Passamos o dia todo andando novamente. E embora tivéssemos programado ir na London Eye, a roda gigante que meu irmão falava o tempo todo, mudamos os planos por causa da chuva e acabamos passando o dia nos museus. Havíamos chegado no dia anterior, mas já conhecíamos a fama do clima londrino e não dava mesmo para fazer planos contando com tempo bom. Estava muito frio e a chuva trouxe o vento, fazendo tudo piorar. Impossível ficar na rua, por isso escolhemos visitar o Museu de História Natural, sabendo que seria um programa legal especialmente para o meu irmão, que adorava dinossauros. Visitamos também o Museu Victoria & Albert que era do lado, e passeamos um pouco pela Harrods, famosa loja de departamentos. Honestamente? Para a gente foi meio perda de tempo. Muito linda, claro, mas ninguém ali tinha dinheiro para gastar numa galeria tão chique quanto aquela, mas mesmo assim, era um lugar sensacional. De qualquer forma, não podíamos nos afastar muito, porque precisávamos voltar para o apartamento cedo, para nos arrumarmos para ir ao teatro. Eu queria ver Os Miseráveis, e sabia que meu pai também gostaria de ver esse espetáculo. Embora eu quisesse ter ido ver alguns meses antes quando a Carrie Hope Fletcher ainda interpretava a Eponine, nossa, ela era incrível. Mas como meu irmão ia ficar entediado e não ia entender nada, a Cíntia tinha sugerido que víssemos O Rei Leão e foi demais!!!! Nosso terceiro dia foi recheado de novos lugares, como a Tower Bridge, a catedral de St. Paul e mesmo a chuvinha fina não nos impediu de passear bastante e finalmente ir na roda gigante. Gui ficou em êxtase quando estávamos lá em cima, mas eu também não fiquei atrás. A vista era incrível, mesmo o céu estando meio cinzento, o que na verdade só deixava tudo mais... londrino. Tivemos alguns minutos de paz ali em cima, sem que Rafael e eu implicássemos um com o outro. A verdade é que desde o dia anterior estávamos mais irritantes do que nunca. Finalmente tinha ficado exposto para o meu pai e para Cíntia que a gente não se suportava e não conseguia ficar sem reclamar um com o outro e os dois estavam ficando impacientes conosco. O Gui tentava puxar assunto para que interagíssemos, mas acabava piorando, porque havia sempre um tom de sarcasmo nas respostas que trocávamos. Ele estava ficando insuportável e eu, estava retribuindo. Mas ali em cima, meio que esquecemos da presença um do outro e como se meu pai e a Cíntia nem tivessem vindo juntos, nos dividimos naturalmente, e tivemos um momento maravilhoso, só nós três. Meu pai, meu irmão e eu. Algo que nunca havíamos feito, viajar juntos, aproveitar momentos assim. Claro que a gente saía, ia ao cinema, passeava, mas nunca havíamos curtido tanto tempo assim. Voltamos para o apartamento tarde e ainda não tínhamos comido nada, mas eu não estava com vontade de comer um sanduíche, então sugeri que comprássemos uma pizza, já que havia uma pizzaria na esquina da nossa rua. O Rafael saiu para comprar as pizzas para a gente e é claro que voltou exatamente com o único sabor que eu não comia, bacon. Eu odiava bacon. Na verdade, eu não curtia nenhum embutido. E ele fez de propósito, mesmo que alegasse ter pedido para o atendente não colocar bacon. Mais uma briga e meu pai foi deitar com a Cíntia reclamando e brigando com a gente. O Gui queria assistir televisão e por isso ficou na sala com Rafael. Deitei na minha cama e fiquei remoendo toda aquela besteira que estava acontecendo. Eu já estava irritada de ficar irritada o tempo todo. Não queria aquilo, principalmente sabendo que a intenção do meu pai era que interagíssimos amigavelmente nessa viagem e estávamos fazendo todo o contrário. Mas às vezes eu sentia que o Rafael tinha a idade do Gui e isso me deixava muito brava. Qual era o prazer dele em me irritar? Tudo bem, eu tinha que admitir que era um prazer mútuo. E ele ficava bem bonitinho quanto se irritava. Ai meu Deus. Eu não pensei isso. Eu não pensei isso. Levei um susto como se tivesse sido pega no flagra com a porta abrindo e o Rafael entrando com o meu irmão no colo. Levantei para puxar as cobertas e ele deitou o Gui na cama, saindo do quarto. Depois de cobri-lo e regular o aquecedor, deitei e dormi também.
Levantei de madrugada novamente para beber água. Eu tinha esquecido de pegar uma garrafinha novamente e eu sempre acordava com sede de noite. Fui até a cozinha, dessa vez sem fazer barulho nenhum e depois de pegar meu copo, me servir e beber, me virei para voltar para a cama e levei o maior susto do mundo quando percebi que tinha alguém atrás de mim. Eu era a maior medrosa de madrugada, lembrava de todos os filmes de terror que já tinha visto na vida e outros tantos que não tive coragem de ver mas minha imaginação tinha feito o favor de criar. E eu ODIAVA levar sustos. Sei que ninguém curte se assustar, mas eu ficava muito abalada mesmo, me dava umas sensações horríveis, tanto que eu não curtia nem brinquedos radicais. Aquela palpitação do coração, descompassado e batendo com força, chegava a doer. Me segurei para não gritar, mas fechei os olhos e comecei a dar socos em quem quer que estivesse ali. A pessoa me segurou pelos braços e claro que era o Rafael, porque eu só parei de bater quando ele falou comigo.
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Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]
Teen FictionISADORA "Dentre tantas mulheres no mundo, meu pai tinha que escolher ficar justo com a mãe do garoto mais insuportável da face da Terra. Como uma mulher tão legal quanto a Cíntia, havia gerado um ser assim irritante? O Rafael me tirava do sério, me...