Capítulo 37 Parte-2. A conclusão

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Confiança. Toda traição, seja ela qual for, começa com a confiança. Confiar nas pessoas erradas, acreditar nelas é o primeiro passo para ser traído, apunhalado pelas costas. Mas o que seria de nós se não pudéssemos mais confiar em ninguém?

Observo minha mãe enquanto suas lágrimas banham seu rosto. São lágrimas de dor, culpa, arrependimento, tristeza e raiva. Ela carregou tudo isso dentro dela, todos esses sentimentos ruins e nunca se quer me fez perceber que tinha passado por algo tão horrível assim.

-Nada disso foi culpa sua, mãe. Você só foi mais uma vítima daquele monstro. -laço seus dedos nos meus.

-Foi sim. Eu deveria ter sido mais cautelosa...em todos os aspectos..

-Em todos os aspectos? Como assim?

-Depois que tudo aconteceu, que enterramos os nossos mortos, minha mãe me mandou para um colégio só para meninas na Inglaterra. Ela me culpou pela tragédia que se abateu em nossa família e disse que não aguentava mais olhar pra minha cara, que se eu continuasse sob o mesmo teto que ela, seria capaz de cometer uma loucura comigo. É claro que era iria me odiar, afinal o filho que morreu foi o preferido, o que ia ficar no lugar do meu pai na Lua Negra, o que ia continuar com o legado da família Whitmore... Mas, enfim, dois dias depois fui mandada pro internato. A primeira semana foi muito difícil. Eu me sentia sozinha, abandonada e tinha pesadelos quase todas às noites.. Os sons dos tiros não saiam da minha cabeça. Cada vez que eu fechava os olhos conseguia ouvi-los de novo.
Um mês depois eu já tava começando a me sentir melhor, na escola tinha uma psicóloga que conversava comigo todos os dias, mas é claro que não contei a ela que o tal do meu namorado que surtou e matou algumas pessoas da minha família era na verdade um lobo vingativo. Fiz algumas amizades. Tudo estava indo bem... até os enjôos começarem..

Enrijeço.

-Enjôos...? Mãe você...

-Eu estava grávida.

A aliança cai do meu polegar e eu me apresso em pegá-la, quando fico em pé fito minha mãe de olhos arregalados.

-M-Mas como isso...

Ela não me olha de volta, continua de cabeça baixa encarando as unhas.

-Deixa eu terminar, por favor. -Pede com voz suplicante.

Cruzo os braços, fecho a boca, deixo que ela continue, mas não volto a me sentar do seu lado.

-Por causa dos enjôos fui levada a enfermaria da escola, fiz alguns exames e foi constatado que eu estava com quatro semanas e quinze dias de gravidez. Imediatamente a diretora me mandou de volta pra casa e quando soube que eu estava grávida, o ressentimento da minha mãe por mim só fez aumentar. Pois eu estava carregando o filho da vergonha, do assassino do meu pai e do meu irmão... Eu estava gerando dentro de mim um lobo-cão.

Ponho a mão na boca.

-Oh, meu Deus! -exclamo entre meus dedos e torno a me sentar.

-Para esconder a maior vergonha da família Whitmore, fiquei trancada o restante da minha gravidez em um porão nos fundos da casa. Minha e só contou para quatro pessoas; O médico da cidade na época, a sua melhor amiga, Linda Campbell, uma enfermeira particular chamada Natacha Peterson, e Tia Jeanine. O Dante descobriu por acaso. Foram oito meses e meio sem ver a luz do dia, sem falar com ninguém. Era um tormento sem fim. Quando o parto não tive tempo nem de saber qual era o sexo do bebê, pois minha mãe logo o levou para longe de mim.
Ela pagou a enfermeira para abandoná-lo em frente ao hospital de Wellos Falls, a cidade vizinha daqui. Lá eles tem um ótimo programa para adoção de bebês. E agora muitos anos depois, essa criança que já é adulta e que não sei nem se é homem ou mulher, voltou para se vingar de todos nós.

-Tá querendo dizer que o lobo-cão que está solto nessa cidade, é o meu meio irmão? Mas como tem certeza disso? Pode ser qualquer outro lobo-cão que queira vingança contra a Lua Negra.

-Por que um mês antes de virmos para cá, o Dante me ligou dizendo que foram encontrados os corpos do médico que fez o meu parto e da enfermeira que minha mãe pagou para abandonar a criança, mutilados dentro das cavernas leste. Um mês depois minha mãe foi encontrada morta dentro do mesmo porão em que fiquei durante a minha gravidez... E a Beatriz Campbell filha da Linda Campbell, foi morta aqui, e o lobo-cão deixou o bilhete com o nome do hospital dentro da boca da garota por que queria que eu soubesse que ele está aqui... Que ele ou ela, está vindo atrás de cada um de nós.

Fecho a cara sentindo meu sangue gelar nas veias.

-E você sabia disso o tempo todo? E não me contou nada? Foi por isso que mentiu pra mim sobre ter entregado o bilhete para o xerife... E eu aqui pensando que o lobo-cão fosse a Ruby..

-A Ruby? Mas por que você pensou isso? -mamãe indaga.

Lembro das ligações e de tudo que conversei com o lobo-cão e tenho vontade de contar pra ela, mas como ele disse; se eu contar pra minha mãe, ele mata alguém inocente.

Desvio o olhar, balançando a cabeça.

-Nada...por nada.

-Eu não poderia te contar, filha, pois tinha medo do seu julgamento, de você achar o mesmo que a minha mãe achou, que todas aquelas mortes foram minha culpa.

Paro diante dela, encaro-a de cima.

-Eu jamais a julgaria, por que a conheço muito bem e a amo mais que tudo no mundo. E nessa vida todos nós cometemos erros e todos nós estamos sujeitos a sermos enganados por alguém em quem depositamos a nossa confiança.

Mamãe me abraça forte e então vai para dentro de casa preparar um chá para nós. Eu fico mais um pouco sentada no banco olhando o lago enquanto tento processar toda essa informação.

Meu celular toca dentro do bolso do meu short jeans.

É o lobo-cão. Meu coração bate acelerado. A perto a tecla de atender e ponho no meu ouvido.

-Vejo que a nossa querida mamãe lhe contou tudo. -Ele diz.

-Você está aqui? -pergunto olhando ao redor.

-Mas é claro que estou!

-Mas eu não tô sentindo o seu cheiro. Como isso é possível?

-Ah, tenho uns truques que aprendi com alguns amigos...

-Se você tava ouvindo tudo, então sabe que a nossa mãe não teve culpa nenhuma né?

Sei, mas... Ela não fez nada para impedir que eu fosse descartado em um lugar qualquer como um objeto com defeito, que não servia mais pra nada!

Fico em silêncio, sem saber o que responder porque posso sentir o rancor e ódio dele pela minha mãe em cada palavra que sai da sua boca e nada que eu disser vai mudar isso.

Você matou mesmo todas àquelas pessoas? –pergunto me referindo ao médico, a enfermeira, a minha vó, e a garota Beatriz Campbell.

Claro que matei! Só que ainda falta uma, mas não se preocupe, não é você.

Ele ou ela, desliga na minha cara e um pânico toma conta de mim.

Continua..

Curtam e Comentem!!! Boa leitura, meus amores. Bjuss.

Lua Negra (Editando)Onde histórias criam vida. Descubra agora