Capítulo 33

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O que Alfonso diria quando ouvisse a verdade? Se tivesse coragem de falar olhando para os olhos dele, poderia testemunhar primeiro o espanto, depois a incredulidade e por último, o desprezo. E raiva também. Mas era o desprezo que mais temia. A raiva passaria logo, mas o desprezo... Como Alfonso era um homem calmo, certamente ele a levaria até a porta e se despediria educadamente, sem escândalos ou cobranças, e fecharia a porta atrás dela para sempre.

Anahí imaginou-se saindo da vida dele, sem perdão. Será que poderia ser mais infeliz do que já estava sendo? Ela não pretendia chorar no momento em que conversasse com ele, mas já sentia as lágrimas ardendo em seus olhos.

Quando começara toda aquela história, Anahí imaginara que ia ser difícil separar-se depois de Alfonso. Mas nem por um momento imaginou que teria aquele grau de dificuldade, querendo chorar dias antes, por antecipação. Havia dois dias que lutava insanamente contra aquele sentimento destruidor. Não suportava mais a amargura da perda. Por mais que procurasse se consolar dizendo que tinha valido a pena, que não trocaria aquela semana por nada no mundo, mesmo assim não sabia se teria estrutura emocional para aguentar a separação. Repetia sem cessar que a alegria experimentada ao lado de Alfonso era insubstituível e muito maior do que a dor, solidão ou miséria a ser enfrentada abandonada no mundo.

"É melhor amar e perder do que nunca ter amado". Um poeta dissera aquelas palavras. Será que traduziam a verdade? Anahí gostaria de acreditar que sim, mas ia ser muito difícil.

A profundeza de sua dor era maior do que imaginara em princípio porque antes de experimentar o que era realmente estar com Alfonso, não entendia bem o quanto ele significava para ela.

No entanto, os fatos eram outros. Se o amava antes, a partir daquela semana ele se tornara tão essencial para sua vida quanto o ar que respirava.

Ele era parte dela.

Sem a presença dele seria como amputar-lhe algum membro. Nunca mais poderia encarar a vida de cabeça erguida, seu coração estaria irremediavelmente partido e a alma entregue ao desvario. E como alguém poderia viver aos prantos, sem condições de fazer o coração bater novamente?

Por favor, meu Deus, faça com que eu esteja grávida. Permita, Senhor, que eu tenha uma parte de Alfonso para guardar comigo e amar.

Alucinada, repetiu para si diversas vezes aquela mesma prece, sem saber ao certo quais consequências aquele apelo representava. Só tinha uma certeza: Queria para sempre um pedaço de Alfonso.

E exausta por esse turbilhão emocional, Anahí fechou os olhos e adormeceu, num sono leve.

Alfonso alegrou-se ao ver Giovanna repousar. Notara em suas expressões a exaustão. O corpo dela por vezes tremia levemente e sabia que não havia nada de positivo naquela reação. Era um tremor de medo. Alfonso não conseguia entender por que aquelas ideias povoavam sua mente, mas sua intuição era muito forte. Mesmo porque, na noite anterior Giovanna estava um pouco apreensiva, agitando-se na cama como nunca acontecera, o que fez sua aparência na manhã seguinte denunciar um cansaço inexplicável.

O que estava acontecendo com Giovanna? Por que estava tão relutante em voltar para casa?

Ele sempre imaginara que as recém-casadas não viam a hora de assumir sua nova casa. Mas isso não estava acontecendo com Giovanna. Seria a fuga de Anahí a causa de tamanha preocupação, uma vez que eram inseparáveis? Alfonso não acreditava com convicção naquela hipótese.

Mas então, o que seria? Ele não fazia a menor ideia. Em sua mente martelavam as últimas palavras de Giovanna quanto à bondade a ela dispensada e que não merecia aquela felicidade porque ela não era a pessoa ideal para ele. Quais segredos ela guardava em seu coração, e que escondia, a ponto de sofrer calada amargamente? Para Alfonso as duas irmãs não chegavam a ser completamente opostas, mas também não constituíam nenhuma grande interrogação, porém parecia estar enganado. Não esperava ter aquelas dúvidas pairando entre eles. Bem, só podia ser alucinação de sua mente, concluiu, por fim.

Não, Alfonso, você não as conhece bem. Lembre-se de tudo que descobriu em Giovanna durante esta semana, coisas que você jamais viu antes.

Alfonso sabia que a convivência acabaria por revelar facetas escondidas da personalidade de uma pessoa, mas não era isso que o intrigava. Ele era esclarecido o suficiente para saber que ninguém era um livro aberto. A começar por ele próprio. Sua avó, por exemplo, achava que conhecia tudo sobre ele e sua personalidade, mas não era verdade. Ela não sabia dos seus sonhos secretos, não sabia o quanto ele odiava trabalhar na empresa da família. Enfim, todo mundo escondia alguma coisa. Mas o que Giovanna estaria escondendo? Tudo o que sabia era que se tratava de alguma coisa relacionada ao retorno para Londres. Ela começara a agir de um modo estranho dois dias antes de voltarem. Muito diferente da pessoa que chegara em sua companhia a Colombé. Naqueles primeiros dias ela estava descontraída, alegre, mostrando tanta felicidade, a ponto de comovê-lo. E então, quando começaram a falar do retorno, ela se transformou numa pessoa mais reservada, relutante, cuja tristeza aparecia até mesmo no sorriso, mais raro e menos espontâneo que antes.

E agora estava tão tensa quanto ficara nas semanas que antecederam ao casamento.

Se pelo menos ele pudesse saber o motivo... Talvez fosse necessário mostrar-lhe que poderia confiar piamente nele. Mas como ela não sabia daquilo ainda?

Alfonso tentava vislumbrar a chegada em Londres. Intimamente, gostaria que Giovanna não voltasse a exibir aquele comportamento ansioso e agressivo de sempre, mas sim, a nova Giovanna que descobrira em Colombé, muito mais dócil e reservada. Suas maneiras um tanto comedidas chegaram a surpreendê-lo, pois não estava habituado a elas. E aquilo o agradava sobremaneira.

Aquela era a mulher que gostaria de preservar para a vida inteira e não podia pensar na ideia de perdê-la, por nada no mundo.

Para desespero de Anahí, o vôo de conexão, de Miami para Londres, cuja espera prevista era de quarenta e cinco minutos, transformou-se em quatro horas, devido às péssimas condições do tempo. Quando finalmente chegaram à casa de Alfonso já passava da meia-noite.

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