Capítulo 55

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Fazemos o trajeto todo em silêncio. Eu, perdida nas lembranças horríveis dessa noite e o Conrado... Bem, não sei bem no que ele está pensando, pois sua expressão é impassível nesse momento.

Me ajeito no assento quando o carro começa a subir a estradinha de cascalho que leva diretamente para à frente da casa.

Minha mente está a mil. Tudo que vivi depois que fui ao banheiro até agora, parece um pesadelo do qual não consigo acordar. Ainda estou trêmula imaginando o que poderia ter acontecido se Conrado não tivesse chegado na hora.

Parece que para mim é impossível ter uma noite  normal como outra pessoa qualquer. Toda vez que saio algo de ruim acontece. Que droga! Será que minha vida vai ser sempre assim?

—Chegamos. –Conrado desliga o carro.

Ergo a cabeça e olho em direção a casa que está totalmente escura. Minha mãe deve ter ido caçar o lobo-cão junto de outros caçadores. Agora a vida dela se resume nisso - trabalhar durante o dia e sair pra caçar durante à noite. Coitada da minha mãe.

—Quer conversar um pouco? –Conrado sugere.

Fico encarando o relógio digital no painel em silêncio por alguns segundos. É meia-noite.

Viro meu rosto para ele, encolhendo os ombros.

—Eu não sei o que dizer. –balbucio, sentindo um nó na garganta.

Ele vira o corpo totalmente na minha direção, de modo que ficamos bem de frente um para o outro.

—Sabe que a culpa não foi sua não é?

Olho fixo em seus olhos. Ele acha que estou me culpando pelo o ocorrido.
Que fofo.

—...Sei que nos dias de hoje ainda tem gente de mente pequena que culpa as vítimas de violência sexual, mas nenhuma mulher é culpada por isso, seja ela quem for.

Fito minhas unhas, assentindo.

Sei que nem cheguei a ser violentada, mas tinha tudo pra isso chegar a acontecer.

—Eu sei, mas é que fico revivendo aquele momento e é como se fosse um... – não consigo terminar porque o nó que se formou na minha garganta se desmancha em um choro desesperado. Baixo a cabeça, apoiando o rosto nas mãos, cobrindo-o. Meus ombros sobem e descem com os soluços. Não lembro da última vez que eu tinha chorado pra valer desse jeito.

—Ei, ei. –Conrado se inclina por cima do freio de mão e me puxa para junto de si.
Sem hesitar deixo que me abrace e eu coloco a cabeça em seu ombro.

A vida é mesmo cheia de surpresas. Dias atrás Conrado quis me atacar com uma faca no auge de uma loucura da sua cabeça e hoje me salvou de ser atacada por um bêbado tarado. E ainda por cima está sendo muito amável comigo.

Passado o ataque de choro, afasto-me um pouco para trás. Fito seus expressivos olhos cor de avelã, suas sobrancelhas grossas, o desenho de sua boca. É constrangedor e errado, eu sei disso. Mas não consigo parar de olhar. Droga! O que está acontecendo comigo? Eu sou completamente apaixonada pelo o Dom com toda a minha alma e com todo o meu coração, mas acho que estou começando a me sentir atraída pelo o Conrado.

Lua Negra (Editando)Onde histórias criam vida. Descubra agora