.

–Por que está abrindo as janelas?

–Olhem. Ele está aqui! – Jane grita e faz menção com a mão para que nos aproximemos, deixando minha pergunta pairar no ar. Ando até ela, onde é exatamente o centro do farol. Uma mecânica antiga, enferrujada e abandonada, onde provavelmente o fogo acenderia a luz, fica acima da minha cabeça. No fundo de um pequeno poço abaixo da mecânica alguma coisa brilha.

Os GuardiõesOnde histórias criam vida. Descubra agora