O problema todo começara três semanas antes. Alfonso estava fora em uma viagem de negócios e os Portilla's foram convidados para uma recepção no consulado mexicano. Como Enrique Portilla, o pai das gêmeas, tinha outro compromisso e Anahí estava gripada, Giovanna comparecera sozinha à recepção, representando a família. Foi assim que ela conheceu Carlos Ponce, um adido do consulado. Os dois sentiram-se atraídos um pelo outro e desde então Giovanna passara todos os momentos possíveis com ele. Anahí ignorava a desculpa que ela inventava para Alfonso, mas sabia que os dois não se viam havia vários dias. E pior, Anahí tinha quase certeza de que sua irmã estava dormindo com aquele mexicano. Giovanna nada comentara a respeito, mas o modo como seus olhos brilhavam quando falava de Carlos a denunciava. E Anahí também não queria saber detalhes íntimos do envolvimento dos dois.
Quanto mais soubesse, mais culpada se sentiria, como se fosse a responsável pelos atos inconsequentes da irmã.
Por que Giovanna tinha que ser assim e não se contentava em ser noiva de um homem tão bom quanto Alfonso? O que mais ela queria?
Giovanna prometera que seria fiel a Alfonso depois de casados. Será que ela cumpriria aquela promessa? Anahí não acreditava. Ninguém mudaria de uma hora para a outra só porque teria uma aliança no dedo anular da mão esquerda. Anahí não queria nem pensar no que poderia acontecer depois. E se Giovanna continuasse a se encontrar com Carlos?
E se Alfonso descobrisse tudo?
Meu Deus, que ele nunca descubra essa traição. O Senhor sabe que ele não merece.
A traição de Giovanna seria a morte para Alfonso. Ele era a pessoa mais honrada que Anahí conhecia. Uma pessoa íntegra, respeitadora. Uma pessoa fiel. Anahí tinha tanta certeza das qualidades de Alfonso, que apostaria sua vida por elas.
Santo Deus, ela ficaria doente se Giovanna magoasse Alfonso depois do casamento.
E o que ela, Anahí, poderia fazer para mudar a situação? Contar para Alfonso? Jamais. Confidenciar a seu pai? Nunca. Implorar para Giovanna não funcionaria. O jeito seria rezar e esperar que a irmã cumprisse a palavra e criasse juízo de uma vez por todas.
Como não tinha controle sobre a vida das pessoas, mesmo daquelas a quem amava tanto, decidiu esquecer Giovanna e Alfonso. Os dois acabariam se entendendo. Talvez estivesse sofrendo por antecipação. Alfonso escolhera Giovanna porque a amava. Quem sabe o amor dele conseguiria fazer milagres e transformar sua irmã em uma pacata senhora casada. Certa estava sua avó que costumava dizer, quando Anahí era pequena e se preocupava demais com o que poderia acontecer: "Não procure problemas, menina. Espere sempre o melhor. Pensando assim, o melhor vai acontecer".
Não procure problemas.
Era um excelente conselho. Por que se preocupar com o que poderia acontecer se Alfonso descobrisse a traição de Giovanna? Melhor esquecer os dois e aproveitar sua noite. Sim, tomaria um copo de vinho, colocaria uma música suave e mergulharia em um banho de espuma para relaxar.
E procuraria pensar só em coisas agradáveis. Em seu trabalho, na viagem que faria em suas férias, no último filme que vira...
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Alfonso Herrera desligou o telefone e suspirou. Odiava falar por telefone e odiava particularmente teleconferências. Mas era seu trabalho. Fazer reuniões por telefone economizava tempo, mas não deixava de ser uma coisa desagradável da mesma forma. A que acabara de participar fora uma das piores. O assunto era importante demais e por isso todos os participantes estavam tensos e preocupados. Havia muitos detalhes a serem acertados entre ele, sua avó Georgina, seu futuro sogro Enrique Portilla e Helmut Braun, vice-presidente executivo de Enrique. Discutiam a iminente fusão da Portilla Oil Company com a Herrera Drilling. Uma fusão havia muito esperada, fruto de muito estudo, muito cálculo, muito suor. E agora a tensão era maior, pois estavam às vésperas da concretização do negócio, o que aconteceria uma semana após o casamento de Alfonso com Giovanna.
Muitas vezes Alfonso questionava o motivo de tanta euforia de sua avó e de seu futuro sogro, Enrique Portilla, pelo seu casamento com Giovanna. Estariam eles mais preocupados com a fusão das duas poderosas companhias e com o consequente salto dos preços das ações na bolsa de valores depois disso, do que na felicidade dele e de sua noiva?
Aquela negociação para a fusão o deprimia. Aliás, qualquer coisa relacionada com os negócios o deprimia. Porque Alfonso odiava seu trabalho. Nunca se interessara pelos negócios da família, não se importava com a exploração de petróleo ou qualquer coisa relacionada com aquele ramo.
No começo, logo depois de formado, quando trabalhava diretamente nas obras, o trabalho até parecera um pouco interessante. Talvez porque fosse obrigado a ficar fora o dia inteiro, em contato direto com os empregados. Mas depois, quando já estava "pronto" para assumir seu posto como principal executivo da empresa, havia pouco mais de dois anos, voltara para Londres e passava os dias confinado entre as quatro paredes do escritório, participando de reuniões sem fim, examinando papéis e mais papéis, tudo com a única preocupação de aumentar os lucros da empresa e diminuir os custos. Não havia coisa mais chata no mundo. Pelo menos para ele.
Mas não tivera opção. Depois da morte de seus pais, fora criado pela avó como seu herdeiro, mesmo porque era o único Herrera vivo. Mesmo que não quisesse e não gostasse, a empresa Herrera seria sua um dia. Fora educado para ser o presidente daquela empresa. Sua avó confiava nele e não podia decepcionar uma pessoa que dedicara sua vida a ele.
O destino lhe prepara àquela armadilha e não havia como se soltar. Não tinha coragem de acabar com as esperanças de uma senhora de oitenta anos. Sua avó morreria se soubesse que o neto querido não se importava nem um pouco com o patrimônio que seu avô tinha construído sozinho.
Ele não podia simplesmente dizer que iria abandonar tudo e dedicar sua vida a crianças carentes. Por mais bondosa que sua avó fosse, ela jamais aceitaria a decisão dele. Seria como uma traição. E por aquele motivo Alfonso não pudera se dedicar ao seu sonho de ajudar as crianças pobres, principalmente os meninos. Crescer sem um pai era uma experiência muito difícil, que ele sentira na própria pele. Por isso desejava tanto ajudar os outros.
Seu plano era usar parte do dinheiro que herdara dos pais e comprar um pequeno rancho, na zona rural, para onde levaria as crianças sob seus cuidados. Lá elas aprenderiam tudo sobre a natureza, o trabalho no campo; lá cresceriam livres, fazendo parte de uma família, trabalhando em equipe. Ele queria orientar as crianças para que descobrissem seu próprio valor e construíssem seu próprio sonho. Queria incentivá-las a lutar, para transformar seu sonho em realidade, sem desistir quando se deparassem com as barreiras impostas pela vida.
Mas como dizer para sua avó, para seu futuro sogro, e principalmente para sua noiva, que não tinha o menor interesse nas empresas? Que tudo que queria era correr atrás de um sonho idealista, um sonho romântico? E mesmo se tivesse coragem de desapontar a avó e o sogro, como poderia pedir a Giovanna que abandonasse o trabalho que ela amava tanto, que abandonasse o conforto de uma cidade grande para acompanhá-lo em uma vida que seria simples e cheia de sacrifícios? Não poderia ser egoísta a tal ponto. Assim, estava preso àquele trabalho tedioso. Alfonso sabia que não deveria reclamar. Ele tinha consciência de que havia milhares de pessoas no mundo que dariam tudo para trocar de lugar com ele. Mas saber disso não mudava seu modo de pensar nem de sentir.
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Substitute [ADP]
Fanfiction"Eu os declaro marido e mulher..." Anahí simplesmente não conseguiu dizer a Alfonso que sua irmã gêmea, Giovanna, o tinha abandonado à porta do altar. Então, num ato de desespero, colocou o vestido da irmã, sem ninguém perceber. Partiu para uma lua...