Capítulo 39

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Na quinta-feira de manhã, três dias depois do ocorrido com a avó de Alfonso, Georgina foi declarada fora de perigo pelo Dr. Burnside.

Dr. Burnside : O estado dela ainda é delicado, mas estou bastante otimista. Sua avó é uma batalhadora, Alfonso. Ela tem muita fé e vontade de viver. E isso ajuda muito.

Alfonso: Quanto tempo mais ela vai ficar na UTI? -perguntou. Deixar a UTI era o verdadeiro teste para ser considerada fora do perigo-

Dr. Burnside: Hoje mesmo ela será removida para um quarto.

Anahí e Alfonso sorriram um para o outro.

Alfonso: Acho que isso merece uma comemoração. -falou assim que o médico se foi-

Anahí concordou. De comum acordo foram almoçar no restaurante mexicano preferido deles.

Alfonso: Não sei o que teria feito sem você nesses dias. -falou, assim que a garçonete anotou os pedidos e deixou sobre a mesa uma cesta de pães com patês e molhos-

A expressão nos olhos verdes, tão cheia de amor, partiu o coração de Anahí.

Alfonso: Continuo pensando, que mesmo se o pior tivesse acontecido, eu não estaria sozinho. Eu teria você.

Oh, Alfonso... Oh, meu Deus! Até quando vou enganá-lo deste jeito?

Anahí: Estou... Feliz por poder ajudar.

O sorriso dele quase trouxe lágrimas aos olhos de Anahí.

Alfonso: Estou tão preocupado com vovó que nem tenho dito o quanto te amo. Te amo muito, Sra. Herrera.

Anahí não conseguia falar. Como fazer as palavras passar sobre o nó que se formara em sua garganta com a ternura contida nas palavras dele? Sem olhar diretamente para ele, Anahí murmurou qualquer coisa sobre precisar ir à toalete e saiu rápido da mesa. Deus, até quando ia aguentar? Ele devia estar pensando que ela saíra da mesa por estar embaraçada com a declaração dele. Antes fosse essa a verdade. O que a fizera sair fora a covardia que sentira por não ter tido coragem de revelar sua verdade antes, fora a desilusão consigo mesma por estar traindo uma pessoa que não merecia sofrer. Aliás, ninguém merecia aquele tipo de traição, muito menos Alfonso.

Só uma pessoa sem sentimentos agiria como ela fez ao "agarrar sua chance" de felicidade. Apenas alguém muito egoísta não levaria em consideração os sentimentos do homem amado, e era assim que se sentia, naquele exato momento. Não havia mais porque remoer-se de remorso, a única coisa sensata a fazer seria acabar com a farsa o mais rápido possível. Ao tomar a decisão de postergar a verdade pensara somente em seu sofrimento de vê-lo afastado, mas em nenhum momento refletiu que não seria a única pessoa a sofrer em razão de suas atitudes. Em seu afã de proteger Alfonso da humilhação que a fuga de Giovanna representaria, ela, Anahí, tinha feito algo muito pior.

Lavou o rosto e retocou a maquiagem, mas não conseguiu diminuir a dor que tomava conta de seu coração. Voltou à mesa tentando sorrir, mas não conseguiu parar de pensar nas palavras de Alfonso sobre tê-la ao lado dele se o pior tivesse acontecido com Georgina. Mesmo que vivesse cem anos, jamais se perdoaria pela dor que iria causar a ele muito em breve. Seria uma grande decepção na vida dele.

Quando voltaram ao hospital, Georgina já estava instalada no quarto. Aos poucos seu rosto ficava corado, voltando ao seu estado normal. Cansada, ficou recostada na cabeceira da cama, vestindo um lindo robe cor-de-rosa.

Alfonso: Vovó, a senhora parece bem melhor. -exclamou feliz, tendo um brilho alegre em seus olhos-

Georgina: Virginia trouxe algumas de minhas roupas. Mas eu gostaria de poder pentear meu cabelo, sinto-me com a aparência um pouco relaxada. Sei que vou receber muitas visitas e não queria que me vissem assim. Você sabe muito bem como sou vaidosa, não sabe, Alfonso?

Georgina estava certa quanto às visitas, pois já havia bastante flores em seu novo quarto.

Anahí: A senhora quer que tente ajeitar seu cabelo? -se ofereceu. Os olhos da senhora brilharam-

Georgina: Sim, por favor. Você faz isso por mim, minha querida? Se puder me maquiar um pouco também, vou ficar muito contente.

Alfonso: É, vovó, estou vendo que a senhora melhorou bastante. Graças a Deus. -constatou, rindo- Antes a senhora nem estava ligando para a aparência. Bom sinal. Estou muito feliz. E vou aproveitar para deixar as duas sozinhas. Não quero atrapalhar essa seção de beleza. Você me chama quando tiver terminado, meu bem?

Anahí: Claro, Alfonso. Pode ir tranquilo.

Anahí, com todo carinho e cuidado, caprichou para deixar Georgina com um aspecto melhor. Penteou e prendeu os cabelos brancos, passou um pouco de base para dar um colorido ao rosto pálido. Estava um pouco nervosa porque sentia os olhos de Georgina observando cada gesto seu, com aquele olhar tão parecido com o de Alfonso.

Georgina: Acho que não preciso perguntar se você está feliz. -comentou a certo momento- Posso ver em seus olhos seu amor por Alfonso toda vez que olha para ele.

Anahí precisou respirar fundo e se recompor antes de encontrar o olhar penetrante de sua velha amiga.

Anahí: Sim, dona Georgina, estou muito feliz. -ela admitiu com suavidade- Alfonso é um homem maravilhoso.

Georgina assentiu.

Georgina: Ele é mesmo maravilhoso, um menino de ouro. E não estou dizendo isso somente porque é meu neto, mas simplesmente porque é a mais pura verdade, é um ótimo garoto.

Anahí sorriu também.

Anahí: Não me surpreenderia se fosse por orgulho de ele ser seu neto que o elogia tanto assim. Você é a avó mais coruja que conheço.

Georgina: Sei que sou coruja, mas também sei reconhecer as pessoas.

Enquanto se olhava no espelho que Anahí segurava a sua frente, ela perguntou:

Georgina: Por falar nisso, você falou com... Anahí depois que voltou?

Será que Georgina tinha hesitado propositadamente antes de falar o nome de "Anahí"? Será que ela sabia? Ou que desconfiava? Ou era o sentimento de culpa de Anahí que a estava fazendo ver e ouvir demais? Talvez ela tivesse sido capaz de ver a verdade, o que Alfonso não vira por estar cego de amor.

Anahí: Sim, falei duas vezes com ela. Ela está preocupada com sua saúde e ligou ontem só para saber da senhora.

Georgina: E como ela está?

Anahí: Ela está bem. Casaram-se na semana passada e ela parece estar muito apaixonada.

Georgina assentiu pensativamente.

Anahí desviou os olhos. A avó de Alfonso era muito astuta e havia alguma coisa naquele olhar especulativo que perturbava Anahí. Com certeza ela suspeitava de alguma coisa. Mas como poderia? Nem seu pai, nem Alfonso tinham percebido a troca até aquele momento. Além do mais, Georgina estava enfraquecida pela doença. Talvez Anahí estivesse vendo coisas onde não havia nada, graças a sua consciência pesada.

Georgina: E seu pai? Ele também falou com ela?

Anahí: Não, não falou ainda.

Georgina: Ele ainda está zangado?

Anahí: Acho que sim. -Georgina riu-

Georgina: Eu daria tudo para ouvir a conversa dos dois. Aposto que vai sair fogo e os fios do telefone se queimarão daqui até o México.

Anahí assentiu, mas evitou fazer maiores comentários. Não queria nem pensar na conversa. Quando isso acontecesse, sua farsa seria revelada, ela seria desmascarada e seu mundo acabaria. Seria o fim de sua felicidade. As esperanças por uma vida realizada estavam por um fio. A partir dessa conversa, estaria condenada a viver o resto de sua vida sozinha, lamentando por seu amor perdido.

E aquela conversa iria acontecer muito em breve. Agora que a avó de Alfonso estava melhor, Anahí não podia mais evitar o irremediável.

Chegara a hora de Alfonso saber a verdade.

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