Páginas inicias de O Quinto Elemento

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Fique agora com um gostinho do que está por vir na trilogia Os Guardiões...


"E, lembre-se, quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, frequentemente homens com mentalidade de gangsteres detêm o controle. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente."

– Lord Acton –



PrólogoO despertar de um estranho

O calor.

Apenas o calor, queimando meu sangue, consumindo minhas energias como numa grande combustão. Por dentro não resta nada além dos pedaços de quem eu era, lutando para se organizarem, e a vontade de fazer qualquer coisa. A vontade, na verdade, de acordar. Ou apenas de dormir. O que for melhor.

Não tenho mais noção do tempo, vivendo nesse escuro, sem nada ao meu redor. Nem sei como vim parar aqui, nesse fim silencioso e quente. Incontáveis vezes imaginei que estou morto, e o que me aguarda pela eternidade é o fogo do inferno. Mas isso seria impossível porque ainda sinto o coração acelerado dentro do meu peito, uma lembrança do homem que já fui, do corpo em que habitei. E, é claro, o calor.

Droga!

Acorde! – penso com fervor, em uma tentativa fraca e sem sentido. Algo se remexe dentro de mim, como uma chama lutando para se manter acesa.

E então ouço o som. O som das vozes dos estranhos abafadas, como se conversassem comigo debaixo d'água. Sei que elas estão ali, sei que existem. Pelo menos é no que quero acreditar. Eles estão falando, em conjunto. Como eu gostaria de arrancar com as mãos a barreira que me impede de ouvi-los com clareza. Como eu gostaria de poder gritar que estou aqui.

Eu estou aqui.

Acorde! – será que realmente consigo?

Uma coisa estranha acontece, pela primeira vez. Eu sinto o peso do meu corpo, cada centímetro dele. Ele está molhado e fedorento, provavelmente do meu suor. O calor aumenta e acho que vou explodir a qualquer instante. Nunca imaginei que sentir o peso de si fosse ser tão sufocante. As gotas escorrem pela minha pele e se desmancham sabe-se lá onde. Onde estou?

Acorde! – tento não desistir da minha força de vontade.

De repente uma imagem enche a minha mente. Há uma mulher, de cabelos loiros e os olhos pequenos, comprimidos por causa do sol. Ela sorri para mim e se vai, dando espaço a uma ponte, cinza como o céu. O vento é só uma miragem porque não consigo senti-lo, mas sei que está lá. Depois, o oceano e suas ondas gigantescas lançando-se, sem som algum, umas contra as outras. Por fim, uma plantação de milho. A terra escura como o meu fim.

Acontece rápido demais.

O bipe das maquinas, sem parar. Os meus dedos tocando, como se fosse pela primeira vez, o tecido macio do algodão. O gosto amargo da minha boca que não vê comida há muito tempo. O ar que entra pelo meu nariz sem permissão. O calor indo embora, o coração se acalmando. As vozes. Ah! As vozes que agora consigo escutar.

–Onde ele está? – diz uma, e eu me delicio com cada palavra.

–Seu estado é instável ainda.

Acorde! – não é mais necessário.

Quando abro os olhos, me vejo deitado em uma cama.

Os GuardiõesOnde histórias criam vida. Descubra agora