Capítulo 51

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Quando Anahí entrou no carro, a chave tremia em sua mão. E quando finalmente conseguiu ligar o carro, deu ré e saiu, quase batendo num carro estacionado na calçada em frente. Manobrou rapidamente e acelerou rua abaixo.

Anahí chorou durante o trajeto até sua casa. E assim permaneceu enquanto arrumava os pertences de Giovanna. Sem saber de onde encontrara forças, reuniu peças de seu guarda-roupa e mais o material de pintura e dirigiu-se ao carro. Sempre num estado deplorável, com o coração em prantos, jogou displicentemente os objetos no banco traseiro e deu a partida rumo a uma cidade bem distante, de onde ninguém teria notícias suas, muito menos Alfonso - como se ainda fosse possível ele querer saber qualquer coisa sobre ela - . Em poucos minutos nada seria como antes. Deixaria para trás o mundo de sonhos que vivera em apenas uma semana. A vida não lhe fora tão cruel, pelo menos, ao proporcionar-lhe aqueles momentos de completa paixão. Dentro em pouco, nada mais saberia sobre Alfonso, apenas que ele a odiava, como a ninguém no mundo. Bem, era o preço que estava pagando por sua leviandade. Mas precisaria mesmo pagar tão caro apenas porque ansiava por um pouco de carinho, compreensão e amor do homem que amava com todas as suas forças?

Será que um dia conseguiria parar de chorar?

Anahí chegou na cabana de seu pai, a alguns quilômetros de Londres, um pouco depois das dez e meia da noite. Retirou suas coisas do carro e as colocou sobre um dos sofás da sala. Estava tão cansada que não tinha forças nem para trocar de roupa. Sentou-se e fechou os olhos, tentando relaxar e dormir um pouco. O sono seria um bálsamo para seu estado de espírito. Dormir seria desligar-se do mundo e dos problemas. Tentaria esquecer Alfonso, todas as palavras que ele despejou contra ela e todos os sentimentos negativos que ele pudesse estar sentindo.

Mas o sono não veio.

Finalmente, por volta das duas horas da manhã, levantou-se e fez um chá. Com a xícara na mão, saiu para a varanda e sentou-se no degrau iluminado pelo luar. Bebeu o líquido ouvindo os sons noturnos dos bichos que ocupavam as árvores à volta.

Na solidão daquela noite campestre, Anahí permitiu-se repensar nos fatos, desde o momento em que colocara o vestido de casamento de Giovanna até a hora em que bateu a porta da casa de Alfonso em Londres. Pensou no espanto de seu pai que sempre a acusara de não ter coragem, de ser uma covarde. Pensou em Alfonso, uma pessoa tão decente e amável, transtornado com tanta raiva e decepção. O olhar de raiva e a voz grossa e firme sem nenhuma gota de amor e carinho que Alfonso soltou contra ela, junto com a expressão de ódio em seu rosto, ela nunca conseguiria esquecer.

O amor que sentia por ele não fora o suficiente para ele perdoá-la. Quem sabe seu pai tinha razão em preteri-la, pois não sabia escolher os momentos certos para agir, não conseguia enxergar um palmo à frente do nariz e sempre tomava as decisões erradas. Era mesmo uma inútil.

-

Longe dali, Alfonso se sentia desolado com tudo que tinha acontecido. Após ouvir a porta sendo fechada com a saída de Anahí, ele sentiu seu peito doer, em protesto. As lágrimas caíram descompensadas por seu rosto, e o peito arfava. A raiva e a decepção haviam lhe cegado, fazendo com que ele acusasse sem parar a mulher na qual passou os momentos mais felizes de sua vida. Fizeram com que ele não deixasse com que ela tivesse ao menos o direito de defesa, de se explicar, nada.

E agora, terminando uma garrafa de uísque, ele se questionava com perguntas que era incapaz de responder. Perguntas que só podiam ser respondidas por Anahí, e que se manteriam sem respostas, deixando-o com suas suposições.

Desde sempre Anahí se mostrou uma mulher tímida, gentil, correta... E agora, tinha se tornado a pior de todas. Em uma brincadeira com a irmã, o fizeram de brinquedo, de bobo, sem se importar com o que ele sentiria depois de tudo.

Substitute [ADP]Onde histórias criam vida. Descubra agora