-Hã..?
Samantha toca o piercing da sobrancelha fingindo não entender o que eu disse.
Encaro-a balançando a cabeça negativamente.
Como não notei antes que ela estava usando o mesmo par de botas? Acho que por que eu tava tão atordoada com a maneira que meus colegas estavam me tratando essa manhã que nem me dei conta.
Ela segura um frasco branco de remédio pra anemia aberto e é dele que vem o cheiro que senti no quarto em que Tamara foi morta. O cheiro forte e acre que senti não era tinta de caneta era de Folifer, um remédio pra quem tem anemia em alto grau.
-Por quê? -pergunto com a voz embargada. -Por que matou Tamara e ainda por cima deixou que todos pensassem que fui eu!
Samantha mantém a expressão neutra. É uma boa atriz.
Ela se vira para o espelho e arruma o cabelo. Os fios bem pretos fazem um belo contraste contra algumas mechas azuis.
-Não faço a mínima idéia do que você tá falando. -diz sem me olhar nos olhos.
Sinto raiva.
Ponho as mãos em seus ombros, e viro-a de frente pra mim.
-Para de fingir, garota! Eu já sei que foi você.
Ela ri com escárnio e tenho vontade de socar sua cara.
-Sabe que ninguém vai acreditar em você, né? Todos vão achar que tá fazendo isso só pra tirar a culpa de cima de você, afinal não fui eu que dei uma surra na vadia ruiva na frente de todos e a mandei pro hospital.
Engulo em seco.
A porta de uma das cabines abre levemente e Lucy põe a cabeça para fora fazendo um gesto para eu não dizer que ela está ali e me mostra um aparelho celular em sua mão. Ela vai gravar a nossa conversa. Parece que quando Samantha entrou no banheiro não sabia que tinha gente dentro.
Desvio o olhar da cabine e volto a encarar Samantha.
-Isso é verdade. -concordo em um tom convincente. - Não tenho como provar por que todos os indícios aprontam pra mim, por causa do que fiz semana passada. Mas eu nunca tiraria a vida de uma pessoa, não propositalmente.
Ela coloca o frasco de remédio em cima da pia e mexe em algo dentro de sua bolsa, parece que vai pegar algo, mas então desiste e me estuda de cima a baixo com seus enormes olhos azuis.
-Eu também não...até Tamara fazer o que fez com o Samuel, meu irmão.
Sabe, dizem que quando alguém que amamos morre, uma parte nossa morre junto também. E isso é verdade, quando meu irmão se matou por causa da Tamara, uma parte minha morreu junto com ele e a única coisa que manteve a minha outra parte viva foi a vingança que alimentei durante esses dois anos.Arregalo os olhos em surpresa, segurando a corrente do meu pendante com força.
-Seu irmão se matou por causa da Tamara?
Preciso fazer com que confesse. Preciso fazê-la dizer "É, fui eu que matei Tamara." Pra não deixar dúvidas e pra fazer com que ela fique presa muitos anos. Por isso vou fazer perguntas, fingir interesse, até ela falar a palavra chave.
Ela me rodeia, e não consigo tirar os olhos de suas botas. É preta, de couro, toda afivelada, igual de roqueiro, e elas me dão arrepios.
-Samuel e Tamara namoraram e ela o traiu... O traiu com seu melhor amigo. Meu irmão a amava, a venerava, tinha uma verdadeira adoração por ela e quando descobriu que ela o traiu com o Kevin, ele não aguentou a dupla traição e se suicidou... E sabe quem o encontrou? Fui eu. Eu o encontrei pendurado no ventilador de teto com uma corda envolta do pescoço e a foto dos dois juntos no piso abaixo dele.- seus ficam marejados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lua Negra (Editando)
WerewolfKimberly foi criada longe de seus parentes maternos, mas quando sua avó morre e sua mãe é obrigada a retornar a sua cidade natal para a leitura do testamento , ela vê nisso a chance de conhecê-los e descobrir mais sobre eles, porém quanto mais tenta...