[3] ISADORA

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Me arrumei devagar, irritando meu pai, que toda hora aparecia na porta do meu quarto para me apressar. Eu só estava tentando adiar aquele momento, será que ele não entendia? Pelo visto, não. Nem ele, nem o Gui, que revezou com ele, me apressando também. Descemos e eu entrei no carro resmungando. Eu podia notar que o meu pai estava um pouco incomodado com minha atitude, mas ele não falou nada até chegarmos na porta do prédio deles.

- Isadora, - Olhei para ele meio a contragosto, porque ele nunca falava meu nome assim e eu sabia que não ia querer ouvir o que ele tinha para dizer. – por favor, se comporte. Eu não sei qual é o seu problema aqui. Você gosta da Cíntia, você me apoiou nisso. Então eu não entendo porque fica assim sempre que a gente vem aqui.

- O problema não é a Cíntia. – Eu me apressei em dizer. – Você sabe que eu gosto dela.

- Então eu não entendo. – Ele balançou a cabeça em negação enquanto apertava o botão do interfone.

- O problema é o Rafa, pai. – Gui falou e eu puxei um cachinho dele, de leve. O cabelo dele era bem parecido com o meu, a cor e os cachos eram idênticos, mas é claro que o dele era curto, fazendo ele parecer um anjinho. Ele reclamou, mas eu sabia que não tinha machucado.

- O Rafael é um excelente rapaz, trate-o com educação. – Meu pai foi ríspido e eu preferi não responder nada. Não ia brigar com ele ali, na hora de entrar na casa dos outros.

Subimos o elevador e ao chegar, Cíntia já estava nos esperando com a porta aberta e um sorriso no rosto.

- Isa!!! – Ela disse ao me cumprimentar. – Que bom que você veio hoje.

- Sim. – Eu sorri ao ver meu pai me encarando de cara feia. Ela não viu porque ele já havia entrado no apartamento e estava atrás dela.

Ela nos levou até a sala e eu fiquei contente em constatar que Rafael não estava por ali. Cíntia sumiu por alguns minutos no corredor e em seguida voltou, sentando perto do meu pai no sofá. Eles ficaram conversando um pouco, enquanto eu observava ao meu redor e notava que meu irmão estava um pouco agitado, querendo falar e se mexer, porque até então ele estava comportado no sofá.

- O Rafa não está em casa? – Gui finalmente falou e eu tinha certeza que ele estava se coçando para perguntar aquilo há minutos, por isso estava agitado. Ele não queria interromper a conversa deles, mas não conseguiu se conter. Eu revirei os olhos discretamente, esperando ansiosa a resposta de Cíntia, rezando pra ser uma negativa.

- Estou aqui.

Porém o que eu ouvi foi diferente. Ele mesmo respondeu, aparecendo no corredor, com uma bermuda xadrez azul e branca e uma camisa pólo branca, que fazia contraste com o bronzeado da sua pele. O cabelo castanho bem escuro e bagunçado, caindo na testa, ele estava lindo e eu fiquei com mais raiva ainda dele. Ele não tinha direito de ser bonito, sendo tão horrível como ele era. Peguei meu celular para não ter que olhar para ele. Gui saiu do sofá para cumprimenta-lo e eu reparei pelo canto do olho que eles tinham um aperto de mão todo mirabolante, o que significava que passavam bastante tempo juntos quando eu não estava por perto e isso me fez ficar com muito ciúme do meu irmãozinho.

- Boa noite. – Ele falou, apertando a mão do meu pai e olhando para mim. Eu sabia que se não respondesse meu pai iria me matar quando a gente saísse dali, então eu olhei para ele rapidamente dando um sorriso muito falso e falei boa noite também, voltando minha atenção para o celular. Aquela noite seria longa.

Isa: Não acredito que aceitei vir para a casa da Cíntia hoje.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora