Capítulo 4

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Com um suspiro resignado, ele levantou-se. Os músculos estavam doloridos pela falta de exercícios. Do alto do seu edifício, observou o céu claro do mês de junho, e lá em baixo o engarrafamento do trânsito nas avenidas principais que teria que enfrentar para voltar para casa. Chegara ao final de mais uma jornada de trabalho. Estava cansado e deprimido. Desligando o computador, pegou a pasta e saiu do escritório.

Iria ver Giovanna. Depois de um dia terrível, precisava de uns momentos com sua noiva para restaurar suas forças. Não se encontrava com ela havia uma semana e estava com saudade.

Tudo que queria era estar ao seu lado, pedir uma pizza ou uma comida chinesa e sentar na varanda da casa que comprara para os dois e relaxar. Mas conhecendo Giovanna como conhecia, sabia que ela escolheria jantar fora. Ela adorava estar com outras pessoas, no meio do barulho e de atividades intensas.

Mesmo seguro de seus sentimentos, Alfonso andava preocupado naqueles últimos dias. Giovanna estava diferente. Inquieta demais, cheia de uma energia nervosa, de uma ansiedade que o perturbava.

Algumas vezes chegara a se perguntar se poderia fazer Giovanna feliz. Não era hora para pensar assim, não às vésperas do casamento, mas esses sentimentos pareciam mais frequentes ultimamente.

O que estaria acontecendo com ele? Haveria algo errado no relacionamento que ele não notara?

Deveria ser a ansiedade, a expectativa de todos os noivos, ele concluiu. Precisava ser paciente. Depois de casados com certeza Giovanna se acalmaria e ele não teria mais aqueles pensamentos negativos para atormentá-lo. O desconforto dos dois também poderia ser pela frustração sexual. Ele sabia o que essa frustração provocava nas pessoas.

Alfonso chegou ao estacionamento e abriu a porta de sua Mercedes, ainda imerso em seus pensamentos. Sorriu ao se lembrar de como se sentira quando colocara os olhos em Giovanna depois de um longo tempo sem vê-la. Sentira a mesma fascinação que ela exercera sobre ele quando eram crianças. Só que agora essa fascinação transformara-se em uma emoção nova, adulta, uma combinação de amor e desejo. Um desejo forte, do qual não conseguiu mais se livrar. Mas Giovanna resistira a ele, mantendo-o afastado, quase o levando à loucura.

Começaram a sair juntos, mas quando ele a pediu em namoro, ela não quis se comprometer. Alfonso continuou insistindo e ela continuou negando. Até que um dia, quando ele já estava perdendo as esperanças, Giovanna aceitou seu pedido de casamento. Ficaram noivos, mas ela não permitiu que fizessem amor. Justificava sua atitude dizendo que queria esperar até que estivessem casados. Que isso daria à união deles um significado maior. Que faria da lua-de-mel um acontecimento inesquecível.

Como argumentar contra aquele pensamento?

Alfonso ficou dividido entre o sacrifício da espera e a felicidade ao descobrir que Giovanna, embora sofisticada e moderna por fora, era do tipo conservador por dentro. Ela estava se guardando para ele e nada poderia deixá-lo mais feliz. Foi só por isso que concordou em esperar.

Mas naquele momento ele se perguntava se fora uma atitude inteligente ter concordado com ela. Parecia mais uma estupidez de sua parte. Qual noivo concordaria com um absurdo daquele? Se já fossem amantes, Giovanna estaria mais satisfeita, mais contente, mais realizada. Talvez...

Mas de que adiantava pensar em tudo aquilo? Nada alteraria o passado. Melhor contar os dias que faltavam para que ela fosse sua. Dez dias! Em dez dias Giovanna seria sua esposa e então não haveria mais espera... Para nada.

Anahí estava deitada na banheira, com espumas até o queixo, ouvindo uma valsa de Chopin interpretada por Van Cliburn. Ela pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo. Seu pensamento ia e vinha, sem comprometimento. A água morna era um excelente remédio para relaxar.

Levantando a mão esquerda, ela deixou a luz refletir no anel de diamantes em seu dedo. Fora incapaz de resistir à tentação de ficar com ele um pouco mais. Que mal havia em fingir, mesmo por um curto período de tempo, que era ela quem estava noiva de Alfonso?

Fechou os olhos, sonhadora e deixou a fantasia tomar conta de sua mente. Imaginou-se com o lindo vestido de rendas que estava dependurado no guarda-roupa de Giovanna. Imaginou o silêncio cheio de expectativa dos minutos que antecediam às primeiras notas do órgão. Viu-se entrando devagar na igreja de St. John pelos braços de seu pai. Sentiu o cheiro das rosas inundando o ar. Viu Alfonso esperando no altar... Seus olhares se encontrando... O sorriso dele...

Nesse momento a campainha da porta soou, interrompendo seu devaneio.

Anahí: Mas que hora mais imprópria!

Sua primeira reação foi ignorar o toque na porta. Não estava esperando visitas.

Quem quer que fosse, que voltasse outra hora.

Mas a campainha voltou a insistir.

Sem outra alternativa, saiu da banheira, enrolou os cabelos em uma toalha, protegeu o corpo molhado com o robe e correu para a porta da casa que dividia com sua irmã.

Quando olhou pelo olho mágico, seu coração deu um salto no peito. Alfonso! Com as mãos trêmulas, destrancou a porta. Foi cumprimentada com um sorriso.

Alfonso: Olá.

Anahí: Olá.

Seu coração estava disparado, suas pernas tremendo. Era sempre assim toda vez que via Alfonso. Como proteção, prendeu mais o robe contra o corpo.

Anahí: Entre. –pediu e ele a seguiu até a sala- Eu... Estava no banho. Foi por isso que demorei para atender à porta.

Nervosa, ajustou mais o cinto do robe. Seu corpo nu estava todo alerta à presença daquele homem.

Quando virou-se para dizer que Giovanna não estava em casa, ele a alcançou e a prendeu em seus braços.

Alfonso: Estamos sozinhos? -ele perguntou, sorrindo e olhando-a nos olhos-

Anahí: Sim, mas...

Alfonso: Ótimo.

E antes que pudesse terminar a frase, ele abaixou a cabeça e a beijou.

Substitute [ADP]Onde histórias criam vida. Descubra agora