Minha mãe fica em silêncio a viagem inteira que fazemos de Sacramento, capital da Califórnia, até Havenwood Falls, uma pequena cidade no interior. Sei que não está nada feliz de ter que voltar, mais uma vez em um mês, ao lugar de onde foi embora comigo quando eu tinha dois anos de idade. Mas, como o enterro da minha avó foi semana passada e o advogado de confiança da família só estaria disponível hoje, ela teve que vir da capital para assinar alguns documentos referentes à herança. Mamãe é filha única e herdou todos os bens da família.
Um longo e pesado suspiro escapa de seus lábios, quando saímos da rodovia, pegamos a esquerda, e uma grande placa verde de metal com o nome da cidade escrito, aparece em nossa linha de visão.
-Mãe, tá tudo bem? -eu pergunto pela milésima vez, e pela milésima vez, ela apenas assente em resposta.
É obvio que está mentindo, mas vou parar de insistir porque sei que essa cidade lhe traz lembranças dolorosas. Lembranças do tipo, a morte do meu pai.
Cruzamos a ponte Havens Green, o único acesso à cidade. Me inclino sobre a janela e o vento bagunça meus cabelos loiros, jogando-os contra meu rosto. Tiro-os dos olhos com impaciência e observo o rio correndo embaixo, sua água é tão limpinha que dá até pra ver as pedras no fundo.
Árvores altas e belas se agigantam sobre nós na medida que o carro avança, deixando minha mãe cada vez mais séria. A sensação que dá é que estamos adentrando em uma densa floresta e não indo em direção a uma cidade. Mas, pensando bem, é quase isso mesmo. Havenwood Falls foi fundada dentro de uma antiga reserva florestal abandonada. Começou como uma pequena colônia e foi crescendo com o passar dos anos e se transformou numa bela cidade vintage: com suas construções antigas, ruas ainda de paralelepípedos e uma igrejinha de arquitetura neogótica datada de 1819. Observo tudo com olhos bem atentos para não perder nenhum detalhe, pois minha mãe nunca me trouxe aqui antes. Se sei coisas sobre sua cidade natal é porque, estranhamente, sempre me senti atraída por esse lugar e fiz várias pesquisas escondidas sobre sua história local.
Havenwood Falls faz parte de um passado que minha mãe tenta desesperadamente esquecer. Passado esse que não faço ideia do que tenha acontecido.
Passamos pelo Centro comercial só de passagem. A casa que minha mãe nasceu fica numa propriedade privada dentro da floresta que cerca a cidade.
-Aquela ali é a loja de antiguidades da família. -mamãe aponta com o queixo para um estabelecimento de tijolos vermelhos e portas duplas de vidro, com uma placa pendurada acima da entrada com o nome Lua de Prata, escrito em letras prateadas num fundo escuro. Uma faixa com a palavra "Luto" está presa de um lado a outro das portas.
-Vamos parar e entrar um pouco para eu conhecê-la por dentro? -peço, sem tirar os olhos da fachada enquanto o carro passa lentamente na frente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lua Negra (Editando)
WerewolfKimberly foi criada longe de seus parentes maternos, mas quando sua avó morre e sua mãe é obrigada a retornar a sua cidade natal para a leitura do testamento , ela vê nisso a chance de conhecê-los e descobrir mais sobre eles, porém quanto mais tenta...