[8] RAFAEL

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Ajudei, subindo com o irmão dela no colo para que ela não precisasse fazer isso. Não tinha muita certeza se ela tinha força para carregá-lo, já que ele estava dormindo. Colocamos ele na cama e saímos do quarto sem fazer barulho. Logo ela entrou na cozinha e eu fiquei parado sem saber o que fazer. Pensei se eu deveria ir embora enquanto ela estava sumida. Não faria a mínima diferença para ela mesmo. Quando ela retornou, perguntou se eu estava com fome. A verdade é que eu estava faminto. Na hora que eu havia resolvido pedir uma pizza, minha mãe me ligou e eu acabei não comendo nada desde então. Eu respondi que não, porque tinha certeza que ela não se importaria de fazer nada ou de me dar nada para comer. Só esperava que ela não escutasse meu estômago roncando. Quando saísse dali eu passaria em algum drive thru. Quando eu finalmente disse que estava pensando em ir embora e fui olhar as horas no telefone, lembrei que havia recebido uma mensagem. E era minha mãe dizendo para fazer companhia para a Isadora até eles chegarem. Meu instinto me fez balançar a cabeça em desespero. Não ficaria ali. De jeito nenhum. Ela concordou na mesma hora quando eu disse que iria embora. Mas então ela pareceu envergonhada e me agradeceu por tê-la ajudado. E isso me fez ficar com pena dela, por todo o estresse que ela tinha passado naquela noite. Me agradecer era algo que eu realmente não esperava que ela fizesse. Quer dizer, no mínimo da educação, eu esperava, mas nunca acreditei que ela engoliria o próprio orgulho para isso. Pensei que talvez ela não quisesse ficar sozinha depois de tudo que havia acontecido. Então falei sobre a mensagem da minha mãe. E ela pareceu ter levado um choque. Mudou totalmente de atitude. Abriu a porta, quase como se estivesse me expulsando da casa e aquilo me deu muita raiva. Isso que a gente recebe em troca ao tentar ser legal com gente que não merece. Por um segundo, quando ela me agradeceu, eu acreditei que ela fosse mudar o tratamento para comigo, mas eu estava enganado. Com o meu próprio orgulho ferido, eu precisava me recuperar. Disse que não ficaria de qualquer jeito, que estava cansado e ainda acrescentei que ela era a culpada por estragar a noite de todo mundo. Eu sei, às vezes, eu sabia ser mesmo um babaca. Mas é que aquela garota despertava o pior de mim.

Entrei no carro com raiva e dirigi até o primeiro drive thru disponível àquela hora da madrugada. Comprei meu lanche e fui para casa, mastigando as batatas pelo caminho. Ao chegar em casa, comi meu sanduíche e fui direto para a cama. Não lembrei nem de tirar os tênis, de tão cansado que eu estava.

Acordei agradecendo muito por ser feriado. Se fosse um dia normal, eu com certeza teria ido para a faculdade em pedaços, ou nem teria ido. Por isso quando acordei e olhei para o relógio vendo que já era quase hora do almoço, eu sabia que tinha dormido muito, mas eu estava precisando. Cheguei na cozinha e minha mãe estava terminando de fazer o almoço. Sentei com a cabeça na mesa, ainda meio sonolento e desejei bom dia.

- Bom dia. – Ela me respondeu meio ríspida e eu tive que levantar a cabeça para olhar para ela. Não estava entendendo. – Eu posso saber porque você não ficou com a Isadora ontem? Eu não te pedi? – Ixi, droga.

- Ela não quis. – E eu estava mentindo por acaso? Ninguém precisava saber que eu não tinha insistido. – Quando eu falei que ficaria com ela, ela abriu a porta de casa e me colocou para fora.

- Acho um pouco difícil de acreditar nisso. – Minha mãe me olhou, arqueando a sobrancelha. – Até porque ela disse que foi você que não quis ficar. – O quê??? Ela ia me pagar. Isso sim era mentira. Em momento nenhum ela disse que queria que eu ficasse.

- Mentira!!! Eu já te disse, mãe. Essa garota me odeia.

- Deixa de bobagem.

- E além do mais, como você sabe que ela disse isso? – Perguntei intrigado, embora fosse óbvio que ela e o Sérgio já houvessem conversado naquela manhã.

Ele e Ela [Os Dois Lados da História] [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora