Quando acordo no dia seguinte, deixo Dominic de lado para me concentrar na minha mãe. Através da janela do meu quarto, vejo-a sentada em um banco de madeira perto do pequeno lago encarando o nada.
Ela enfia a mão no bolso do longo casaco preto que está usando e tira algo que não consigo ver direito o que é.
Lavo o rosto, escovo os dentes, tiro meu pijama, ponho um short jeans, uma camiseta simples, meu All Star e desço.
Caminho em direção a ela de cabeça baixa, evitando que os raios de sol peguem diretamente nos meus olhos.
Sento do seu lado e espero pacientemente que comece a falar. Observo a água esverdeada do lago oscilar quando o vento sopra. É manhã de quinta feira, não temos aula por que o prefeito decretou dois dias de luto por causa da morte da Tamara, então tenho o dia de hoje e de amanhã para que mamãe abra o jogo comigo, antes de eu exigir que ela me diga se realmente conhece o cara da foto.
Minutos se passam e enfim minha mãe se mexe virando a cabeça para me encarar. Ela está abatida, muito abatida. Olhos vermelhos, inchados, com olheiras ao redor. Fico com muita dó dela.
-Tudo bem, mãe, não precisa me contar nada se não quiser. Sei que fazer isso vai fazê-la desenterrar coisas do seu passado que lhe traz muito sofrimento.
Ela abre um sorriso amarelo e lágrimas começam a escorrer dos seus olhos.
-Minha menina, minha doce menina. -murmura.
Passo a mão por seu rosto molhado, enxugando-o.
-Te amo. -digo.
Mais lágrimas escorrem e então ela me entrega algo. É a aliança de casamento do papai.
-Não sei se ainda vai me amar depois do que eu contar o que tenho pra contar.
Sinto um frio na espinha.
O que será que a minha mãe que tem cara de anjo, que sempre foi uma mãe muito dedicada, amorosa e doce, fez? Não consigo imaginar nada de ruim que ela tenha feito que possa me fazer deixar de amá-la.
Ponho a aliança no meu polegar. Afasto a mão um pouco para admirá-la no meu dedo. Embora seja bem simples, é muito bonita. É de prata com um detalhe que forma metade de um coração feito de ouro que com certeza a outra metade deve estar na aliança da minha mãe.
Cruzo as pernas e ela começa.
-Eu tinha quinze...quase dezesseis anos quando conheci Trevor Scott, o cara da foto que apareceu no memorial da filha do prefeito. Ele chegou na cidade, começou a estudar na Havenwood High School e logo se aproximou de mim. Ganhou minha amizade, minha confiança e também o meu coração... Começamos a namorar escondido dos meus pais por que eles não queriam, não confiavam no Trevor. Diziam que ele era estranho e que por causa de eu ser de uma família de caçadores, tinha que ter muito cuidado com pessoas que chegam de fora.... Mas eu tava tão apaixonada que ignorei a tudo e a todos e me entreguei de corpo e alma a ele... E esse foi o meu pior erro.
Ela faz uma pausa, respira fundo e continua.
-Como fui boba e ingênua. Trevor Scott era um lobo e se aproximou de mim para se vingar da minha família por ter matado seus pais...
Arregalo os olhos.
-Nossa, mãe. -coloco minha mão em cima da sua e aperto-a tentando lhe passar algum tipo de conforto.
Ela vira para mim e está chorando. De novo.
-Numa noite recebemos uma ligação anônima dizendo que um grande grupo de lobos estavam reunidos na floresta e planejavam atacar a cidade. Na época, meu pai era o líder que comandava a Lua Negra daqui de Havenwood Falls, ele ordenou que todos os caçadores fossem vasculhar cada canto da floresta... E, todos foram. Ficando em casa somente eu, meu pai e o Spencer, meu irmão mais velho. A minha mãe tinha ido até o centro verificar o antiquário por que o alarme de segurança tinha disparado... -ela sorri pensativa. - Eleanor Whitmore, sua avó, era uma mulher de personalidade forte e muito corajosa. Ela se armou com uma espingarda calibre 12 e foi sozinha até a loja... E isso foi o que a salvou.
Paro de girar a aliança no meu dedo.
-A salvou? -questiono.
Mamãe balança a cabeça assentindo.
- Sim, porque pouco tempo depois o Trevor entrou na nossa casa armado com uma das armas da lua negra, uma pistola 9mm e matou meu pai e meu irmão que estavam na cozinha criando um plano de defesa, e me fez assistir a tudo. Depois me levou até a casa do Dante para matá-lo, mas como ele não estava em casa, pois tinha ido junto com os caçadores pra floresta, atirou na Lily, a esposa dele... O Conrado tinha 5 anos e viu a mãe ser morta.
-Que horror! -exclamo ficando toda arrepiada.
Agora tô começando a entender por que o Conrado é do jeito que é. Passar por um trauma desses quando criança, não é pra qualquer um.
-Trevor ia matar o garoto também, mas eu consegui impedi-lo jogando o meu corpo contra o dele na hora em apontava a arma pra cabeça do menino. Mandei Conrado correr para o mais longe que pudesse e assim ele fez.. Com raiva Trevor me levou até as cavernas leste e foi lá que o pesadelo teve fim.
Quando ele estava prestes a meter uma bala na minha cabeça, os caçadores invadiram tudo, conseguiram impedir que ele me matasse e mataram ele... Foi uma das piores noites da minha vida.- E as outras duas pessoas que disseram que ele matou? -pergunto.
-Não existe, foi só uma mentira que a Lua negra inventou para as pessoas não perceberem que foi um ataque direto a nossa família.
-Hum...
-Trevor tinha planejado tudo nos mínimos detalhes. Passou cinco meses namorando comigo, sendo o garoto dos sonhos de qualquer garota boba que ainda sonhava com o príncipe encantado. Foi ele quem fez a falsa denúncia anônima e foi ele que invadiu o antiquário para roubar a pistola e as balas de prata que a própria lua negra fábrica.
Continua amanhã!
Gostaram da primeira parte? Curtam e Comentem.. Bjuss 😙😙😙
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Lua Negra (Editando)
WerewolfKimberly foi criada longe de seus parentes maternos, mas quando sua avó morre e sua mãe é obrigada a retornar a sua cidade natal para a leitura do testamento , ela vê nisso a chance de conhecê-los e descobrir mais sobre eles, porém quanto mais tenta...