Capítulo 23

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Como Anahí poderia pensar naquele absurdo, envolta em um turbilhão de emoções? Não poderia estar louca a ponto de querer comprometer um pequeno ser, indefeso, com suas fantasias inconsequentes. De onde tirara aquela ideia de engravidar?

É o seu inconsciente, Anahí. Você não ama Alfonso? Então, nada mais natural do que querer um filho dele. Mesmo sem o consentimento do pai. Vai ser como um pedaço dele que você terá para cuidar e amar pelo resto de sua vida. Não poderia esperar por uma dádiva maior do que essa.

Se pelo menos ficasse grávida poderia ter para sempre Alfonso a seu lado, personificado em um filho.

Aconchegada no peito de Alfonso, Anahí sentiu o rosto queimar e o coração acelerar com a ideia. Um filho seu e de Alfonso!

A ideia era boa demais. Pena não ter com quem dividi-la. Se sua mãe ainda estivesse viva, se Giovanna não estivesse tão longe, poderia arriscar a confessar esse desejo maluco. Mas o que mais gostaria, mesmo sabendo que lhe seria negado, era dividir essa alegria com Alfonso.

Se engravidasse, o que aconteceria com ela? Talvez não pudesse jamais contar a Alfonso. Não queria que ele se sentisse obrigado a cuidar do filho, uma vez que a decisão fora tomada por ela sozinha. E também porque sabia que ele a desprezaria quando soubesse de tudo.

Bem, o que teria a fazer era mudar-se para bem longe. Por sorte, seu trabalho poderia ser feito em qualquer lugar. Suas credenciais lhe abririam portas para lecionar em qualquer escola. E mesmo se não conseguisse trabalho, ela e seu bebê nunca passariam fome. Se seu pai a deserdasse como ameaçara, ainda lhe restaria a herança que recebera com a morte de sua mãe. Não era muito, mas o suficiente para comprar uma pequena casa.

Para sobreviver venderia seu carro e seus móveis. E desde que Giovanna estava morando no México, poderiam vender a casa que compraram em sociedade e com sua parte do dinheiro Anahí faria uma poupança para garantir seu futuro e o de seu filho.

E ainda lhe restava a possibilidade de vender seus quadros. Por que não tentar?

Não teria nada a perder.

Como não era gananciosa, poderia ter uma vida modesta e tranquila com seu querido bebê.

Anahí adormeceu sonhando com aquela possibilidade.

Giovanna era tão diferente do que imaginara, Alfonso pensava enquanto a observava dormir. Mais doce, suave, tímida até. E para sua surpresa, gostava muito mais daquela nova Giovanna, mais vulnerável e meiga.

Ela dormia com um leve sorriso no rosto. Parecia uma adolescente, despreocupada e calma. Todos os traços que denunciavam apreensão e inquietude, e que marcaram aquele rosto durante os últimos meses, tinham desaparecido.

Ele roçou os lábios na testa delicada, inalando a fragrância da pele sedosa, deleitando-se com a ideia de que aquela mulher linda, adorável e sexy o escolhera para marido entre tantos outros homens.

Giovanna era sua esposa. Eram marido e mulher. Poderia haver felicidade maior do que aquela?

Uma onda de amor e orgulho tomou conta de seu ser. Estava casado com uma mulher linda e perfeita. E o entrosamento dos dois na cama fora mais que perfeito. Alfonso sorriu ao lembrar como ela estava envergonhada em princípio. Mas depois, quando começou a acariciá-la, a vergonha e a timidez desapareceram por completo. E outra Giovanna, sem pudores ou preconceitos, revelou-se em seus braços. Ela foi muito além do que ele tinha sonhado. A paixão que ditava as respostas dela possuía a mesma intensidade que a dele. Ela entregou-se sem reservas, mostrando o quanto o amava.

Alfonso passeou o olhar pelos seios mal cobertos, passando pela curva dos quadris, pelas pernas bem torneadas, envolvidas pela delicadeza dos lençóis de cetim. Os pés bem-cuidados, pequenos e delicados demonstravam uma vaidade nada exagerada. Olhar para aqueles pés enroscados um no outro foi o suficiente para que uma nova onda de desejos o assaltasse. Jamais se cansaria de desejá-la. Mal podia conter a alegria ao pensar que aquele tesouro era dele, para o resto da vida.

Uma mecha de cabelo caíra sobre o rosto sereno. Com um gesto cheio de carinho ele colocou os fios rebeldes atrás da orelha dela.

Anahí suspirou e se mexeu. Alfonso aproveitou o movimento e tirou o braço que a sustentava. Com cuidado para não despertá-la, levantou-se, colocou a calça do pijama e foi até a geladeira, onde se serviu de mais uma dose de brandy. Com o copo na mão, sentou-se numa poltrona que dava para a varanda e apoiou os pés no canto da cama. Enquanto bebericava seu drinque e ouvia o barulho das ondas do mar, observava sua esposa dormir.

Se Giovanna soubesse o quanto significava para ele! Se ela pudesse ler seu coração e ver que ele transbordava de amor por ela! Um dia seriam exatamente como o casal de idosos do avião. Felizes depois de cinquenta anos de casados.

Alfonso sorriu ao lembrar-se de sua volta para Londres, um ano e meio atrás, depois de sua estada na Arábia Saudita. Era meados de novembro e ele estava hospedado na casa da avó enquanto procurava um apartamento. Num determinado dia, uma semana depois de sua volta, ela o avisou de que tinha convidado os Portillas para jantar naquela noite.

Georgina: Você não tem compromisso para esta noite, tem? -Alfonso sorrira-

Alfonso: Mesmo se tivesse eu o cancelaria. Estou ansioso para revê-los.

Georgina: Só virão Giovanna e Enrique.

Alfonso: O que aconteceu com Anahí?

Georgina: Ora, você não sabe? Anahí tirou licença na escola e está fazendo um curso de pintura na França, com Gaulier.

Alfonso: Não, eu não sabia. Que ótimo para ela. -comentou, um pouco desapontado. Mas todo seu desapontamento desapareceu no momento em que Giovanna e o pai chegaram. Era como se os anos de separação entre ele e Giovanna não tivessem existido. Sua atração voltou com força total. O mesmo fascínio que ela sempre exercera sobre ele estava de volta, mais forte, porém carregado por um apelo sexual que não existia antes-

E pelos próximos meses ele se dedicou a persegui-la. Alfonso perdeu a conta do número de vezes em que a pediu em namoro e ela negou. Mas ele foi persistente. Acabou vencendo pelo cansaço.

No dia em que ela aceitou um convite para ir ao cinema, ele a levou para jantar em seguida. Foi uma noite ótima. Completa. Conversaram sobre tudo e sobre todos. Riram muito. Ela o fascinava com sua energia e sua paixão pela vida. Era tudo o que ele precisava. Alguém que lhe mostrasse o lado colorido da vida, alguém que o arrastasse para longe de sua rotina de trabalho.

E foi assim que tudo começou. Daquele dia em diante ele fora implacável. Não a deixava sozinha por muito tempo, para não correr o risco de ser esquecido. Não fora fácil. Giovanna nunca cedia sem muita luta. Mas a paciência e a persistência dele, combinadas com um pouco da ajuda de Enrique Portilla, acabaram por vencer a resistência dela. Assim, no mês de outubro, do ano seguinte ela usava uma aliança de noivado que Alfonso colocara em seu dedo e o casamento estava marcado. Alfonso não queria esperar tanto, mas Giovanna fora implacável.

Giovanna: Não há pressa, Alfonso. São só oito meses e meio. E quero planejar muito bem o nosso casamento. Maio é ideal.

Ele concordara. Mas a espera não fora nada fácil.

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