Depois que constatamos que Tamara foi morta por um humano e não pelo lobo-cão, a Lua Negra entregou o caso ao xerife Gibson para que ele tomasse as medidas cabíveis, já que assassinatos causados por humanos não era o foco da organização. E depois de me deixarem em casa os quatro foram embora.
-Não quero nem imaginar o que você viu. -Ruby diz enquanto me serve uma xícara de chá de camomila.
-E nem queira. -murmuro de cabeça baixa.
A imagem do sangue espirrando ainda tá fresca na minha mente.
-O tio Joseph mandou você tocar no colchão em que a Tamara foi morta e simplesmente as imagens apareceram? -ela pergunta curiosa.
Concordo e bebo um gole do chá. É claro que não foi tão simples assim, mas não tô muito afim de reviver aquilo tudo de novo.
-Nossa, cara. Isso é muito sinistro. Bem que eu sempre desconfiei que aquele velho fosse macumbeiro.
Levanto o olhar para encará-la.
Ela está rindo. Parece que a tristeza pela morte da Tamara durou só umas duas horas e a velha Ruby está de volta.
Reviro os olhos balançando a cabeça.
—Não sei como você consegue fazer piada numa hora dessas.
-Ué, mas é verdade! Quer bem dizer que você não achou ele estranho? Com aquele longo casaco preto e com àquela bengala horrível dos anos 50. -ela faz careta. E mesmo com a nuvem negra que paira sobre a minha cabeça, acabo rindo.
***
Fico sozinha. Ruby vai pra casa e minha mãe está na cidade resolvendo umas coisas com os caçadores.Subo para meu quarto, pego meu bloco de anotações, uma caneta e me sento no chão com as costas encostadas na parede para escrever tudo o que vi nos fragmentos de imagens.
Mão mecânica com garrafas afiadas.
Botas coturno pretas, cano longo, sem salto, com várias fivelas.
Pela a expressão da vítima, ela conhecia o seu assassino.
Cheiro de tinta de caneta.Ponho o lado da tampa da caneta entre meus dentes, pensativa.
Quem matou Tamara devia ter muita raiva dela, um ressentimento muito forte ou algo do tipo, pra chegar a rasgar a garganta da garota a sangue frio. O que não dever muito difícil já que ela era uma vaca sem coração.
Penso no Dom e na maneira como ele me olhou, como se realmente tivesse ficado muito magoado comigo por eu pensar que foi ele que matou a ruiva. Talvez eu tenha sido muito precipitada em meus julgamentos, e talvez não seja ele quem a matou.
Um barulho vindo do andar de baixo chama minha atenção. Me levanto, coloco o bloco em cima da cama com a caneta e desço.
—Mãe? –chamo quando chego na sala, mas tá tudo vazio.
Ficando tensa, tiro meu pendante do pescoço me lembrando das instruções da minha mãe de como usá-lo. Caminho lentamente, puxando a corrente dele e quando ela fica do tamanho que quero aperto a pérola negra no centro e as lâminas cortantes saem para fora.
Olho ao redor, essa casa é muito grande e quando fico sozinha aqui, ela parece aumentar dez vezes mais de tamanho.
Chego na cozinha e Conrado está parado na entrada da porta segurando uma garrafa de Whisky com um dedo de bebida dentro.
Relaxo instantaneamente.
—Conrado?
Ele me fita com olhos vermelhos.
—Sabe, eu tenho certeza que foi você que matou Tamara.
—O quê? –exclamo surpresa.
Acho que Conrado bebeu demais e a julgar pelo forte cheiro de álcool que tô sentindo daqui, com certeza bebeu além da conta e não tá raciocinando direito.
Ele dá risada e coloca a garrafa em cima da mesa com força.
— A matou pra ficar com o Blackwell só pra você.
Agora é a minha vez de dá risada, mas a menção do sobrenome do Dom, fez com que eu sentisse vontade de me encolher.
Coloco o pendante de volta em meu pescoço e sua corrente volta ao seu tamanho normal.
—Esse Whisky que você bebeu te deixou com um parafuso a menos. –digo com indiferença.
Seus olhos cinzas-esverdeados me examinam.
—Eu vi vocês dois na floresta e como tenho a super audição de lobo, ouvi muito bem o que conversaram.
Arregalo os olhos tentando desesperadamente pensar em uma desculpa pra dar, mas se ele realmente ouviu nossa conversa, então não há nada que eu possa inventar pra me tirar dessa.
—Audição de lobo? –tento levar esse assunto para um outro tópico.
Ele sacode a cabeça como se tivesse espantando algum inseto voador.
—Sim, quer que eu explique como funciona? –ele oferece com expressão gélida.
Dou de ombros.
—Se você quiser.
—Pois bem. Eu vi você e eu Blackwell juntos, me concentrei nos dois e suas vozes vieram até mim, simples assim. –ele espalma as mãos pela ar como se tivesse fazendo um show de mágica. — É só questão de se concentrar... Ainda bem, porque imagina só se eu ficasse direto ouvindo tudo o que as pessoas conversam! Eu já estaria preso em um manicômio.
Cruzo os braços. Se ele contar pra minha mãe, eu tô ferrada. E vou me ferrar por causa de algo que nem existe mais.
—Olha, eu posso explicar. –digo com voz baixa.
Ele se abaixa e tira uma adaga de dentro de seu coturno. Idêntica a que a Ruby atirou no pneu do meu carro.
—Não, você não vai me explicar nada! Você vai pagar por ter tirado a Tamara de mim e depois vou atrás do Blackwell.
Dito isso, ele vem na minha direção com a adaga apontada pra mim. Mas antes de chegar perto tropeça nos próprios pés e cai de cara no chão e a adaga vai parar embaixo da mesa.
Com um movimento rápido apanho a arma e fico esperando ele se levantar, mas nada acontece. Parece que desmaiou.
Puxo a cadeira e me sento ainda tremendo. Solto a adaga em cima da mesa e fico encarando-a. O Conrado só pode estar muito mal por causa da morte da Tamara, pra tentar me atacar desse jeito! E o pior ainda está por vir, quando ele contar pra minha mãe... Esfrego os olhos sentindo o mundo desabar na minha cabeça. Parece que tudo deixou pra acontecer ao mesmo tempo.
Continua!!
Ficou pequeno, mas amanhã tem mais.. Bjuss e boa noite.
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Lua Negra (Editando)
WerewolfKimberly foi criada longe de seus parentes maternos, mas quando sua avó morre e sua mãe é obrigada a retornar a sua cidade natal para a leitura do testamento , ela vê nisso a chance de conhecê-los e descobrir mais sobre eles, porém quanto mais tenta...